Com acesso restrito, ilhas estão localizadas a 1.140 quilômetros da costa do Espírito Santo. Devido ao fuso horário, o Réveillon acontece 1h antes da maioria do Brasil. Ilha também guarda espécies exóticas de animais e importantes descobertas científicas. Ilha da Trindade fica a 1.140 quilômetros de Vitória, capital do Espírito Santo.
Divulgação/Marinha do Brasil
O arquipélago de Trindade é formado por várias ilhas que ficam no ponto mais distantes do continente. Ele está localizado a 1.140 quilômetros da costa capixaba, bem no meio do Atlântico Sul. Por ser um território de acesso restrito e controlado pela Marinha, o local ainda é pouco explorado e conhecido dos brasileiros, mas guarda espécies exóticas de animais e importantes descobertas científicas, como rochas formadas por plástico.
Para chegar à ilha, são necessários entre quatro e cinco dias de navegação. O desembarque é feito de bote ou de helicóptero. No local, existe um posto avançado que é de responsabilidade da Marinha, além de uma estação científica e um posto militar.
A Ilha da Trindade é considerada um tesouro para pesquisadores, já que é um território de formação vulcânica repleto de descobertas científicas com seres que só habitam a região, e também é berço de desova de tartarugas.
O g1 separou algumas curiosidades sobre esse arquipélago. Veja a seguir:
Ilha celebra Ano Novo uma hora antes da maior parte do país
Trindade também celebra a chegada do ano novo sempre primeiro do restante do país. Por lá, o fuso horário está à frente da hora oficial (horário de Brasília), assim como em Fernando de Noronha.
Ao todo, o Brasil possui quatro fusos horários. A ilha se encaixa no primeiro deles, que é válido também para o arquipélago Fernando de Noronha e outras ilhas atlânticas e é adiantado em uma hora em relação a Brasília.
Em entrevista ao g1, a mestra em geotecnia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Fabrícia Benda de Oliveira explicou que na ilha o Ano Novo chega “antecipadamente” por causa do fuso horário UTC-2.
“Esse fuso horário é o responsável por fazer com que a Ilha da Trindade seja o primeiro local do território brasileiro a entrar no Ano Novo”, explica Fabrícia.
A diferença de horário também acontece porque não temos, atualmente, o horário de verão em vigência no Brasil. Em 2024, chegou a ser discutida uma possível volta desse horário. Mas ele não foi aprovado pelo governo.
Se o horário de verão voltar, a diferença de horários entre o arquipélago e o restante do Brasil pode deixar de existir. Isso porque, como no horário de verão os relógios que seguem Brasília são adiantados em uma hora, a diferença com Trindade deixaria de existir nesse período.
“Durante o horário de verão, quando ele está ativo no Brasil, a diferença pode se reduzir ou desaparecer. Mas, atualmente, sem o horário de verão, a ilha permanece consistentemente à frente do continente”, disse a professora.
Veja quais são os quatro fusos horários brasileiros:
O primeiro, válido para o arquipélago Fernando de Noronha e outras ilhas atlânticas, é adiantado em uma hora em relação a Brasília.
O segundo inclui a capital federal, todo o litoral brasileiro e os estados interiores que não estão incluídos em outros fusos.
O terceiro, o Horário da Amazônia, tem uma hora de atraso em relação a Brasília. Ele abrange o Amazonas (exceto ao sudoeste), Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
E o quarto e último fuso, o Horário do Acre, abrange o sudoeste do estado do Amazonas e o Acre.
Pesquisadores descobrem rochas de plástico no arquipélago
Pesquisadores encontram rochas de plástico em ilha quase inabitada
Recentemente, uma pesquisa feita pela doutoranda do programa de pós-graduação em Geologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fernanda Avelar, descobriu várias rochas formadas de plástico no arquipélago.
A pesquisadora fazia um projeto de estudos costeiros nas ilhas oceânicas brasileiras desde 2017. Ela identificou as rochas formadas por plástico ao fazer uma coleta na Ilha da Trindade em 2019.
São pedaços de materiais que, jogados no mar, vão parar na região. Com o tempo, eles acabam criando rochas que, segundo a pesquisa, não são compostas apenas de materiais naturais, como minerais, mas também geradas pela poluição marinha, compostas principalmente por plástico.
