O que os candidatos à Prefeitura de SP querem fazer com a tarifa de ônibus congelada em R$ 4,40 desde 2020


Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB) falaram sobre os planos para o transporte público da cidade a partir do próximo ano e como vão fazer para reduzir o subsídio público às empresas de ônibus, que em 2023 chegou a R$ 5,6 bilhões. Usuário do bilhete único na cidade de São Paulo.
Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo
Congelada em R$ 4,40 desde janeiro de 2020, quando sofreu o último reajuste, o preço da tarifa de ônibus é uma das principais preocupações dos paulistanos para os próximos anos.
Em 2024, por ser ano eleitoral, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) optou por manter o mesmo valor da passagem dos anos anteriores, mesmo com o preço das viagens de trens e Metrô terem sido reajustados para R$ 5 pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
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O congelamento dos preços tem obrigado a Prefeitura de SP a elevar o total de subsídio aplicado anualmente no sistema de ônibus. Em 2023, a gestão municipal desembolsou R$ 5,6 bilhões do orçamento municipal para o pagamento complementar às empresas de ônibus.
Neste ano, esse valor já passa de R$ 4,47 bilhões até agosto, segundo a SPTrans. A empresa municipal diz que sem o subsídio o valor da tarifa na capital paulista seria de R$ 11,62.
“Entre janeiro e agosto de 2024, a Prefeitura investiu R$ 4,47 bilhões no sistema de transporte por meio de compensação tarifária, garantindo inclusive benefícios como a gratuidade para idosos. Sem o subsídio, o valor da tarifa seria de R$ 11,62. A tarifa do ônibus em São Paulo está congelada há 4 anos no valor de R$ 4,40, como forma de tornar o transporte público ainda mais acessível. Além disso, o programa Tarifa Zero permite o transporte gratuito em toda a cidade aos domingos. A pandemia de Covid-19 também influenciou diretamente nos custos do sistema, com a redução na demanda e, consequentemente, na arrecadação”, afirmou.
O g1 perguntou aos principais candidatos à Prefeitura de São Paulo e checou nas declarações à imprensa e nos planos de governo o que eles pretendem fazer com a tarifa de ônibus em 2025 e nos próximos quatro anos, caso sejam eleitos prefeito da cidade.
As respostas estão em ordem alfabética:
Guilherme Boulos (PSOL)
Gulherme Boulos (PSOL) dá entrevista a O Assunto como candidato à Prefeitura de São Paulo no estúdio do g1
Fábio Tito/g1
O candidato do PSOL descartou aumento da tarifa de ônibus, congelada em R$ 4,40 desde 2020 durante os quatro anos de mandato à frente da Prefeitura de São Paulo, caso seja eleito.
Segundo Guilherme Boulos, a ideia da futura gestão é rever os contratos atuais com as empresas de ônibus e enxugar o valor que já é pago de subsídio pelos cofres municipais às empresas de ônibus para bancar o congelamento da passagem.
“Não vai ter aumento de tarifa no meu governo. Fui estudar os contratos de ônibus da cidade de São Paulo e fiquei perplexo e enojado com eles. O subsídio cresceu muito, pode chegar a R$ 6 bilhões. É praticamente o dobro do que era o subsídio há três ou quatro anos atrás. Dobrou. E o número de viagens feitas reduziu em 20%. Só o aumento do diesel e do custo de rodagem, não explica isso em hipótese alguma. Como é que a gente tá pagando o dobro e recebendo 20% a menos”, disse Boulos em sabatina da Folha de S.Paulo e do UOL.
“Nós vamos passar a limpo esses contratos de ônibus. E aí, é possível fazer um recalculo do subsídio a partir disso. Porque hoje, não há nenhum tipo de fiscalização eficaz. As empresas fazem o que querem, inclusive algumas empresas com ligação direta com lavagem de dinheiro do crime organizado, debaixo do nariz do Ricardo Nunes. (…) É um escândalo hoje a relação da prefeitura de SP com as empresas de ônibus. Eu vou fazer auditoria desses contratos e, aí, a gente vai conseguir fazer um recalculo do subsídio e abrir essa caixa preta e fazer um recalculo que permite melhorar o serviço”, explicou.
O candidato do PSOL diz que a ampliação da tarifa zero dentro dos bairros vai se dar gradualmente.
“Fazer a ampliação gradual da tarifa zero do subsistema local – que é o que a gente quer implementar – com custo de R$1,5 bilhão por ano. E por isso não vamos aumentar tarifa para poder implementá-la. Por isso vai ser de uma maneira gradual, inclusive estimulando a revisão da frota que as empresas e a atua prefeitura foram absolutamente refratárias para a transição pra frota elétrica”, afirmou.
José Luiz Datena (PSDB)
José Luiz Datena (PSDB) é entrevistado por O Assunto como candidato à Prefeitura de São Paulo, no estúdio do g1
Fábio Tito/g1
O candidato do PSDB também não fala em aumentar o valor da tarifa em São Paulo e repete a campanha inteira que a cidade não pode continuar pagando subsídios altíssimos às empresas de ônibus.
José Luiz Datena afirma que vai cobrar “um preço justo” pela tarifa na cidade e exigir que as empresas sejam mais pontuais e melhorem a qualidade dos ônibus que circulam na capital.
