Aurora e Eraldo Rodrigues chegaram a escrever uma carta de despedida para o filho, inclusive com dados bancários, para caso não fossem resgatados. O diário escrito pelo casal brasileiro perdido no Atacama do Chile
Presos numa nevasca por cinco dias. Sem comunicação, com pouca comida, e sem saber se conseguiriam socorro. O Fantástico conversou com o casal brasileiro que viveu um drama a 20ºC abaixo de zero, no Chile.
Divididos entre a angústia e a esperança, Aurora e Eraldo Rodrigues foram anotando tudo o que estavam sentindo, num ensaio de carta de despedida que só agora resolveram mostrar.
“Eu pensei: ‘Nós vamos morrer mesmo.’ Até que a gente acabou escrevendo na agenda. Nós escrevemos os dados para os nossos filhos, conta de banco, onde está a escritura da casa”, conta Eraldo.
“Para nosso filho, Rafael Valentin Rodrigues… Se essa carta chegar em suas mãos, é porque fomos encontrados”, diz a carta.
“No momento, aguardamos que o tempo melhore e que alguém passe por aqui, mas, se nossa viagem aqui na Terra terminar neste local, gostaríamos que você vivesse a sua vida, se recordando dos bons momentos em família.”
A história que a Aurora e o Eraldo deixaram escrita para o filho aconteceu em Copiapó, na parte chilena do deserto do Atacama, a 3.600 quilômetros de Resende, no estado do Rio de Janeiro, onde eles moram.
Era a comemoração da aposentadoria do Eraldo. Depois de atravessar a Argentina, o casal chegou ao Chile no dia 14 de agosto. Quatro dias depois, eles começaram a cruzar os Andes de volta para casa.
“Nos primeiros 180 km, não tinha nenhum sinal de neve. E aí nós fomos subindo. Dali a pouco, começamos a encontrar um pouquinho de neve na pista”, relata Eraldo.
De repente, o casal foi surpreendido pela nevasca. “A gente só vê coisa branca na frente, e aquele vento que parece que vai virar o carro. É apavorante”, diz Eraldo.
Casal ficou cinco dias em abrigo no Chile
TV Globo/Reprodução
O carro do casal atolou e os dois encontraram um abrigo próximo ao local, onde ficaram até serem resgatados, cinco dias depois.
“A gente abaixava, levantava, fazia alguns movimentos para manter o corpo um pouco aquecido, né? E aí eu penso que a maior superação lá, além da física, é a mental”, afirma Aurora.
Depois de um tempo, os alimentos que o casal havia levado acabaram. “A gente tinha água ainda, só que estava congelada, então a gente tentava quebrar o gelo para comer gelo”, conta Eraldo.
Preocupados com a falta de notícias, o filho Rafael e a esposa foram até o Chile. As autoridades faziam buscas, até que o carro do casal foi encontrado atolado, a 4.700 metros de altitude, num local onde só se via neve.
No carro, havia um papel com o aviso de que Aurora e Eraldo estavam no abrigo. Eles foram resgatados e enfim se encontraram com o filho e a nora, na base militar.
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