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Segundo o Grupo Santa Casa, a equipe médica trocou soro por substância de limpeza no AME de Taquaritinga. Profissionais envolvidos foram afastados dos cargos. Moradoras de Matão que perderam visão em mutirão de catarata vão pedir indenização
“Na hora que o médico puxou o adesivo do olho, eu gritei de dor, doeu a cirurgia inteira. Ele [médico] colocou três gotas de anestésico e disse: ‘o que está acontecendo que tá todo mundo reclamando de dor?’”.
O relato é da salgadeira Maria de Fátima Garcia Chiari, de 75 anos, de Matão (SP), uma dos 12 pacientes que ficaram cegos após um mutirão de cirurgias de catarata no Ambulatório de Especialidades Médicas (AME) de Taquaritinga (SP).
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A equipe médica trocou o soro por clorexidina, uma substância que faz limpeza de pele, mas que não pode entrar em contato com os olhos. Os profissionais foram afastados dos cargos.
Seis pacientes são de Matão e pelo menos três vão acionar a Justiça e pedir indenização por danos morais, materiais e estéticos. A idosa Maria de Fátima e Evanusa Aureliano e Silva aguardaram quase um ano para realizar a operação, porém e teve o olho direito afetado, fez transplante de córnea, mas a situação é irreversível.
“Os pacientes têm direito a indenização por danos morais, materiais e estéticos. Isso abalou muito eles. E, comprovado nos processos que ficaram sequelas definitivas, cabe até uma pensão mensal vitalícia para reparar e minimizar um pouco todo o sofrimento deles”, disse a advogada Marília Natália.
Idosa está com depressão após perder o olho direito em cirurgia de catarata no AME de Taquaritinga
EPTV
Equipe trocou soro por substância de limpeza
A cirurgia foi realizada no dia 21 de outubro de 2024 e após o mutirão os pacientes relataram perda parcial ou total da visão do olho operado, além de dor intensa, vermelhidão, e em alguns casos infecções graves e risco de perda do globo ocular.
“A médica do pós cirúrgico disse que não era nada, era só uma raspadinha na camada da córnea que não teria interferência com a visão e a gente acredita no profissional falando. Você perder um olho já é difícil, imagina a dor que tenho, ter que fazer injeção de anbitióbico na córnea para não perder o globo ocular. A situação está muito ruim, estou com depressão, não tenho mais vontade pra nada, acabou o ânimo”, contou a salgadeira emocionada.
Os procedimentos do AME foram administrados pelo Grupo Santa Casa de Franca (SP), uma Organização Social de Saúde (OSS) contratada pelo governo estadual.
O grupo confirmou ter constatado que, na hora de fechar o corte da cirurgia, em vez de um soro de hidratação, os profissionais utilizaram uma substância que serve para assepsia superficial de pele e mãos, por exemplo, mas não pode entrar em contato com os olhos.
“Meu olho afundou e o globo ocular ficou pequeno, faça mais transplante, colocar uma prótese ou em último caso tirar o globo ocular Mas não tenho mais esperança para voltar a enxergar”, disse a salgadeira.
A salgadeira Maria de Fátima Garcia Chiari ficou cega do olho direito após passar por cirurgia de catarata no AME de Taquaritinga, SP
Valdinei Malaguti/EPTV
O grupo afirmou que todas as informações foram entregues à Secretaria de Estado da Saúde e que afastou todos os profissionais envolvidos após as constatações.
“Em vez de seguir o procedimento correto, onde a clorexidina é utilizada para assepsia e o soro Ringer para o selamento da incisão , houve o acidente, no qual a clorexidina foi aplicada em substituição ao soro Ringer. Isso significa que no processo cirúrgico, a equipe médica-assistencial inverteu a ordem do uso dos produtos”, informou o o Grupo Santa Casa na terça-feira (11).
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Moradoras de Matão vão acionar a Justiça por indenização por danos morais, materiais e estéticos.
EPTV
A idosa trabalhava como salgadeira e agora tem dependido da filha e dos vizinhos para afazeres domésticos básicos.
Ela já passou pelo transplante de córnea porque corria o risco de perder o globo ocular direito.
“Meu marido é aposentado, ganha pouquinho. Eu fazia salgado, vendia, já tinha os lugares certos pra entregar, mas agora eu não posso nem chegar na beira do fogão, nem fazer um arroz”, disse.
A salgadeira também contou que frequentou o AME de Taquaritinga por três meses, ainda acreditando em uma possível melhora.
“Começaram a me mandar a ir todos os dias no AME, eu ia com combustível próprio e não cobriram nada. Falaram que eram 15 dias, depois um mês, três meses. Mas a visão só ficou um vulto e com borrões. Perdi a visão e fiz transplante de córnea”, disse.
Entenda o caso
Em outubro do ano passado, 23 pacientes de cidades do interior de São Paulo, como Matão, Santa Ernestina (SP) e Ibitinga (SP), passaram por cirurgias de catarata no AME de Taquaritinga. Alguns pacientes disseram que não sabiam que se tratava de um mutirão e que aguardavam há anos pelo procedimento.
Após a cirurgia, alguns deles começaram a sentir dor, sendo que alguns perceberam o desconforto quando ainda eram operados. Os sintomas eram dor intensa, vermelhidão e visão embaçada.
Nas consultas pós-operatório no dia seguinte, os pacientes relataram que a visão estava pior, mas alegam que foram orientados pelos profissionais de que a situação era normal e que estariam totalmente recuperados em até três meses.
Em novembro de 2024, após o agravamento do quadro de saúde, uma reunião foi realizada entre 12 pacientes identificados com problemas na visão e o AME.
De acordo com os idosos, eles foram encaminhados para serviços de referência em oftalmologia na Santa Casa de Araraquara (SP) e no Hospital das Clínicas (HC) de , onde parte deles recebeu a notícia que a situação era irreversível.
Segundo a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, as complicações de uma cirurgia de catarata são raras e o procedimento é bastante seguro. A cirurgia de catarata é um procedimento para restabelecer a visão do paciente, prejudicada pela calcificação do cristalino, que é a lente natural do olho humano.
“A catarata é um processo natural do olho, que vai acontecer em todos, em pessoas mais jovens de 30 / 40 anos, e inclusive, existe a congênita. Mas o comum é a catarata senil, que é mais frequente após os 60 anos. O olho começa a ficar opaco, embaçado, e não adianta usar óculos. A cirurgia é simplesmente “trocar a lente do olho”, para efeito de focalização”, finalizou o médico oftamologista Gustavo Paro.
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