O tucano também cogita revogar o ‘Domingão Tarifa Zero’, criado por Ricardo Nunes (MDB) no final do ano passado, segundo ele, de forma eleitoreira, e repassar esse valor para o que ele chama de ‘bilhete social’, onde as pessoas que ganham bolsa família e estão cadastradas no Cadúnico não pagariam tarifa.
“O bilhete social será um benefício pra todo mundo que é cadastrado no Bolsa Família vai pagar apenas o que é justo [no transporte]. Aí sim: tarifa zero para quem tem bolsa família. Justiça social. Quem ganha bolsa família não vai pagar a passagem. A passagem hoje, apesar de subsidiada, é um subsídio muito caro. E nós temos que ter a contrapartida. O negócio do transporte público de SP é muito bom. Tanto que há 60 anos só três famílias dominam o negócio do transporte público de SP, as empresas e garagens”, disse Datena em agenda de campanha nesta segunda-feira (9).
“O bilhete social é a contrapartida para o que esses caras levam [em subsídios]. Só neste ano devem ser R$ 5,1 bilhões. É dinheiro demais. Isso tem que voltar para o povo de alguma forma. Não pode ficar só no lucro das empresas. Elas têm que oferecer ônibus melhores, que passem no horário certo e uma tarifa justa. Quando se fala em congelamento de tarifa, é ter uma tarifa justa. Quando você dá tarifa zero com ônibus caindo aos pedaços, que demora pra passar e nas periferias nem ônibus passam por lá… A gente quer tarifa zero pra quem precisa e realmente vive em situação de dificuldade: pobreza e extrema pobreza”, defendeu.
Pablo Marçal (PRTB)
Pablo Marçal (PRTB) é entrevistado por O Assunto como candidato à Prefeitura de São Paulo, no estúdio do g1
Fabio Tito/g1
Embora não tenha colocado nenhuma proposta sobre tarifa no plano de governo registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha de Pablo Marçal (PRTB) afirma que o candidato também pretende manter a tarifa congelada em R$ 4,40 por quatro anos, caso vença o pleito.
A informação foi dada pelo coordenador do programa de governo do PRTB, Filipe Sabará, que afirmou que, para manter o mesmo valor durante os próximos quatro anos, a futura gestão de Marçal fará uma revisão geral de contratos da atual administração de Ricardo Nunes (MDB).
“Manteremos R$ 4,40 por 4 anos, revisando contratos gerais de Prefeitura (não somente de transporte) e economizando com outros gastos da péssima administração atual da Prefeitura”, disse.
Sobre a alta dos subsídios pagos para as empresas – que podem se acentuar ainda mais com mais 4 anos de congelamento da tarifa – Sabará afirma que a futura administração terá que mergulhar nos custos do setor para avaliar a questão.
“Vamos avaliar quando chegarmos à Prefeitura, pois as informações não estão transparentes. O subsídio [pago atualmente] pode chegar em R$ 7 bilhões, de acordo com alguns dados. Para tomar decisão nesse sentido teremos que ter as informações mais precisas”, declarou.
Ricardo Nunes (MDB)
Ricardo Nunes (MDB) é entrevistado por O Assunto como candidato à Prefeitura de São Paulo, no estúdio do g1
Fabio Tito/g1
O candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) afirmou, durante sabatina do UOL com a Folha de S. Paulo no dia 6 de setembro que, caso seja reeleito, não garante que a tarifa de ônibus não sofra aumento na cidade nos próximos anos porque há outros fatores envolvidos.
“Falar que vou manter sem aumento à frente, eu não posso garantir, porque tem inflação, e se tiver uma explosão [preço] de diesel? Vou ficar como mentiroso?”, respondeu.
Nunes ainda disse, durante a sabatina, que vai fazer uma análise para ver se os R$ 4,40 da passagem se mantêm.
“Vamos fazer uma avaliação do dissídio, do aumento do diesel e da arrecadação para definir a questão da tarifa. Sou o único prefeito que manteve a tarifa por quatro anos sem correção e sem abrir mão da responsabilidade fiscal”.
Quando Bruno Covas assumiu a prefeitura em 2018, a tarifa foi para R$ 4. O último reajuste foi durante sua gestão, em janeiro de 2020, quando alcançou os R$ 4,40. Ao longo do mandato de Ricardo Nunes, o valor da passagem permaneceu o mesmo, sem sofrer alterações.
Tabata Amaral (PSB)
Candidata Tabata Amaral (PSB) é entrevistada por ‘O Assunt’o como candidata à Prefeitura de São Paulo, no estúdio do g1
Fábio Tito/g1
A candidata Tabata Amaral (PSB) também se comprometeu a manter a tarifa do ônibus “congelada” durante o tempo de seu mandato, caso seja eleita.
Questionada sobre o tema durante sabatina do UOL com a Folha de S. Paulo, a deputada federal foi enfática em seu posicionamento.
“Vou manter, já disse inúmeras vezes. A gente vai fazer essa conta fechar combatendo a corrupção, redesenhando as linhas, recompondo o uso correto do Fundurb [Fundo de Desenvolvimento Urbano], explorando publicidade nos pontos, nas paradas, nos terminais de ônibus”, explicou.
Tabata também se mostrou favorável à manutenção da tarifa gratuita aos domingos: “Tenho compromisso em manter a tarifa zero aos domingos, mas fazendo algo muito mais interessante, que é fazer linhas especiais pros domingos. Já falei, não dá para ter tarifa zero de segunda a sábado”.
Apesar dos posicionamentos, a candidata não fala sobre os temas em seu plano de governo.
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