Se o álbum concorrente ‘Milton + Esperanza’ é assinado pelo artista brasileiro com Esperanza Spalding, por que foi recusado ao cantor o direito dado à parceira na criação e gravação do disco? Esperanza Spalding protesta pelo fato de Milton Nascimento não ter podido sentar ao lado dela na cerimônia do 67º Grammy Awards
Reprodução / Instagram Esperanza Spalding
♫ OPINIÃO
♩ É absurdo e inaceitável a forma desrespeitosa como Milton Nascimento foi tratado pela organização da 67ª edição do Grammy Awards.
Como denunciou nas redes sociais Esperanza Spalding, com quem o artista brasileiro gravou o disco que concorria ao Grammy 2025 na categoria Melhor álbum de jazz com vocal, foi negado a Milton um assento nas mesas do salão principal da cerimônia realizada em Los Angeles (EUA) na noite de domingo, 2 de fevereiro.
Como forma de protesto, a cantora, compositora e contrabaixista norte-americana foi ao Grammy com um cartaz com a foto de Milton em que lia-se “This living legend shoud be seated here”. Em bom português, “Esta lenda viva deveria estar sentada aqui”.
Esperanza Spalding está coberta de razão. Milton – que foi aos Estados Unidos para a cerimônia de entrega do 67º Grammy Awards – deveria ter direito a um assento na mesa de Esperanza não somente pela importância do artista na música brasileira e em antenados nichos musicais dos Estados Unidos (sobretudo na área do jazz), mas pelo simples motivo de que ele assina o álbum Milton + Esperanza de igual para igual com Esperanza Spalding.
Milton não é um convidado de Esperanza no disco lançado em agosto de 2024. Ao contrário: Milton é a razão da existência do álbum pela obra que encanta Esperanza. Logo, se foi dado um assento a Esperanza Spalding, por que foi negado a Milton o mesmo direito?
Se a ambos os artistas tivessem sido negados assentos no Grammy 2025, ainda assim seria um absurdo, mas pelo menos haveria igualdade no tratamento dispensado a Esperanza e a Milton. Mas qual a razão de recusar a Milton um lugar ao lado de Esperanza se o álbum concorrente é dos dois?
Cabe lembrar que Milton inclusive já venceu um Grammy Awards em 1998 na genérica categoria Melhor álbum de world music pelo disco Nascimento (1997). E que, em 1974, o cantor gravou álbum com o compositor e saxofonista norte-americano Wayne Shorter (1933 – 2023), Native dancer, lançado no início de 1975.
Aos 82 anos, Milton Nascimento já personifica uma entidade da música. Uma lenda viva, como ressaltou Esperanza Spalding no cartaz do protesto.
O álbum Milton + Esperanza perdeu o Grammy 2025 para o disco A joyful holiday, de Samara Joy, mas isso é do jogo. A regra do jogo violada na cerimônia é a recusa do assento a um concorrente com o peso, a história e obra de Milton Nascimento. Por tal desaforo e descortesia, a organização do Grammy Awards fica devendo um pedido de desculpas públicas a essa lenda viva da música do Brasil.