Justiça declara morte presumida de trilheiro que desapareceu na Serra do Mar de SP em 2015


Kamal Robler Guster era de Santo André, ABC Paulista, e sumiu em 3 de maio de 2015 durante a travessia entre São Paulo e Itanhaém. Até hoje, nenhum objeto pessoal ou qualquer vestígio dele foi encontrado. Kamal Robles Guster, de 34 anos, desapareceu no dia 3 de maio
Arquivo Pessoal
A Justiça julgou procedente o pedido da família de Kamal Robler Guster, trilheiro de Santo André que desapareceu no dia 3 de maio de 2015 ao fazer uma travessia pela Serra do Mar (leia mais abaixo), e declarou sua morte presumida.
A decisão é da juíza Livia Santos Teixeira de Freitas, de Itanhaém, de 16 de janeiro deste ano.
“A data provável do falecimento é o dia do fato, qual seja, 3 de maio de 2015, dadas as circunstâncias do incidente (desaparecimento). Ante o exposto, julgo procedente o pedido formulado para declarar a morte presumida de Kamal Robler Guster”, afirmou a magistrada na decisão.
E ainda detalhou: “O art. 7º do CC/2002 [Código Civil] é expresso no sentido de que é possível declarar-se a morte presumida, sem prévia decretação de ausência, quando for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida, desde que esgotadas as buscas e averiguações”.
A sentença servirá como ofício para a família conseguir emitir a certidão de óbito em um cartório, que deverá ser em Santo André, local onde morava, ou na suposta área do desaparecimento, no litoral de São Paulo, em Itanhaém.
Mistério
Kamal desapareceu ao fazer a travessia entre a cidade de São Paulo e o litoral do estado pela Serra do Mar há 10 anos. Ele era de Santo André, no ABC Paulista, tinha 34 anos e integrava um grupo de 15 pessoas. Até hoje, nenhum objeto pessoal ou qualquer vestígio dele foi encontrado.
O caso foi investigado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Itanhaém, que ouviu testemunhas e abriu inquérito para tentar descobrir o que aconteceu. O caso foi relatado ao Poder Judiciário em 2017 e arquivado sem solução no mesmo ano pelo Tribunal de Justiça.
Foto de Kamal nas redes sociais
Reprodução/Facebook
Amigos que estavam na travessia foram ouvidos pelo g1 e afirmaram que, mesmo após o fim das buscas feitas pela polícia e pelos bombeiros, as ações foram mantidas por conhecidos por cerca de seis meses. Faixas foram colocadas na mata, indígenas foram informados e recompensas, oferecidas.
O explorador Divanei Goes de Paula, que fazia parte do grupo naquela manhã fria de maio, contou o que ocorreu no último dia em que Kamal foi visto:
Um grupo de 15 pessoas começou a trilha de São Paulo a Itanhaém pela Serra do Mar;
Uma pedra se soltou e atingiu um dos integrantes do grupo;
Kamal e mais um integrante, que estavam à frente do grupo, não escutaram o que ocorreu e seguiram a travessia;
Parte do grupo inicial voltou e levou o ferido para o hospital;
Kamal e o parceiro dormiram sozinhos na trilha;
O restante do grupo acampou e esperou a dupla no começo da trilha;
Kamal e o parceiro acordaram e perceberam que a água estava gelada;
O parceiro de Kamal tinha uma calça especial para travessia na água e decidiu seguir a trilha pelo leito do rio;
Kamal, sem a calça, decidiu ir pela mata e encontrar o parceiro 80 metros adiante;
Foi a última vez que os dois se viram;
O parceiro encontrou o restante do grupo no fim da trilha em uma aldeia indígena;
Eles acamparam à espera de Kamal e depois fizera buscas por seis meses, sem sucesso.
Divanei deu detalhes do que ocorreu no começo da trilha.
“Abriu um pouco a cabeça [do homem atingido pela pedra]. A gente ‘estacionou’, e os dois meninos que estavam à frente abrindo o caminho acabaram seguindo. Quando eles ouviram os apitos, se confundiram e acharam que a gente estava apitando mais abaixo do vale. Imaginaram que nós tínhamos atravessado. Em vez de voltarem, eles acabaram seguindo”, lembra Divanei.
“Tinham experiência para descer e ficamos tranquilos. Estavam com perneiras, coletes salva-vidas. E eles foram bem e desceram o vale. Não existe trilha. São travessias sem trilha, varando o mato, escalando o barranco. Eles chegaram à parte plana já”, completa.
Para Divanei, o que ocorreu com Kamal pode ter sido semelhante ao que aconteceu em junho de 2022, na Serra do Gigante, o pico mais alto do Vale do Ribeira, em SP. Um trilheiro foi resgatado pelo Grupamento Aéreo da Polícia Militar de São Paulo após sofrer uma fratura exposta no braço por uma queda de cerca de 7 metros.

Arte/g1
Mais desaparecimentos na Serra do Mar
A vendedora Marli dos Anjos Valadão, de 32 anos, e José Jackson Alencar, de 25 anos, estão desaparecidos desde 4 de dezembro de 2022, quando foram atingidos por uma cabeça d’água durante uma trilha na Zona Sul de São Paulo, na Cachoeira da Usina.
Marli e Jackson estavam com um grupo de oito pessoas numa trilha que leva até o Poço das Virgens. Segundo a corporação, mais de dez bombeiros participaram das buscas por terra e água.
Marli dos Anjos e José Jackson de Alencar
Reprodução/Arquivo pessoal
Um helicóptero da Polícia Militar foi usado para orientar os profissionais com imagens aéreas de onde os desparecidos podem ter passado.
Segundo o relato de um dos sobreviventes à polícia, o grupo havia combinado o acampamento no fim de semana. Não houve problema até o retorno, por volta das 15h30 do dia 4.
Grupo em trilha na Zona Sul de São Paulo mobiliza os bombeiros
Um jovem de 21 anos contou que os amigos andavam sobre as pedras e se seguravam nas cordas, quando uma forte cabeça d’água os atingiu no meio da travessia enquanto chovia. Ele, Marli e Jackson foram arrastados.
Marli e Jackson ficaram com a água na altura do joelho, no início da travessia, mas o nível do rio subiu para a altura da barriga, segundo o amigo deles contou à polícia.
O relato ainda detalha que o primeiro a cair foi Jackson, mas ele ainda conseguiu se segurar na corda. Em seguida, o amigo deu apoio para ele, quando Marli caiu. A mulher, segundo o registro policial, não conseguiu se segurar na corda. Jackson também soltou a corda depois.
Ao perceber que o local dava pé e era possível sair pela margem, o sobrevivente afirmou que saiu pela lateral do rio e caminhou para tentar resgatá-los mais à frente. Pelo que ele detalhou à investigação, acredita que Jackson tenha entrado na correnteza na tentativa de ajudar Marli. Na sequência, ele disse que perdeu os dois de vista.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o desaparecimento foi registrado no 25º Distrito Policial (DP), em Parelheiros.
Buscas são feitas pelos bombeiros por duas pessoas em São Paulo
Corpo de Bombeiros/Divulgação

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