Dentre as violências, 35% das moradoras de São Paulo sofreram assalto, furto ou sequestro relâmpago
e 30% sofreram importunação ou assédio sexual. Pesquisa foi feita pelo Instituto Patrícia Galvão e Locomotiva; 9 em cada 10 consideram importante dar prioridade ao tema da segurança das mulheres nas eleições municipais. Ônibus do transporte público da cidade de São Paulo
Saulo Dias/PhotoPress/Estadão Conteúdo
A ampla maioria das mulheres moradoras de São Paulo (76%) já sofreu algum tipo de violência durante seus deslocamentos pela capital, principalmente no transporte público, de acordo com pesquisa feita pelo Instituto Patrícia Galvão e Locomotiva, com apoio da Uber, obtida pelo g1.
Dentre as violências:
43% disseram que receberam olhares insistentes, cantadas
35% sofreram um assalto, furto ou sequestro relâmpago
30% sofreram importunação, assédio sexual
15% sofreram preconceito ou discriminação por alguma característica sua, exceto raça
12% sofreram racismo
9% sofrearam uma agressão física
4% sofreram um estupro
O percentual paulistano é um pouco maior do que a média nacional, de 71%.
A maioria das violências ocorreu quando as mulheres estavam no transporte público (ônibus e Metrô) ou caminhando pelas ruas de São Paulo.
Enquanto 26% das brasileiras consideram as ruas de sua cidade nada seguras, o percentual de mulheres que fazem essa avaliação negativa sobe para 48% em São Paulo.
“Em comparação com os resultados nacionais, as paulistas se destacam por perceberam a cidade como muito insegura e declararem em maior percentual que já sofreram violência no deslocamento. A partir de suas experiências de medo e de violência, as próprias mulheres apontam as principais deficiências nas políticas públicas que lhes causam insegurança, em especial a falta de policiamento e de iluminação e a má gestão dos espaços públicos”, diz Marisa Sanematsu, diretora de conteúdo do Instituto Patrícia Galvão.
“Sabemos que essas críticas não são novas, e a pesquisa mostra que até hoje são aspectos básicos da gestão urbana que impactam toda a população, não apenas as mulheres, são demandas antigas que nunca receberam de fato atenção do poder municipal”, completa.
A pesquisa “Vivências e demandas das mulheres por segurança no deslocamento” foi realizada de 21 de junho a 11 de julho de 2024, e contou com a participação de 4.001 mulheres com 18 anos de idade ou mais, que saem de casa ao menos uma vez por semana. Com margem de erro de 1,5 ponto percentual, a pesquisa foi ponderada a partir da distribuição da população brasileira por faixa etária, classe, escolaridade e área, conforme parâmetros da PNAD 2023.
Além de São Paulo, a pesquisa analisou Belém, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Salvador.
Situações de violência que a mulher de SP já passou durantes os deslocamentos
Reprodução/pesquisa Patrícia Galvão/Lomotiva
Fatores que contribuem com a insegurança
Falta de policiamento, ruas desertas e vazias, espaços públicos abandonados e falta de iluminação pública são os fatores apontados pelas mulheres de São Paulo que mais geram insegurança.
“As mulheres percebem que a sensação de insegurança deve-se à ausência de políticas públicas que poderiam tornar seu deslocamento mais seguro e apontam a ausência de policiamento e de iluminação e as ruas desertas como principais fatores que contribuem com a sensação de insegurança”, diz a pesquisa.
Falta de policiamento é mencionada por mais paulistanas do que por brasileiras: 64% x 56%.
64% ausência de policiamento
56% ruas desertas e vazias
55% falta de iluminação pública
55% espaços públicos abandonados
51% falta de respeito/agressividade das pessoas
47% falta de empatia/solidariedade
49% falhas no transporte público
31% o horário do deslocamento
Sete em cada dez mulheres consideram que iniciativas voltadas para transporte e infraestrutura, como a melhoria na iluminação pública, revitalização de espaços abandonados (praças, prédios, terrenos baldios etc.) e correção de falhas no transporte público, podem contribuir significativamente para aumentar a segurança nos deslocamentos urbanos.
Fatores que contribuem com a sensação de insegurança durante o deslocamento das mulheres paulistanas
Reprodução/Locomotiva/Patrícia Galvão
Segurança das mulheres deve ser prioridade
As mulheres reconhecem a responsabilidade das prefeituras na melhoria da segurança em relação aos riscos que enfrentam em seus deslocamentos pela cidade: 9 em cada 10 moradoras da cidade de São Paulo consideram importante dar prioridade ao tema da segurança das mulheres nas eleições municipais de 2024.
Medo
Além das ocorrências efetivas, as mulheres convivem com o medo de sofrer violência quando se deslocam pela cidade. 86% sentem muito medo.
Assalto, sequestro, estupro e assédio/importunação sexual são os principais temores das moradoras de São Paulo quando saem de casa e circulam pela cidade. Enquanto 66% das mulheres brasileiras declaram ter muito medo de sofrer um assalto, furto e sequestro relâmpago, entre as paulistas esse número chega a 76%.
Em São Paulo, 69% das mulheres disseram que têm muito medo de sofrer um estupro, número um pouco acima da média nacional de 66%.
59% das moradoras da cidade de São Paulo dizem ter muito medo de sofrer uma importunação / assédio sexual.
Políticas públicas
Na percepção das mulheres, canais de denúncia e acolhimento e campanhas de conscientização são as políticas públicas mais disponibilizadas em suas cidades, por outro lado, menor parcela declara que suas cidades contam com desembarque autorizado fora do ponto e vagões exclusivos em trens e metrôs. A maioria das mulheres brasileiras são favoráveis às políticas existentes ou acredita que elas deveriam ser implementadas em suas cidades.
“Esse estudo mostra que as mulheres sentem muito medo quando saem de casa, que esse medo tem a ver com suas experiências com a violência urbana e de gênero e que elas sabem quais iniciativas podem contribuir para aumentar sua segurança. Em especial, o levantamento revela que as brasileiras percebem que essas medidas são de responsabilidade do Estado, em especial da prefeitura de sua cidade. Por isso, elas também consideram que a segurança das mulheres no deslocamento deve ser um tema prioritário nestas eleições municipais”, afirma Jacira Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão.