Justiça condena personal trainer por tentar aplicar golpe em joalheria de shopping e atropelar segurança durante fuga em SP


Caso foi registrado em dezembro de 2022; Andrea Zaude apresentou um falso comprovante de transferência bancária para retirar encomenda no valor de R$ 13,4 mil. Personal foi condenada a 3 anos e 11 meses de reclusão em regime inicial fechado, 7 meses e 15 dias de detenção em regime inicial semiaberto, e 5 dias-multa. Ándrea Zaude é réu por atropelamento em shopping de SP
Reprodução/Redes sociais
A Justiça condenou a quase 4 anos de prisão a personal trainer Andrea Luciana Zaude por tentar aplicar um golpe de mais de R$ 13 mil em uma joalheria de um shopping da Zona Norte de São Paulo, além de atropelar um segurança durante a fuga.
O caso foi registrado em 26 de dezembro de 2022. Na época, Andrea apresentou um falso comprovante de transferência bancária para retirar uma encomenda na loja. Ela fugiu do local, mas foi presa depois que policiais militares identificaram seu veículo (veja mais sobre a ocorrência abaixo).
A sentença, em primeira instância, é do juiz Carlos Eduardo Lora Franco, da 3ª Vara Criminal de São Paulo, do dia 27 de agosto. Conforme a decisão, Andrea foi condenada pela tentativa de estelionato, lesão corporal grave e por fugir do local do acidente.
A pena dada é de 3 anos e 11 meses de reclusão em regime inicial fechado, 7 meses e 15 dias de detenção em regime inicial semiaberto, e 5 dias-multa.
Contudo, ainda conforme a sentença, já está “deferida a progressão da reclusão para o regime semiaberto, dado o tempo de prisão cautelar, podendo iniciar o cumprimento do restante da pena neste regime”.
“Tendo, ao final, respondido solta, a ré poderá assim apelar, ficando mantida apenas a cautelar de comparecimento mensal e de manter seu endereço atualizado, necessária até o início da execução, ficando revogadas as demais”, afirmou o juiz.
O g1 tenta contato com a defesa de Andrea.
Tentativa de estelionato e atropelamento
Personal trainer atropela segurança de shopping em SP ao fugir de golpe em loja de joias
A tentativa de golpe e atropelamento de um segurança foi em dezembro de 2022. Andrea apresentou um falso comprovante de transferência bancária para retirar uma encomenda na loja de joias do shopping Center Norte, informou o Departamento Estadual de Investigações Criminais.
Funcionários da joalheria perceberam que o mesmo esquema foi utilizado por ela outras 11 vezes, e a segurança do shopping foi acionada.
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Durante o inquérito policial, a representante da loja de joias disse que foi vítima em outras situações que Andrea fez falsos PIX no total de R$ 38.392 de prejuízo.
Na fuga, usando um carro utilitário de luxo Jeep Compass, a personal trainer acabou atingindo um dos seguranças que tentava impedir a saída do shopping.
Carro usado pela a personal trainer Andrea Luciana Zaude, durante fuga na Zona Norte de São Paulo.
Divulgação/DEIC
Uma equipe da Rota foi avisada sobre a confusão no shopping e avistou a fuga de Andrea pela Rua Voluntários da Pátria.
Apesar dos avisos luminosos e sonoros da viatura, ela ainda tentou se desvencilhar da equipe, mas foi detida na Rua Amaral da Gama, no bairro de Santana.
Histórico de casos
A personal trainer Andrea Luciana Zaude, acusada de estelionato e de tentativa de homicídio na Zona Norte de São Paulo
Divulgação
O g1 verificou dezenas de boletins de ocorrências abertos desde 2011 contra Andrea. Os crimes vão desde furtos de combustíveis — quando abasteceu e fugiu sem pagar — até carimbos com assinaturas de médicos falsificadas.
O mais recente foi registrado em São Roque, interior paulista, em março deste ano. A administração de um hotel da cidade procurou a polícia para denunciar a personal trainer após ela fugir sem pagar pela hospedagem.
Conforme o boletim de ocorrência, ao deixar o hotel, a recepcionista entregou a conta no valor de R$ 5.135,56. A personal teria discordado do valor e solicitado um abatimento do consumo, alegando que não pagaria. Dias depois, após o registro na delegacia, Andrea efetuou o pagamento.
Veja abaixo o levantamento dos registros policiais contra Andrea:
2011
Em outubro de 2011, em Santana, na Zona Norte de São Paulo, na Avenida Luis Dumont Vilares, um frentista contou que a motorista pediu para abastecer R$ 103 e fugiu. Policiais militares que estavam na área tentaram segui-la, mas não conseguiram achá-la.
