Especialistas avaliam o impacto dos incêndios para o meio ambiente

Nos 8 primeiros meses de 2024, o fogo destruiu uma área equivalente a 10 milhões de campos oficiais de futebol – 70% era mata nativa. Quase metade dessas queimadas aconteceu em agosto. Especialistas dizem que o Brasil precisa se preparar para enfrentar os desafios das mudanças climáticas
A repórter Graziela Azevedo mostra que avaliação os especialistas fazem para o futuro: o que o Brasil precisa fazer para se preparar e enfrentar os desafios das mudanças climáticas?
É a desolação da terra arrasada que vem depois do fogo. E ele é traiçoeiro. Uma brasa que fica e o inferno pode voltar. Só nesta sexta-feira (13), depois de 11 dias de combate, os brigadistas conseguiram controlar o fogo que destruiu cerca de 120 hectares do Parque Estadual de Itapetinga, no leste de São Paulo. O estado perdeu até agora mais de 370 mil hectares para as chamas. Isso é quase duas vezes a área da capital.
“A chance de reignição está muito alta porque a umidade relativa do ar continua muito baixa”, explica o brigadista da Simbiose Ian Iordanu.
Em boa parte do Brasil, a luta contra o fogo continua e a contabilização dos prejuízos também. Nos oito primeiros meses de 2024, o fogo destruiu uma área equivalente a 10 milhões de campos oficiais de futebol, 70% era mata nativa. Quase metade dessas queimadas aconteceu no mês de agosto.
Ameaçado de extinção, segundo o Ministério do Meio Ambiente, o Pantanal teve mais de 1,2 milhão hectares consumidos pelos incêndios. Segundo dados do MapBiomas, a região Amazônica foi a que mais sofreu: perdeu 5,4 milhões de hectares para os incêndios que aconteceram principalmente em Mato Grosso, Roraima e Pará.
O fogo afeta também a biodiversidade, como explica Marcos Rosa, do MapBiomas.
“Esse calor elevado é muito ruim para o Pantanal. A diversidade tanto da flora quanto da fauna, é uma mortandade muito grande de espécies. Rios secando e peixes morrendo também”, afirma Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas.
A natureza levou milhares de anos para formar os biomas, as matas nativas que queimaram e ainda estão queimando no Brasil. Trazer de volta o verde para as áreas devastadas será um desafio gigantesco e vital também.
Segundo o presidente do Ibama, além de 3,7 mil brigadistas, há 700 fiscais que estão trabalhando em investigações para localizar e punir culpados por incêndios criminosos. Ele lembra que o uso do fogo está proibido no país; disse que as áreas queimadas deverão ser protegidas.
“As áreas que foram incendiadas intencionalmente, o Ibama deve fazer o embargo dessas áreas para que essas áreas se recuperem”, afirma Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama.
Será preciso, também, união e preparação para enfrentar os desafios das mudanças climáticas.
“Muitas propriedades privadas ainda precisam organizar os seus brigadistas. Eu não tenho dúvidas que, em muitos estados, o Corpo de Bombeiros também vai precisar se preparar para os incêndios florestais. Então é um desafio de toda sociedade”, diz Rodrigo Agostinho.
Os eventos climáticos extremos eram previstos para algumas décadas adiante, mas pouco foi feito pelo meio ambiente e as mudanças climáticas chegaram antes do esperado por cientistas como Carlos Nobre. Ele diz que será preciso um enorme esforço para zerar o uso do fogo na agricultura, eliminar a emissão dos gases do efeito estufa e tocar um grande processo de restauração.
“Se nós realmente não tocássemos mais e não deixássemos mais essa explosão de fogo, a floresta ela vai se recuperando. Mas tem muitas áreas muito desmatadas, altamente degradadas. Aí sim, ali nós temos que acelerar a restauração da floresta, reflorestamento em grande escala. Nós temos que fazer isso na Amazônia, no Cerrado, no Pantanal, muito na Mata Atlântica também”, diz Carlos Nobre.
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