“Fiquei uns dois meses na ilha realizando a coleta. Um dia, quando fui até o parcel [recife próximo à superfície] das tartarugas, uma região conhecida por ser a maior área de desova de tartaruga-verde no país, encontrei sedimentos esverdeados nas pedras próximas à praia. Realizei a coleta e, depois, levei para o laboratório para estudar e entender o que era esse material”, contou Fernanda.
Rochas de plástico se formaram na Ilha da Trindade
Reprodução/g1
No estudo, que é inédito no Brasil, os cientistas buscam entender a relação entre o homem e o meio em que vive, como as ações humanas transformam o meio ambiente e o impacto disso para as próximas gerações.
Após a análise, a geóloga identificou que o que estava atrelado às rochas era plástico, mais especificamente corda de pesca. O material é formado por pedaços jogados no mar, que são levados até a ilha pela ação das correntes marítimas.
A pesquisadora explicou então que, a partir disso, foi possível identificar que as rochas, antes só compostas por substâncias naturais como minerais, estavam sendo geradas pela poluição marinha, compostas principalmente por plástico.
As ocorrências encontradas na Ilha da Trindade são compostas por materiais naturais (minerais, conchas, fragmentos de rochas) e materiais plásticos (não-naturais).
“É fácil reconhecer uma rocha gerada a partir da ação do homem. É só identificar materiais visualmente artificiais, como o plástico, que é um material do nosso cotidiano de fácil reconhecimento visual”, disse a geóloga.
Rochas estão sendo formadas com resíduos de redes de pesca na Ilha da Trindade, que fica a 1.140 quilômetros de Vitória
g1
Os impactos para o meio ambiente podem ser graves, ameaçando, por exemplo, espécies de tartarugas e aves que se alimentam no local, e também espalhando o material para outras regiões.
Espécie exótica de peixe vive em Trindade
Outra curiosidade sobre Trindade é que pesquisadores também descobriram uma nova espécie de peixe. Trata-se do Acyrtus simon, espécie de peixe-ventosa que chamou a atenção pelas cores em tons de rosa e seu hábito de se fixar nos locais para não ser levado pela correnteza.
Peixe-ventosa foi descoberto na Ilha de Trindade e só pode ser encontrado por lá
Reprodução/Acervo pessoal
A descoberta foi feita pelos pesquisadores do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (USP) e do Laboratório de Ictiologia (IctioLab) da Ufes, em parceira com o Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da California Academy of Sciences, em colaboração com a Marinha do Brasil.
O artigo com a descoberta foi publicado no final de 2022 após muita análises e agora no final de julho pela Ufes.
O capixaba João Luiz Rosetti Gasparini, biólogo e especialista em peixes, foi um dos pesquisadores que participou de diversas expedições até a ilha para a descoberta da nova espécie.
“Em 1995, observei um exemplar. Já fui oito vezes para Trindade. Acho que, somando todas as viagens, eu fiquei quase 100 dias na ilha fazendo mergulhos científicos autônomos com cilindros. Mas só depois conseguimos mais exemplares e conseguimos realizar as comparações e investigações que possibilitaram descrever a espécie”, contou o biólogo.
Acyrtus Simon utiliza a ventosa para sobreviver a águas dinâmicas
Reprodução/João Luiz Gasparini
O Acyrtus simon, que teve esse nome em homenagem a Thiony Simon, doutor em biologia animal pela Ufes, que faleceu em um mergulho durante seu pós-doutorado, demorou vários anos para ser analisado e comparado com outros animais. O peixe foi coletado e ficou na coleção da Ufes, enquanto os pesquisadores iam buscando novas amostras.
O pequeno peixe de três centímetros fica no raso sempre perto dos recifes vulcânicos da ilha e tem uma ventosa que ajuda a sobrevivência na espécie no dinamismo do local.
“Ele tem uma adaptação morfológica no ventre, que a nadadeira pélvica dele é modificada como se fosse uma ventosa, por isso o nome peixe ventosa. Essa adaptação é para viver em ambientes com água mais dinâmica. Ele se fixa ao substrato, cola e, quando tem correnteza, não afeta ele. Ele fica ali paradinho”, explicou o especialista em peixes.
Praia das tartarugas na Ilha da Trindade é cercada por vegetação e rochas.
Reprodução/Yara de Mello
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