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Projeto foi desenvolvido ao longo de cinco anos e demandou a criação de um dicionário de gestos de todas as regiões do Brasil. Investimento foi de R$ 10 milhões. Programa desenvolvido pelo Cesar traduz Língua Brasileira de Sinais (Libras) para o português simultânea
Reprodução/Cesar
Um tradutor simultâneo de Libras desenvolvido pelo Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar) promete dar mais acessibilidade para pessoas surdas e com deficiência auditiva. A ferramenta de Inteligência Artificial demandou cinco anos de pesquisa e desenvolvimento e uma equipe de cerca de 180 pessoas do Cesar e de instituições parceiras.
O projeto Libras envolveu a Inteligência Artificial Generativa (I.A. Generativa) para criar um sistema capaz de reconhecer gestos humanos e traduzi-los para a língua portuguesa, ou para qualquer outro idioma, também fazendo o contrário: traduz palavras, frases e expressões do português para a linguagem de Libras.
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A ferramenta, desenvolvida para a empresa Lenovo, recebeu um investimento de cerca de R$ 10 milhões durante cinco anos e está em fase final de testes (veja mais abaixo).
Dicionário de gestos brasileiros
Para possibilitar que um avatar, literalmente, converse com seres humanos em tempo real, em português e na linguagem de sinais, os pesquisadores precisaram, primeiro, criar uma espécie de dicionário de gestos das várias regiões do Brasil.
Esse vocabulário foi ensinado à Inteligência Artificial – para que pudesse fazer a tradução em tempo real.
“A partir de um vídeo – com qualquer câmera, webcam de computador, mesmo com a qualidade não sendo muito boa – é possível captar a imagem de uma pessoa sinalizando em Libras e traduzir para o português, em tempo real. Da mesma forma, também traduz do português para o usuário, em Libras”, explicou ao g1 o gerente de dados do Cesar, Vitor Casadei, que liderou o projeto pela instituição pernambucana.
Casadei, que é especialista em IA generativa, explicou que o sistema foi treinado em Libras (Língua Brasileira de Sinais), mas a tecnologia pode identificar qualquer linguagem de sinais, configurando-se como um tradutor de gestos e imagens para a linguagem escrita.
A intenção do projeto é possibilitar que a população surda e com deficiência auditiva consiga se comunicar, inicialmente, com sistemas de atendimento em tempo real, sem intermediários humanos, mas com a mesma desenvoltura de atendimento que seria oferecido por um ser humano.
“O programa pode fazer qualquer informação em português ser exibida para um avatar com aparência humana e que é capaz de sinalizar e testar essa comunicação em duas vias com o usuário em tempo real. Na prática, o usuário não precisa de intérprete, nem saber português. Essa tecnologia também pode ser usada para as mais diversas aplicações, como bancos, caixas eletrônicos, hospitais, farmácias”, detalhou Vitor Casadei.
Ele lembrou que já existem sistemas que oferecem atendimento em Libras pela internet, mas nestes outros casos é necessário que o usuário conheça a língua portuguesa, ou esperar que um intérprete humano se conecte e faça a interação.
Público-alvo enfrenta dificuldades no dia a dia
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem mais de 10 milhões de pessoas com algum tipo de surdez no Brasil. Destas, pelo menos 2,1 milhões nasceram com surdez profunda.
“A comunidade surda não é pequena. E as pessoas surdas não necessariamente sabem português. A própria surdez acaba dificultando o aprendizado da língua, porque a gente aprende muito pela fala. Então muitas pessoas surdas não sabem o português”, destacou Vitor Casadei.
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O pesquisador detalhou que a Lenovo trouxe a ideia para o Cesar desenvolver e agora o projeto está em processo de homologação interna pela empresa para que seja colocado em uso.
O gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Lenovo, Daniel Rezende, revelou que a ideia surgiu numa reunião com a equipe, quando uma desenvolvedora de software fluente em Libras e que atua como voluntária na igreja que frequenta explicou as dificuldades que a comunidade surda enfrentava no cotidiano.
“Ela desafiou a equipe para que a gente criasse uma ferramenta para a comunidade surda. Esse projeto acumulou o custo não apenas voltado para o desenvolvimento, mas também para a gravação dos sinais. Porque para treinar a máquina, a gente teve que criar esses dados. Foi um custo estimado em R$ 10 milhões durante o período de cinco anos”, detalhou Daniel Rezende.
Rezende completou que a tecnologia foi desenvolvida, num primeiro momento, para solucionar uma necessidade da empresa de atender os próprios clientes. Depois, os empresários e pesquisadores identificaram um potencial maior para aplicar a ferramenta de Inteligência Artificial e expandir as possibilidades de uso do sistema.
Entre os potenciais ramo de aplicação estão os segmentos de bancos, educação, saúde e comércio.
“As ferramentas que existem atualmente não reconhecem gestos. A partir do momento que você interpreta o gesto, pode utilizar em qualquer área. Atualmente tem surgido novas demandas para tecnologias de atendimento ao cliente e o software vai funcionar como intérprete. Ter um intérprete disponível em vários locais é difícil e a ferramenta pode ser um meio de campo de vários setores”, disse o executivo da Lenovo.
Rezende explicou que o assistente virtual funciona atualmente como um chatbot, para o primeiro nível de atendimento, e que se essa etapa inicial não suprir a demanda do cliente, um ser humano precisa ser acionado para continuar o atendimento.
A intenção é que a ferramenta se firme e alcance uma nova etapa de desenvolvimento.
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