Jovem negro diz ter sofrido injúria racial de atendente do Habib’s em SP: ‘Você tem 157 nas costas?’


Ao g1, o artista Abrahão Costa contou que também teve dificuldades em receber atendimento policial após o episódio. Grupo Habib’s informou que afastou imediatamente funcionários envolvidos no caso. Jovem diz ter sofrido injúria racial em unidade do Habibs em SP
Reprodução/Instagram
Um jovem negro disse ter sido vítima de injúria racial por parte de uma atendente do Habib’s na Vila Madalena, na Zona Oeste de São Paulo, no último sábado (7).
Ao g1, o artista Abrahão Costa contou que estava com amigos em um rodízio no restaurante, encontrou uma esfirra estragada e foi reclamar com a funcionária. A mulher, então, disse que cobraria uma taxa de desperdício, já que o grupo se recusou a continuar comendo.
Inconformado, o jovem questionou a cobrança — que, de fato, é prática abusiva, segundo o Código de Defesa do Consumidor.
Durante a discussão, a atendente teria dito: “Você tem 157 nas costas, né?”
O número faz referência ao artigo 157 do Código Penal, que descreve o crime de roubo.
“Ela falou isso e só saiu. Foi o momento em que eu comecei a perguntar: ‘Você está me chamando de ladrão? Está falando que eu tenho 157 nas costas?’ Aí os meus amigos me tiraram, me levaram para a frente do estabelecimento. Foi o momento em que, imediatamente, liguei e acionei o 190”, contou Abrahão.
Em seguida, ele e o amigo Glaydson Nunes gravaram um vídeo relatando o episódio e o compartilharam nas redes sociais (veja abaixo).
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“Durante o momento em que a gente estava aguardando do lado de fora, a atendente estava debochando da situação e rindo. A gente conseguia ver ela, e ela conseguia ver a gente. Ela ficava toda hora olhando, rindo e debochando da situação”, relatou a vítima.
Procurado pelo g1, o Habib’s disse que afastou imediatamente os funcionários envolvidos no episódio. “Informamos que o Grupo Habib’s tomou conhecimento dos fatos e, de imediato, fez contato com o cliente e com a loja para apuração do relato e para devidas providências. Reiteramos que o Grupo Habib’s não tolera nenhum tipo de discriminação e mantém canais de compliance e demais ações que visam coibir tais atos”, disse a empresa em nota.
Omissão no atendimento policial
Abrahão contou que, após a ocorrência, teve dificuldade em ser atendido pela polícia.
“A 800 metros do restaurante tinha uma delegacia. Meu cunhado foi até lá e falaram que não podiam fazer nada, que não eram responsáveis pelo local, que não poderiam mandar uma viatura para lá por conta disso.”
“Liguei para a polícia e ficamos aguardando por pouco mais de 30 minutos. Primeiro, chegaram dois policiais em duas motos, ouviram o que eu tinha para falar e pediram para mostrar o vídeo. Eu mostrei, e ele pediu para mostrar para o outro policial que estaria chegando com a viatura, que era o responsável pela ocorrência”, contou.
“Quando esse policial chegou, ele veio até mim, pediu a documentação, pediu para que eu mostrasse o vídeo, e depois foi falar com a garçonete. Quando ele voltou, falou que não poderia fazer nada, que não tinha motivo para levar ela. Ele não registrou em ocorrência o que tinha acontecido, ele ficou o tempo todo me perguntando em qual lei que eu tinha lido, porque tudo se deu pelo fato da reclamação”, afirmou.
“Fizemos o BO online e, antes de irmos para casa, fomos para uma delegacia que registrava ocorrências em geral, que era responsável pela região. O delegado atendeu a gente e falou que os policiais deveriam ter registrado, sim, porque, além do crime de calúnia, poderia ter um crime de injúria racial, porque a atendente se direcionou a mim quando falou que tinha um 157, sendo que era meu amigo branco que estava falando com ela antes”, contou o artista.
Em relação à suposta omissão dos policiais, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que “qualquer reclamação quanto à conduta dos PMs pode ser formalizada na Corregedoria e será devidamente apurada”.
Sobre o episódio, a pasta disse que as partes foram ouvidas no local, e a vítima, orientada a registrar um boletim de ocorrência, que posteriormente foi feito na Delegacia Eletrônica.
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