Depois de analisarem as imagens de câmeras de segurança, outro funcionário a reconheceu como sendo a autora de um caso semelhante de calote realizado no estabelecimento em outro dia.
Já em Barueri, na Grande São Paulo, em dezembro de 2011, mais um furto de combustível registrado: o frentista conseguiu anotar a placa e verificou com outros conhecidos o mesmo tipo de crime com o carro, na época.
2015
Em maio daquele ano, em Alto de Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo, uma farmácia vendeu medicamentos controlados via delivery para pagamento com cartão de crédito. No local, o cartão teria dado problema, e o prejuízo ficou para o vendedor.
2018
Com a adesão de um seguro saúde em 1º de janeiro de 2018, Andrea passou a ter direito a reembolso de despesas e consultas. Para que isso acontecesse, ela tinha que enviar o recibo ou a nota fiscal assinada pelo médico prestador de serviço comprovando a consulta.
O departamento de combate a fraudes do convênio suspeitou do que chamou de “divergência de padrão” e fez um dossiê.
“Num intervalo de 15 dias ela realizou os mesmos exames, numa mesma clínica, com os mesmos diagnósticos e valores apresentados. O valor foi de R$ 6.082.76. A única divergência de um laudo para o outro são as datas”, diz o documento.
As clínicas que teriam emitido os comprovantes foram comunicadas e negaram ter feito os atendimentos. O prejuízo ao convênio foi de R$ 24.130.
Como não foi apresentada a documentação original para ser periciada e comprovada fraude por meio de laudo pericial, o Ministério Público pediu o arquivamento em fevereiro de 2022. A Justiça aceitou em abril, mas com possível reabertura com novas provas.
No Itaim Bibi, na Zona Sul de São Paulo, em julho de 2018, um médico declarou que Andrea foi sua paciente até 2014. Anos depois, o ortopedista recebeu um e-mail em que eram solicitados recibos de reembolso de sua clínica.
O médico não reconheceu os recibos, e o sobrenome dele estava grafado de forma incorreta. Neste caso, o carimbo falso foi usado em pedidos de exames em laboratórios, solicitações de acupuntura, fisioterapia e prescrição de remédios controlados.
Em agosto de 2018, mais uma médica afirmou ter sido vítima do mesmo golpe. A otorrinolaringologista não havia atendido Andrea, mas teve o nome usado em uma tentativa de recebimento de reembolso por consulta médica.
Um ginecologista e um endocrinologista também registraram casos parecidos em 2018 envolvendo a personal.
2019
Em março de 2019, em Campinas, no interior do estado, a representante de uma loja de produtos para animais disse ter vendido mais de 30 materiais para hipismo para a suspeita. A mercadoria foi entregue por Correios e motoboy em locais diferentes.
A vítima, conforme apurado, soube que ao menos cinco lojas de produtos para cavalos tinham sido alvo do golpe.
Em agosto daquele ano, um pet shop em Alphaville, na Grande São Paulo, também registrou ocorrência. A investigada entrou no estabelecimento como cliente e comprou produtos de cerca de R$ 1 mil. O cartão teria apresentado problema, e uma transferência teria sido feita. O dinheiro, no entanto, nunca caiu na conta da loja.
Em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, em outubro de 2019, a comerciante de uma loja para pets declarou que Andrea pegou aproximadamente R$ 500 em produtos e afirmou que faria o pagamento via transferência. Não o fez e afirmou, como em outras situações, que teve “problemas na conta bancária”.
A vítima verificou que uma farmácia e outro pet shop haviam caído na mesma história na cidade, à época.
Ainda em outubro daquele ano, na capital paulista, Andrea abasteceu seu carro com R$ 186, e o cartão novamente não passou. Ela afirmou que iria fazer uma transferência, agendou a transação, mostrou o comprovante, mas cancelou antes que o pagamento fosse executado.
No Natal de 2019, ela contratou um serviço de venda e montagem de árvore e enfeites natalinos (leia trechos das conversas entre a personal e a vendedora abaixo). O trabalho ficou em R$ 2.869. Andrea chegou a fazer DOC eletrônico, mas o valor nunca foi creditado à prestadora.
Em 17 de setembro de 2020, a Justiça de Barueri condenou Andrea a realizar o pagamento. Ela não compareceu às audiências.
