Contato com água das enchentes pelo país pode provocar doenças; saiba quais os sintomas e como se proteger


Estudos já mostraram que em períodos de chuva mais frequente, como no verão, a qualidade da água piora. A presença de bactérias chega a aumentar em até quatro vezes. As águas que têm transbordado de rios e deslizado de encostas para inundar cidades brasileiras representam mais do que prejuízos e transtornos visíveis em toda parte. Elas são um perigo para os cidadãos não só nas enxurradas e nas casas soterradas, mas pelos microrganismos que ameaçam gravemente a saúde.
A chuva é um problema tão frequente na viela em uma comunidade da Zona Sul de São Paulo, que os moradores tentam fazer barreiras contra enchente: degraus mais altos. Lá também, a entrada tem uma proteção que é para tentar impedir que a água avance para dentro das casas.
As imagens que os moradores fizeram nas últimas chuvas mostram bem o que acontece por lá quando a tempestade vem. A água da enchente, o lixo que vem junto, a lama que fica depois.
“Cheiro é horrível. Aqui dá rato, barata. Olha o monte de pombo aí. São tudo coisas que dão doença”, diz a líder comunitária Ivanete Frederico de Almeida.
O contato com essa água pode, sim, provocar várias doenças. Maria, mãe da Maria de Fátima Pinheiro, tinha 68 anos e morreu por causa da leptospirose.
“Ela foi pegar no colchão que estava molhado e tudo e teve contato com água da enchente. Ela tinha umas aberturas, umas rachaduras no dedo, então ela teve contato. E ali foi de imediato”, conta a cozinheira escolar Maria de Fátima Pinheiro.
Contato com água das enchentes pelo país pode provocar doenças; saiba quais os sintomas e como se proteger
Jornal Nacional/ Reprodução
Na Universidade de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, os pesquisadores medem no microscópio a contaminação dos rios da região que transbordam nas enchentes. Na água, eles já encontraram milhares de microrganismos nocivos para as pessoas como protozoários, vermes, bactérias e fungos – que provocam de diarreia, vômitos, problemas na pele, infecção urinária e doenças respiratórias.
“De uns três anos para cá, nós estamos percebendo, por exemplo, a presença de ovos de schistosoma, aquele que dá barriga d’água. E um outro achado que foi muito preocupante, que inclusive a gente fez até a notificação, é do cólera – o vibrião do cólera que foi encontrado em rios, em córregos”, diz Marta Marcondes, professora e pesquisadora na Universidade Municipal de São Caetano do Sul.
Em um freezer estão armazenadas amostras coletadas entre o fim de 2024 e janeiro de 2025. Os estudos já mostraram que em períodos de chuva mais frequente, como no verão, a qualidade da água piora. A presença de bactérias chega a aumentar em até quatro vezes.
O infectologista Ralcyon Teixeira diz que é possível se prevenir antes das enchentes, tomando vacinas contra hepatite A e tétano, por exemplo. A limpeza da casa deve ser feita com água sanitária e usando botas de borracha. Quem entrar em contato com a enchente deve prestar atenção nos sintomas.
“Geralmente, as doenças começam a aparecer até uma ou duas semanas. Mas a gente precisa ficar de olho até um mês, porque as doenças podem aparecer em todo esse período”, explica Ralcyon Teixeira, infectologista do Instituto Emílio Ribas e da Sociedade Brasileira de Infectologia.
A dona de casa Cristina Gislene da Silva procurou logo um posto de saúde quando teve os primeiros sintomas da leptospirose. Conseguiu combater a doença antes que ela se agravasse:
“Tomei medicamento na veia. Aí que eu fui melhorando. Tem que tomar cuidado porque isso é muito grave, muito sério”, diz.
A Prefeitura de São Paulo disse que faz periodicamente a limpeza dos córregos mostrados na reportagem e que, em 2024, retirou 196 mil toneladas de entulhos.
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