Mais de 650 mil alunos de escolas públicas e privadas voltaram às aulas em Brasília. Veja como instituições de ensino trabalham o fim do celular em sala de aula. Escola Mackenzie adota armário para os estudantes guardarem o celular durante as aulas.
Mais de 650 mil alunos de escolas públicas e particulares voltaram às aulas no Distrito Federal e se adaptam às novas regras que proíbem o uso do celular na educação básica – ou seja, na educação infantil, no ensino fundamental e no ensino médio.
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São 620 escolas privadas e 948 escolas públicas no DF. Em algumas escolas particulares já há compartimentos para que os alunos deixem o celular antes de entrar em sala de aula.
Na rede pública, a Secretaria de Educação orientou que os alunos desliguem o aparelho, que deve ficar guardado dentro da mochila. Se forem pegos usando o celular, a direção da escola “pode adotar medidas disciplinares”.
Como as escolas estão se adaptando
Sigma adota campanha “conecte-se ao que importa”
Divulgação
De acordo com o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe-DF), “Cada escola pode desenvolver uma política específica para o uso de celulares, permitindo sua utilização apenas em contextos pedagógicos previamente definidos, de forma a integrar a tecnologia ao aprendizado de maneira construtiva”.
Veja abaixo como algumas escolas particulares se adaptaram às novas regras:
Política do celular invisível
No Sigma, a professora de artes Juliana de Sá diz que agora tem um novo parceiro para as aulas. Já que não pode usar o celular para ver a hora, a professora teve que comprar um relógio.
Ela conta que assim ficou mais fácil para aderir a chamada “política do celular invisível”. O colégio optou por não recolher o celular dos estudantes.
Mas, os pais foram avisados que a instituição não toleraria que os alunos mexessem no celular em sala de aula. Se ocorrer, os professores retiram o estudante da sala imediatamente e encaminham para a coordenação.
“Está uma maravilha. Os estudantes não entregam os celulares pra gente, mas eles não estão usando em nenhum momento. Os professores também não estão usando”, conta a professora Juliana.
‘Conecte-se com o mundo a sua volta’
Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília criou armários com compartimentos para os celulares dentro de cada sala de aula
Mackenzie Brasília/ Divulgação
“Abrir as quadras de lazer tem sido a principal forma de manter os alunos entretidos durante o intervalo”, diz o diretor do Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília, Alexandre Almeida. Segundo ele, os estudantes têm se adaptado bem à medida.
“Esperávamos uma certa intolerância pela ausência do celular e estávamos preocupados com a abstinência do celular. Mas, o resultado da medida nos surpreendeu: em uma escola com 2 mil alunos, tivemos apenas um caso pontual de resistência à campanha”, diz o diretor.
O colégio instalou dentro de todas as salas dos anos finais do ensino fundamental e médio uma espécie de armário, com pequenos compartimentos, para que os estudantes depositem os aparelhos. A retirada só será permitida após o término da aula.
📌A exceção do uso do celular será determinada quando o equipamento for estritamente necessário para fins pedagógicos ou didáticos, conforme orientação dos professores.
Celular no ‘mural’
Escola em Taguatinga coloca bolsões para alunos depositarem os celulares no horário das aulas.
TV Globo/Reprodução
Desde 2023, o Colégio Católica Brasília orienta os estudantes a guardar os celulares em bolsões nas salas de aula. O uso só é permitido com orientação dos professores para fins pedagógicos.
Com a lei federal, o colégio tem incentivado a interação social durante os intervalos. Para isso, atividades recreativas – como cordas, elásticos, mesas de pebolim, jogos e instrumentos musicais (violão, guitarra) ficam à disposição dos estudantes.
Sem telas para viver a adolescência
De acordo com a especialista em educação pela UnB Catarina Santos, o passo inicial para implementar a medida nas instituições deve ser a conscientização dos estudantes. A professora diz que a redução do uso de telas no dia a dia reflete direta e positivamente no comportamento das crianças e adolescentes.
📌📱No Brasil, 95% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos usam internet, totalizando 25 milhões de pessoas. A grande maioria usa o celular para se conectar. Os números são de uma pesquisa do Cetic.br, um centro de estudos ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil, com apoio da Unesco.
Catarina Santos diz que a lei é positiva. No entanto, lamenta que na rede pública do Distrito Federal não tenha havido uma capacitação para os professores e nem mesmo um debate sobre como fazer essa mudança.
Para a especialista, a Secretaria de Educação deveria ter criado uma campanha educativa de volta às aulas sem os aparelhos. Ela diz temer que a aplicação da lei acabe gerando mais uma função para os professores.
“A rede pública de ensino é precarizada. Nossos educadores são temporários, existem escolas sem porteiros e muitas turmas estão superlotadas”, diz Catarina.
Questionada, a Secretaria de Educação não havia respondido até a publicação desta reportagem.
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