Levantamento exclusivo feito a pedido do g1 mostra municípios catarinenses passaram mais de dois meses com temperaturas acima das máximas que estavam acostumadas. Ponte Hercílio Luz, cartão postal de Santa Catarina e local de contemplação do sol
Eduardo Valente/Secom-SC
Em 2024 – ano marcado como o mais quente da história da Terra – os efeitos das altas temperaturas foram sentidos em Santa Catarina. Levantamento exclusivo feito a pedido do g1 aponta que 23 municípios catarinenses tiveram mais de 70 dias de calor extremo no ano passado, ou seja, passaram mais de dois meses, com temperaturas acima das máximas que estavam acostumadas.
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Os dias de calor extremo, ainda que não seguidos um do outro, foram acompanhados de altas temperaturas (confira mais abaixo a metodologia e as cidades com maior índice).
Apesar do longo período, todas os 295 municípios de Santa Catarina enfrentaram ao menos um dia com temperaturas máximas extremas.
A cidade do estado com mais dias de calor acima da média foi Praia Grande, na divisa com o Rio Grande do Sul, e conhecida como a capital catarinense dos cânions. Foram 92 dias, sendo a única cidade a ultrapassar a barreira dos 90.
A título de comparação, o município brasileiro que registrou o maior número de dias sob calor extremo foi Melgaço, no arquipélago do Marajó, no Pará, com 228 dias ao longo de 2024.
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Metodologia do levantamento
A análise foi feita a pedido do g1 pelo Centro Nacional de Monitoramento de Desastres (Cemaden) com dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Entenda abaixo como isso foi feito:
🔎 Para cada dia do ano foi calculado um valor limite de temperatura.
🔎 Para isso, foram analisados os dados diários da série histórica entre 2000 e 2024.
🔎 Como resultado, foi constatado o total de dias no ano de 2024 que superaram os valores mais altos vistos na série histórica, o que configura um extremo de calor.
🔎 O índice é o mesmo usado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
O levantamento considerou informações de 5.571 municípios brasileiros. Pouco mais de 100 ficaram de fora, o que inclui as capitais João Pessoa e Recife, mas nenhum deles localizado em Santa Catarina.
Segundo a pesquisadora do Cemaden Márcia Guedes, que fez parte do levantamento, isso ocorre porque ao coletar os dados do satélite, a resolução não conseguiu alcançar algumas cidades na faixa litorânea.
Cidades de Santa Catarina com mais dias de calor extremo:
Praia Grande – 92 dias
Matos Costa – 88 dias
Porto União – 88 dias
São João do Sul – 86 dias
Canoinhas – 84 dias
Jacinto Machado – 82 dias
Três Barras – 82 dias
Major Vieira – 81 dias
Passo de Torres – 81 dias
Bela Vista do Toldo – 80 dias
Irienópolis – 80 dias
Mafra – 79 dias
Monte Castelo – 79 dias
Papanduva – 79 dias
Balneário Gaivota – 78 dias
Itaiópolis – 76 dias
Curitibanos – 75 dias
Santa Rosa do Sul – 75 dias
Santa Terezinha – 75 dias
Ponte Alta – 71 dias
Ponte Alta do Norte – 70 dias
São Cristóvão do Sul – 70 dias
Timbó Grande – 70 dias
Mais de 6 milhões de pessoas ficaram expostas a calor intenso em 2024 no Brasil
As cidades de Santa Catarina, inclusive as com maiores índices, estão entre as que menos tiveram dias de calor extremo em 2024, apesar do risco das altas temperaturas.
O predomínio maior ficou em cidades do Norte e Nordeste, sendo 111 delas com mais de 150 dias de calor extremo. Só a título de comparação, no ranking das cidades, Praia Grande (SC), está na 1387ª posição.
As altas temperaturas explicam o cenário do Brasil no ano passado:
O país viveu a pior seca da sua história, que afetou todo o território nacional, mas foi mais grave no Norte, deixando rios secos e populações isoladas, sem acesso a serviços básicos;
O Brasil viu queimar mais de 30 milhões de hectares, o que é quase o tamanho da Itália, em 2024. O fogo é reflexo de ação humana, mas a proporção é consequência da falta de umidade, resultado das altas temperaturas.
Houve recorde de dengue: foram mais de 6 milhões de casos da doença, que é favorecida pelo calor.
Pela primeira vez, especialistas identificaram uma região de clima árido no Brasil.
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