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Bruno de Oliveira Sales trabalha desde 2015 numa unidade de saúde do Cabo de Santo Agostinho. Ele se formou em medicina após conseguir bolsa integral pelo Prouni. Bruno trabalhou por 9 anos como maqueiro no hospital onde atualmente atende como médico
Há pouco mais de um ano, o médico Bruno de Oliveira Sales, de 35 anos, atende os pacientes do Hospital Municipal Mendo Sampaio, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife. O emprego é recente, mas o caminho até o trabalho, não. Bruno começou a trabalhar no hospital como maqueiro do expediente noturno, em 2015, função que exerceu por nove anos (veja vídeo acima).
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Morador do bairro do Barro, na Zona Oeste do Recife, filho de um operário da indústria e de uma empregada doméstica, Bruno buscou um destino que parecia distante demais para um jovem da periferia. Definitivamente não foi fácil. Eram quatro ônibus para ir e quatro para voltar, diariamente.
“Você trabalhar e estudar é um desafio muito grande porque você tem que desempenhar suas atividades no trabalho e ainda tem que estar com a cabeça boa para poder estudar. Eu tinha que trabalhar à noite, então eu passava madrugadas acordado e chegava meio cambaleando na faculdade. Às vezes dava aquela cochilada em 20 minutos de aula e depois pegava aquele trechinho com um colega meu”, relembrou o médico.
Enquanto trabalhava e estudava ao mesmo tempo, os colegas do hospital viram toda a correria e o empenho do maqueiro. “Um rapaz muito dedicado na profissão dele. É uma pessoa que desenvolveu um trabalho muito bom, inspirando muita gente, com certeza”, comentou o técnico de enfermagem Josiel José.
Bruno percorreu uma longa trajetória de maqueiro a “doutor”. Foram nove anos de tentativas até conquistar uma vaga na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). O diploma só foi possível graças a uma bolsa integral do Programa Universidade para Todos (Prouni).
Os desafios moldaram um profissional empático, que sabe como é estar do outro lado da mesa de consulta. Bruno contou que tenta fazer a diferença em cada atendimento, diagnóstico, ajuste de medicação e, até mesmo, numa conversa que possa auxiliar a saúde mental de seus pacientes.
“Eu vim de um ambiente que tinha carências em diversos setores. Quando a gente está desse lado, a gente sabe a dor do outro. Quando ele [paciente] diz assim: ‘olha, eu não tomei café hoje’, a gente consegue ajudar de diversas formas”, compartilhou o médico.
Bruno de Oliveira Sales é médico do hospital onde trabalhava como maqueiro
TV Globo/Reprodução
Para Ivone e Milton Sales, pais de Bruno, o orgulho é grande. De acordo com eles, o filho sempre teve iniciativa de estudar e correr atrás dos objetivos sozinho.
“Eu nunca peguei na mãozinha dele para ele fazer a tarefinha, para ele cobrir, não. Eu só fazia ler e ele mesmo fazia a tarefa sozinho. Quando ele quer uma coisa, vai até o fim. Enquanto não consegue, ele não desiste”, disse Ivone, mãe de Bruno.
Milton Sales, pai do médico, conta que “o orgulho é ele chegar onde ele chegou”. “[Foi] muita luta, ele que fez tudo. A gente enquanto pai sempre está na retaguarda para orientar. Acho que não tem nem palavras, ver um filho lutar tanto e chegar onde ele está chegando”, compartilhou o pai.
Bruno é o primeiro médico da família e está mudando a vida dos pais. A casa em que vivem hoje, foi o filho que alugou e paga todas as despesas. Mesmo com as conquistas recentes, também sobra espaço para os sonhos de constituir uma família e passar num concurso público.
“A gente tem que trabalhar muito, estudar muito. Não é fácil, se fosse fácil todo mundo fazia. Tudo é com muito trabalho, com muito empenho e dedicação”, afirmou.
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