Risco de suicídio entre crianças e adolescentes é 21% maior do que entre jovens adultos, aponta Fiocruz


Dados são de 2022, os mais recentes disponíveis. Aumento foi identificado entre pessoas de 10 a 19 anos e compara a faixa etária dos jovens adultos, com entre 20 e 29 anos. Em 2022, a chance de indivíduos de 10 a 19 anos provocarem a própria morte foi 21% maior do que entre jovens adultos
Adobe Stock
Um levantamento da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que a probabilidade de casos de suicídio entre adolescentes no país teve um crescimento maior do que em outras faixas etárias.
O estudo – obtido com exclusividade pelo g1 – mostra que, entre 2000 e 2022, foi registrado um aumento na proporção de suicídios em relação ao total de mortes em todos os grupos estudados. Porém, de acordo com os pesquisadores da Fiocruz, o aumento foi mais acentuado entre os mais jovens do que entre os adultos, sendo ainda mais expressivo entre as pessoas de 10 a 19 anos.
Em 2022, o risco de indivíduos de crianças e adolescentes (faixa de 10 a 19 anos) provocarem a própria morte foi 21% maior do que entre jovens adultos. Essa mudança ocorreu durante a pandemia de Covid-19, como ressaltam os autores do estudo.
A análise consta no Relatório Técnico “Adolescência e suicídio: um problema de saúde pública” e foram baseadas em dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Brasil (SIM/SUS).
Os pesquisadores analisaram a proporção de suicídios entre as mortes nos seguintes grupos etários:
adolescentes (10 a 19 anos),
jovens adultos (20 a 29 anos),
jovens (10 a 29 anos),
adultos incluindo jovens (20 anos ou mais), e
adultos excluindo jovens (30 anos ou mais).
Entre 2000 e 2022, o suicídio representou, em média, 4,02% das mortes entre pessoas de 10 a 29 anos. No grupo de 30 anos ou mais, ele foi a causa de 0,68% das mortes. Já entre adolescentes, o suicídio corresponde a 3,63% dos óbitos. Entre jovens adultos, a 4,21%.
A contribuição dos suicídios entre as mortes de adolescentes é menor do que entre jovens adultos, mas essa diferença diminuiu ao longo do tempo, pois o crescimento entre os adolescentes foi maior.
A probabilidade de suicídio entre adolescentes e jovens adultos se igualou em 2019 e, desde então, tornou-se mais desfavorável para os adolescentes.
Em 2022, o risco de indivíduos de 10 a 19 anos provocarem a própria morte foi 21% maior do que entre jovens adultos. Tal mudança ocorreu durante a pandemia de Covid-19, de acordo com os autores do estudo.

Questões contemporâneas
“Embora hoje as taxas entre adultos sejam maiores, a taxa entre adolescentes cresce mais rápido. Não tem epidemia de suicídio. O que tem é uma tendência de crescimento que aponta o momento exato para a intervenção de políticas públicas. Se não houver, aí sim, em 20 anos chegaremos a algo preocupante”, afirmou Raphael Guimarães, um dos autores do estudo.
Atualmente, as políticas nacionais voltadas para os adolescentes fazem parte de um conjunto que inclui as crianças, mas o país tem hoje mais adolescentes do que crianças.
Guimarães considera importante apontar ações prioritárias com foco nos adolescentes especificamente, tendo o suicídio como uma das pautas importantes.
“É uma janela que se abre para a gente conseguir consolidar uma linha de cuidado com estratégias de prevenção para esse grupo. Eu penso que o foco da política pública deve ser colocado principalmente nas ações de promoção da saúde. Essa questão do suicídio do adolescente está muito na falta de perspectiva de futuro e isso inclui questões econômicas, sociais, políticas, incertezas sobre o futuro no longo prazo, a questão do desemprego, dessa fluidez do mercado de trabalho, da formação profissional. Todas essas questões para o adolescente pesam muito. É preciso tratar essa questão como evento social e não biológico”, destaca Guimarães.
Outro alerta feito pelo estudo é sobre a relação dos dados com a mudança do perfil demográfico do país, caracterizado pela redução da população jovem e aumento da população idosa.
Suicídio: existe algum sinal? Como prevenir e conversar com meu filho sobre o tema?

Adicionar aos favoritos o Link permanente.