Mais de 10 mil brasileiros foram deportados durante governo Biden; Trump promete expulsão em massa de ilegais


Em outubro de 2019, Trump, durante seu primeiro mandato na Casa Branca, apertou o cerco contra os imigrantes ilegais, aumentando o fluxo de deportados brasileiros. Entre 2018 e 2020, 5.501 brasileiros foram expulsos dos EUA; já no governo Biden, entre 2021 e 2024 foram 10.464. Donald Trump caminha ao lado de muro que demarca a fronteira dos EUA com o México, no Arizona, em agosto de 2024.
Evan Vucci/AP Photo
,
No governo de Joe Biden, entre 2021 e 2024, 10.464 brasileiros foram deportados, segundo a Polícia Federal. A maioria deles chegou em voos fretados e desembarcaram no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na região metropolitana.
Em 2023 houve uma queda de mais de 50% no número de deportados (veja gráfico mais abaixo), justificada por especialistas pelo fim da lei norte-americana “Título 42”, regra anti-migração adotada durante a pandemia pelos Estados Unidos, país que mais deporta brasileiros. Mas depois, o número voltou a subir
A chegada quase semanal de brasileiros expulsos dos Estados Unidos começou em outubro de 2019, depois que Donald Trump, em seu primeiro mandato na Casa Branca, apertou o cerco contra imigrantes ilegais.
Naquele ano, o então presidente Jair Bolsonaro passou a permitir a entrada de aviões fretados com deportados brasileiros, o que não acontecia desde 2006. Essa medida facilitou o aumento do número de deportados. Entre 2018 e 2020 – governo Trump – 5.501 brasileiros foram deportados, segundo a Polícia Federal.
O governo Biden expulsou quase o dobro. Isso porque o então presidente americano não mudou a política de deportação de brasileiros.
Para a a doutora em Sociologia e Ciência Política da Univale e pesquisadora de migração, Sueli Siqueira, a deportação sempre fez parte da política migratória dos EUA, tanto em gestões democratas, quanto em gestões republicanas.
“Basta ver o que o Biden fez, vários aviões de deportados não só para o Brasil, mas para outros países da América Latina e da África. Esse discurso agrada a população americana e não vai mudar. O que pode acontecer é uma intensificação dessas deportações”, apontou Siqueira, se referindo ao mandato de Donald Trump.
O g1 perguntou ao Itamaraty sobre a continuidade da permissão de voos deportados pelo governo brasileiro e aguarda resposta.
Saiba os motivos por trás da queda brusca no total de brasileiros deportados em 2023 e do retorno por MG
‘Deportação em massa’
Nesta segunda-feira (20), Donald Trump tomou posse como presidente dos Estados Unidos prometendo medidas de combate à imigração ilegal, incluindo “a maior deportação em massa da história dos EUA”. Especialistas apontam, entretanto, que o cenário econômico será fator primordial para definir se essa política sairá do papel.
Trump anunciou que vai retomar políticas migratórias da época em que era presidente, entre 2017 e 2021. É esperado que ele declare a questão da imigração como uma emergência nacional, liberando recursos para ampliar a fiscalização e retomar a construção de um muro na fronteira com o México.
O presidente recém-empossado também deve enviar tropas para as fronteiras e dar mais liberdade aos agentes de imigração federal para prender suspeitos. O governo pretende acabar com programas que autorizam a entrada de estrangeiros por questões humanitárias.
Cerca de 11 milhões de pessoas vivem em situação irregular nos Estados Unidos, entre eles brasileiros. O republicano pretende lançar um programa de deportações em massa para resolver o problema.
Para Sueli Siqueira, se aplicadas, as medidas propostas pelo presidente vão encontrar um obstáculo que pode causar problemas para a economia norte-americana: a falta de mão de obra.
“Há uma grande demanda para atuar no mercado de trabalho secundário, que é onde o migrante geralmente vai atuar: não exige qualificação e nem domínio da língua, não é bem remunerado e não é muito desejado pelo nativo. Se essa grande demanda se mantém, o que normalmente acontece é um afrouxamento da política de deportação”, explicou a professora.
Para Siqueira, Trump deve promover deportações para cumprir uma promessa de campanha, mas a continuidade dessa política migratória depende do rumo que a economia vai tomar.
“Com todo esse discurso e o apoio que ele recebeu ao longo da campanha, ele deve, sim, promover deportações. Só não é possível saber se será tão diferente do que foi na gestão de Joe Biden”, completou.
Guga Chacra e Sandra Coutinho analisam principais trechos do discurso de posse de Trump
LEIA TAMBÉM: ‘Tratam como cachorro amarrado na corrente’: brasileiros deportados relatam experiência de imigração para os EUA
Brasileiros deportados dos Estados Unidos após desembarque no aeroporto de Confins
Rafaela Mansur/ g1
Minas Gerais
O Vale do Rio Doce, na Região Leste de Minas Gerais, é um dos principais polos migratórios para os Estados Unidos. Desde a década de 1960, famílias de Governador Valadares e de outras 54 cidades do entorno tentam entrar no país em busca de melhores oportunidades de vida.
Um exemplo disso é a influenciadora Virgínia, que nasceu em Danbury, cidade de Connecticut com forte presença da comunidade brasileira. A mãe dela, natural de Governador Valadares, foi uma migrante para os EUA.
“Uma crise na economia da região na década de 1960 motivou o fluxo migratório. Os primeiros que foram, 17 jovens de maior poder aquisitivo, com visto de trabalho e domínio do inglês, levaram outros, que depois levaram outros e assim sucessivamente. Na década de 1980, na crise da economia brasileira, a região já tinha uma comunidade sólida lá”, relembrou a pesquisadora.
O movimento migratório do Leste de Minas para os Estados Unidos é tão forte que hoje há várias famílias “transnacionais” — em que parte vive no Brasil e parte nos EUA.
Trump quer emplacar uma lei que acaba com a cidadania automática para pessoas nascidas nos EUA e que tenham pais em situação irregular.
“Independente de ser Trump ou Biden, o fluxo continua. Ao longo desses 50 anos, tem uma rede de migração sólida, que abarca vários fatores. A começar pelos contatos, de pessoas daqui que estão lá. Tem também uma rede de transporte de pessoas, um tráfico mesmo, que consegue formar grupos para fazer essa travessia. Além de uma rede de apoio por lá, de conhecidos que te buscam no aeroporto, que te arranjam um lugar para ficar, te dá as informações sobre o lugar e te arrumam um trabalho”, complementou Sueli Siqueira.
Em Governador Valadares, outdoors em apoio a Donald Trump e a Kamala Harris no período eleitoral dos EUA em 2024.
Sueli Siqueira/Acervo Pessoal
Não existem dados que estimam a quantidade de valadarenses nos Estados Unidos, uma vez que grande parte deles está irregular no país. Contudo, a preponderância de mineiros faz com que a maior parte dos voos de deportados cheguem pelo Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins.
No início deste ano, um voo com 100 deportados aterrissou no aeroporto de BH. Há a expectativa de que outro chegue ainda neste mês.
Vídeos mais assistidos do g1 MG
Adicionar aos favoritos o Link permanente.