Foram 1.783 focos de incêndio. Quantidade registrada em setembro já ultrapassa o total de focos do primeiro semestre do ano, entre janeiro e junho, de 1299. Segundo pesquisador do Inpe, 99,9% dos incêndios foram provocados. Imagens aéreas mostram incêndio em Bananal, SP
O número de focos de incêndio detectados por satélite no estado de São Paulo nos primeiros 15 dias de setembro é oito vezes maior do que o registrado no mesmo período de 2023.
De 1º a 15 de setembro de 2023 foram 215 focos
De 1º a 15 de setembro deste ano foram 1.783
Aumento é de 729%.
A cidade com mais focos foi São Carlos, com 69 registros, seguida por Ituverava (50 focos), Morro Agudo (47 focos), Mococa (45 focos) e Santo Antônio do Aracanguá (45 focos). Todas no interior do estado.
Os focos de setembro já ultrapassam o número registrado no primeiro semestre do ano. Entre janeiro e junho, foram 1.299 focos.
Segundo Luiz Eduardo Oliveira e Cruz de Aragão, pesquisador do Inpe, os números de 2024 bateram o recorde de 2010, quando foi registrada a maior quantidade de focos desde a série histórica, iniciada em 1998. Em 2010, no mesmo período, foram 5.783 registros.
Mais de 7 mil focos no ano
O Inep consolida os dados de focos por semana, considerando todos os meses de 2024. Até domingo foram registrados 7.193 focos de incêndio. Até 25 de julho, eram 1.649 focos no total.
Em agosto, os números explodiram: na semana de 19 a 25 de agosto foram 2.835 focos, representando 41% do total registrado pelo Inpe no estado. De 26 de agosto a 1º de setembro caíram para 306, mas a partir de 2 de setembro voltaram a aumentar:
Entre 2 a 8 de setembro foram 630 focos
de 9 a 15 de setembro foram 977
Os números de setembro totalizam 1.783 porque no dia 1º foram registrados 176 focos.
Em comparação com o mesmo período de 2023, houve um aumento de 441%. Foram 1.328 focos registrados.
Por que tantos focos?
Produtor rural observa incêndio consumir uma plantação de cana-de-açúcar perto de Dumont, no interior de SP (24 de agosto)
Joel Silva/Reuters
Segundo Luiz Eduardo, o crescimento dos números de focos de incêndio, principalmente neste ano, estão atrelados a seca, mudanças climáticas e, claro, pessoas colocando fogo na mata.
“Olhando para a série histórica, agosto, setembro e outubro são os meses com maior número de focos. Isso porque são os três meses que estão relacionados com o pico da estação seca. Além disso, temos a seca mais severa já registrada no país, que é uma consequência de uma seca que veio do ano de 2023, causada pelo Niño. Essa seca se estendeu ao longo da estação seca até a estação chuvosa. Então na estação chuvosa, tivemos chuva muito abaixo da média e não foi suficiente para hidratar o solo”, afirma.
A estação seca de 2023 se juntou com a de 2024 e as vegetações naturais do país, por falta de hidratação, ficaram mais secas do que o normal.
Incêndio consome área de preservação ambiental em Botucatu (SP)
Reprodução/Acontece Botucatu
“Isso já permite que quando haja um fogo, essas florestas e vegetações nativas fiquem mais vulneráveis para a impulsão do incêndio em uma área. Temos ainda a questão das mudanças climáticas globais, que tem aumentado ano a ano a temperatura da Terra, no ano de 2024 tivemos recordes de temperatura no planeta e no continente sul-americano a temperatura é cerca de 2ºC acima da média de longo prazo. Então é seca, temperatura alta e pessoas colocando fogo”, completa.
Luz Eduardo ainda cita a fragmentação florestal, que é um fenômeno que ocorre por conta do processo de desmatamento que fragmenta a área. Geralmente essa área é substituída por pastagem, onde é utilizado fogo para limpar e renovação de pasto.
“Essa fragmentação é um processo acumulativo e aumenta o número de bordas florestais – que é a região de contato entre a vegetação natural e áreas produtivas. Quando coloca-se fogo nas áreas produtivas para limpar pastagem – o clima está seco, a temperatura está alta – tem mais possibilidade do fogo entrar na floresta”, completa.
99,9% dos focos causadas pelo homem
Vista aérea mostra incêndio em uma plantação de cana-de-açúcar perto da cidade de Dumont, interior de SP (24 de agosto)
Joel Silva/Reuters
Ainda segundo Luiz, 99,9% dos focos de incêndio são causados por humanos.
O pesquisador explica que a maior parte de incêndios naturais são causadas por raios, mas como estamos em uma época do ano sem chuva, sem formação de nuvens para ocorrência de raio, as fontes de ignição do fogo são humanas. No estado de São Paulo, por exemplo, segundo ele houve muita queimada em áreas agrícolas, principalmente de canavial queimado, mesmo sendo proibida durante o dia a queima de cana.
“As pessoas esquecem, mas no ano de 2010 já passamos por uma seca parecida, mas em 2024 vai ser pior porque o mundo mudou, nós estamos vivendo em um local completamente afetado pelas mudanças climáticas. É um planeta mais quente, que gera eventos extremos com maior frequência. O que precisamos entender é que o planeta não aceita mais o uso do fogo como ferramenta barata de manejo da terra – qualquer evento de ignição pode causar danos de grande proporção”, afirma Luiz.
Ainda segunda Luiz, existe uma ausência de fiscalização e punição para pessoas que causam os focos de incêndio.
“Os problemas causados pelas mudanças climáticas não estão mais longe das pessoas como antes. A gente sente o problema agora, estamos cozinhando sem sentir que estamos cozinhando. Mas o problema chegou, bateu na porta e aí temos que realmente tomar ações para tentar reverter. O que acontece esse ano, provavelmente vai acontecer nos anos seguintes e a tendência é que seja cada vez pior”.