Documentos históricos de Luiz Gama são reconhecidos como Patrimônio da Humanidade pela Unesco


Poeta, jornalista e advogado, Gama articulou pela libertação de mais de 500 escravizados. Luiz Gama conseguiu sua alforria antes dos 18 anos e frequentou como ouvinte as aulas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Documentos históricos de Luiz Gama são reconhecidos como Patrimônio da Humanidade pela Unesco
TV Globo
Documentos históricos de Luiz Gama, um dos maiores abolicionistas do Brasil, foram reconhecidos “Patrimônio da Humanidade” pela Unesco-América Latina.
Luiz foi poeta, jornalista e advogado do século 19. Em junho de 2021, a Universidade de São Paulo (USP) concedeu para ele título de Doutor Honoris Causa, sendo o primeiro título dado a um brasileiro negro desde sua criação.
Desde 1992, a Unesco promove a seleção de documentos fundamentais para a preservação da memória global. E no mês de dezembro, a organização divulgou uma nova lista e incluiu um conjunto de manuscritos assinados por Luiz Gama.
VÍDEO: Saiba quem é Luiz Gama, 1º negro brasileiro Doutor Honoris Causa da USP
O historiador Bruno Rodrigues de Lima se dedicou a estudar tudo que Luiz Gama fez. E foi ele quem encontrou, transcreveu e divulgou um livro de Gama escrito há mais de 150 anos e que ajuda a entender a história de São Paulo e do Brasil.
“Esse livro é um Patrimônio da Humanidade porque nós temos um escrivão de polícia negro em São Paulo recebendo na sala do delegado de polícia centenas de africanos que têm essa verdade ao seu lado: nasci na África, fui contrabandeado e no Brasil há uma lei que proíbe o tráfico transatlântico de seres humanos. Essa lei tem que valer. É esse o pensamento do escrivão de polícia que convence o delegado Furtado de Mendonça a abrir um livro de registro dos africanos emancipados”, explica Bruno.
E acrescenta: “Então, o Luiz Gama vai dizer: ‘esses africanos são africanos, ninguém pode duvidar da palavra deles, onde eles nasceram’. E uma vez que ele prova que essas pessoas são africanas, ele vai ligar com o marco normativo da proibição do tráfico transatlântico e vai dizer ‘segundo essa lei jamais poderíamos ser considerados escravizados. Como eles são africanos aqui a prova’. E Luiz Gama, como escrivão, vai anotar nome, traços físicos, vai individualizar cada uma dessas pessoas”.
Documentos históricos de Luiz Gama são reconhecidos como Patrimônio da Humanidade pela Unesco
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Luiz Gama passou a usar todas as brechas legais e argumentos jurídicos para defender a liberdade de pessoas que haviam sido escravizadas.
Uma das estratégias era analisar a idade dos escravizados africanos e conseguir provar que eles haviam chegado ao Brasil depois de alguma lei que proibiu o tráfico de pessoas. Quase sempre essas leis não saiam do papel. E o trabalho do Luiz mudou isso.
“Luiz Gama vai ouvir a história dessa pessoa, vai comprovar que é africana, vai relacionar isso ao marco normativo da proibição do tráfico transatlântico e vai anotar e escrever uma carta de emancipação que se torna uma carta de liberdade, e vai garantir que aquela pessoa que foi traficada não será mais tratada como escravizada”.
Uma cópia desses registros está no Arquivo Público de São Paulo. Só em um caderno estão registradas a liberdade de 212 pessoas.
Além das cartas de emancipação, outros documentos escritos por Luiz Gama fazem parte do acervo de processos judiciais em que ele atuou pela defesa de escravizados. Os artigos de jornal de autoria dele também receberam o título de memória mundial.
Uma parte grande desses documentos já está digitalizada e pode ser acessada no site do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Outra opção é ir pessoalmente à Rua Voluntários da Pátria, 596, em Santana.
Doutor Honoris Causa
Luiz Gama, abolicionista
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O título foi proposto pela Congregação da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e aprovado por unanimidade, em reunião virtual, pelo Conselho Universitário da USP.
Antes dele, a universidade tinha concedido o título a um homem negro apenas uma outra vez, em 2000, quando foi homenageado Nelson Mandela, político e ativista da África do Sul. Além de Mandela, Luiz Gama é o único outro negro na lista de 120 homenagens deste tipo feitas pela universidade.
Quem foi Luiz Gama?
Um dos principais ativistas pela abolição da escravidão no país, Gama foi responsável pela libertação de pelo menos 500 escravos. Nascido em Salvador, em 1830, filho de uma escrava liberta com um descendente de portugueses, ele foi vendido como escravo pelo próprio pai quando tinha apenas 10 anos.
Na data da abolição da escravatura, o homenageado é o jornalista e advogado Luiz Gama
Mandado para São Paulo, Luiz Gama conseguiu sua alforria antes dos 18 anos e frequentou como ouvinte as aulas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, que atualmente faz parte da USP, mesmo após ter sido proibido de realizar seus estudos na instituição.
Além de ter utilizado seus conhecimentos jurídicos para, através da lei que extinguiu o tráfico negreiro, libertar gratuitamente pessoas escravizadas em várias províncias, Luiz Gama também foi poeta e escritor. Apenas 12 anos depois de ter aprendido a ler, ele publicou, em 1859, seu único livro, Primeiras Trovas Burlescas.
Gama também foi colaborador de diversos jornais da época, com artigos publicados em periódicos de São Paulo e também da então capital Rio de Janeiro.
Arquivo: conheça a vida do abolicionista Luiz Gama
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