Pesquisa revela que espécies totalmente diferentes podem ser capazes de induzir a manipulação comportamental de aranhas através da produção de hormônios pré- ecdise; entenda. Aranha Colonus sp. (Salticidae) infectada pelo fungo Gibellula sp. (Cordycipitaceae).
Stephen J. Saltamachia
Pesquisadores descobriram que parasitas completamente diferentes, do ponto de vista evolutivo, utilizam a mesma estratégia para induzir que ‘aranhas zumbis’ reforcem as próprias teias. A construção dessa teia reforçada garante um ambiente mais seguro para o parasita completar o seu desenvolvimento após a morte do aracnídeo.
O artigo, que foi publicado no Biological Journal of the Linnean Society, no último dia 25, explora a relação das vespas de Darwin (família Ichneumonidae), das vespas caçadoras (família Pompilidae), das moscas parasitas (família Acroceridae) e dos fungos parasitas (gênero Gibellula) com diversas espécies de aranhas.
Naturalmente, quando essas aranhas estão prestes a realizar a ecdise, que é a troca do exoesqueleto, constroem uma teia reforçada para minimizar o risco de queda durante o processo, à medida que ficarão mais vulneráveis.
Aranha Pax islamita (Zodariidae) parasitada pelo díptero Ogcodes sp. (Acroceridae) dentro do abrigo construído antes de sua morte pelo parasita, semelhante ao utilizado durante a ecdise
Pekár, Lubin
“O nosso estudo propõe que grupos completamente diferentes de parasitas descobriram uma forma de induzir a ecdise em um momento em que as aranhas não estariam fazendo isso”, explica Thiago G. Kloss, do Departamento de Biologia Geral da Universidade Federal de Viçosa, que foi o biólogo orientador do estudo.
Dessa forma, as vespas e moscas, depois de matarem as aranhas, conseguem utilizar a teia modificada para fixarem os casulos, que permanecem aderidos à estrutura até a emergência do adulto. Assim, a teia modificada oferece maior proteção para a pupa desses insetos hospedeiros.
“No caso dos fungos, a teia modificada é essencial para manter o cadáver da aranha fixado na vegetação, geralmente na face inferior das folhas, evitando sua queda no solo durante o desenvolvimento do fungo”, diz o pesquisador.
Estruturas de seda construídas por aranhas com comportamento alterado, parasitadas por diferentes parasitas.
Thiago G Kloss
A ciência já sabia desse modo de ‘manipulação comportamental’ entre as vespas Darwin e as aranhas. Entretanto, a novidade proposta no atual estudo é que outras espécies de vespas, além de fungos e moscas, criaram a mesma estratégia de induzir a ecdise antes de matar a aranha hospedeira, sendo isso uma possível convergência evolutiva.
Os biólogos chegaram a essa conclusão por meio de uma revisão sistemática de todos os trabalhos publicados sobre o tema, avaliando as semelhanças entre as teias.
O nosso fato é que a teia das aranhas parasitadas por diferentes grupos de parasitas é idêntica à teia de ecdise construída normalmente por essas aranhas. Isso sugere que eles ativam o mecanismo inato da ecdise, mas ainda não conhecemos os detalhes do mecanismo molecular utilizado por esses parasitas
É por meio do aumento de um hormônio chamado ecdisona que a aranha recebe o sinal de começar a reforçar a teia pré-ecdise, mas agora o próximo passo é descobrir como espécies diferentes conseguem induzir a produção desse composto. O estudo propõe diversas possibilidades que poderão ser investigadas nos próximos anos.
Teia modificada construída por aranhas parasitadas pela vespa de Darwin Polysphincta janzeni (Ichneumonidae), estrutura idêntica à teia de ecdise
Thiago G. Kloss
O trabalho foi liderado pelo aluno Ítalo Mendes Delazari, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia-UFV, tendo também a participação da pós-doutoranda Thairine Mendes-Pereira, do Departamento de Entomologia-UFV e do aluno Stephen J. Saltamachia, da University of Louisiana at Lafayette.
VÍDEOS: Destaques Terra da Gente
Veja mais conteúdos sobre natureza no Terra da Gente