2020
Em 2 de junho de 2020, um empresário no Jabaquara, na Zona Sul de São Paulo, registrou na delegacia que tinha alugado um carro para Andrea em abril de 2020.
A suspeita, segundo o documento, usou vários cartões de crédito para pagar o período de locação, mas o valor de R$ 9 mil não caiu na conta dos donos. A empresa que disponibilizou o veículo ainda teve a conta bancária temporariamente bloqueada por suspeita de fraude. O carro foi recuperado.
Em Barueri, em dezembro de 2020, uma academia registrou na delegacia que Andrea fechou um plano semestral. No entanto, o valor de R$ 11.304 pago via cartão de crédito foi contestado por ela no banco em seguida, deixando o prejuízo para o estabelecimento.
2021
O nome da suspeita aparece em outra ocorrência contra empresas em Barueri em maio de 2021. De acordo com o relato do proprietário, uma mulher se identificou como “Aline” e fez uma compra de cerca de R$ 500. Na ocasião, os produtos foram pagos com cartão de crédito em nome de um homem.
Por telefone, a suposta “Aline” disse que uma amiga passaria para pegar as encomendas na loja de materiais elétricos. Na sequência, o empresário soube que o dono da conta usada na negociação não havia adquirido nada.
Um administrador de empresas, em setembro de 2021, também em Barueri, fez um registro pela delegacia online. Ele explicou que alugou para Andrea um apartamento por 30 dias, e os problemas surgiram após a saída da inquilina.
A locatária procurou o banco para tentar sustar os pagamentos. Argumentou que não os reconhecia. Registros de entrada e saída, imagens de câmeras de segurança e cópia de documentos de Andrea durante o período foram guardados pela vítima para comprovar que ela havia sido a inquilina.
Na Consolação, no Centro de São Paulo, em outubro de 2021, a representante de um hotel em que a suspeita se hospedou por uma semana afirmou que Andrea deixou um prejuízo de R$ 32 mil, entre alimentação e hospedagem. Ela desocupou o quarto e não voltou para quitar o débito.
Em dezembro de 2021, uma fisioterapeuta de Santana, em São Paulo, procurou a polícia para informar um suposto crime de estelionato. Segundo o boletim de ocorrência, Andrea a procurou para colocar joias de ouro na orelha.
Foi realizada a perfuração e comprada também a compra de outras peças, sendo uma concha de ouro branco e quatro brincos. Tudo foi avaliado em R$ 5.557,50. O pagamento via Pix foi agendado para outro dia.
A vítima afirmou que não percebeu no ato que o comprovante encaminhado era para outra data, mas que esperou chegar o dia, e o dinheiro não caiu na conta. A empresária disse que falou com Andrea, que teria dito que “não cairia mesmo (o pagamento) por problemas na conta corrente”. A cliente teria, então, apresentado um cartão de crédito em nome de outra pessoa, o que não foi aceito.
No mesmo mês, Andrea frequentou um salão de beleza na cidade de São Paulo por ao menos quatro dias e pagou pelos serviços prestados. No mesmo espaço, ela comprou R$ 1.373 em semijoias, mas o pagamento não foi confirmado. Na delegacia, a vítima verificou que no nome da suspeita havia vários outros registros similares.
2022
Uma empresária de São Paulo contou à polícia que alugou em abril de 2020 um imóvel para Andrea, por meio de um aplicativo. Durante um ano, o valor era de R$ 4.500 ao mês, mas ela atrasava o pagamento, segundo a proprietária. Dois boletins de ocorrência foram registrados à época.
Além da falta de pagamento, a investigada teria usado um cartão de crédito em nome da proprietária do imóvel e também alugado um carro de luxo. Uma correspondência com a CNH da vítima tinha chegado ao apartamento depois de um pedido de renovação do documento, e os dados teriam sido usados nos supostos crimes.
Ainda em abril deste ano, outro boletim foi registrado em São Lourenço da Serra, na Grande São Paulo, por estelionato.
O gerente de uma loja de produtos para animais contou que, por várias vezes, Andrea fez compras com cartões de crédito em nome de outras pessoas. Geralmente, ela comprava rações para cães, gatos, cavalos, petiscos, xampu e vitaminas.
O funcionário soube do suposto crime quando recebeu uma mensagem pelo Instagram. Segundo ele, um homem de Minas Gerais reclamou que duas compras de quase R$ 7 mil não tinham sido feitas por ele.
Dias depois, Andrea tentou fazer novas compras no estabelecimento, e o gerente chamou a polícia. Ela se negou a entregar o celular e a mostrar os cartões.
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