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Pesquisadores alertam para os riscos da Ipomoea obscura, planta que ameaça a biodiversidade e os ecossistemas costeiros. Trepadeira Ipomoea obscura foi registrada na Ilha de São Luís, no Maranhão
Amanda Letícia Garcia
Uma trepadeira de flores delicadas, mas com um potencial invasor preocupante, acaba de ser registrada pela primeira vez na costa da América do Sul. A Ipomoea obscura, nativa da África e Ásia, foi encontrada na Ilha de São Luís (MA) por pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Conhecida como glória-da-manhã-obscura, a espécie já causa danos ambientais em regiões da Austrália, Estados Unidos e norte do Caribe. Agora, ela preocupa também os especialistas brasileiros.
A bióloga Amanda Letícia Garcia, autora do estudo publicado no Journal of Coastal Conservation, explica que a coleta fez parte de seu mestrado em Biodiversidade e Conservação. Durante expedições para mapear espécies do gênero Ipomoea no Maranhão, a planta foi identificada em uma área urbana degradada, próximo ao Rio Anil.
Espécie possui flores que variam entre tons de branco e amarelo
Amanda Letícia Garcia
“Ela estava crescendo em terrenos baldios e muros, um cenário típico de ambientes perturbados pela ação humana”, relatam os autores no artigo.
A confirmação da identidade da espécie exigiu comparações com coleções botânicas internacionais e análises morfológicas detalhadas. O registro inédito e confirmado na América do Sul acende um alerta: a trepadeira pode se espalhar por outros estados brasileiros.
Por que ela é uma ameaça?
A Ipomoea obscura compete com espécies nativas por recursos, especialmente em ecossistemas frágeis, como restingas e manguezais. No Brasil, 13 espécies endêmicas do mesmo gênero já estão ameaçadas de extinção, como a Ipomoea macedoi e a Ipomoea cavalcantei.
“Se houver dispersão acelerada, a planta pode inibir o crescimento de vegetação nativa e até levar à extinção local de espécies”, alerta a pesquisadora. Além de ameaças à biodiversidade, invasões como essa podem descaracterizar habitats e prejudicar serviços ecossistêmicos.
Planta exótica com potencial de invasão foi encontrada em terrenos baldios, próximo a muros
Amanda Letícia Garcia
Além disso, a trepadeira é uma planta resistente. Suas sementes permanecem viáveis por anos, e a reprodução é facilitada por insetos como abelhas e formigas.
Marcada pelo avanço urbano, segundo a especialista, a Ilha de São Luís oferece condições propícias para a proliferação de espécies exóticas. Solos degradados, pouca vegetação nativa e intervenções humanas criam oportunidades para elas se estabelecerem.
“O fato dessa espécie ter a capacidade de se adaptar a diversos ecossistemas, mas especialmente em áreas mais degradadas, acaba evidenciando que a sua ocorrência, ocupação e possível expansão aqui na região, têm sido influenciadas por intervenções humanas e por isso, pode ser um indicativo que o ambiente está em desequilíbrio”, explica Garcia.
Onde mais a espécie pode chegar?
A costa brasileira, de clima tropical, é a região mais suscetível. Dois possíveis registros não confirmados já foram feitos em Alagoas e Rio de Janeiro por meio da plataforma iNaturalist.
“Apesar de não estar distribuída por toda a região da América do Sul, a espécie apresenta alto risco de introdução nesta região, principalmente no Brasil, porque se adapta muito bem a ambientes tropicais e subtropicais”, informa.
Espécie é resistente e possui sementes adaptadas para sobreviverem por anos
Amanda Letícia Garcia
Embora pareça a solução mais viável, os pesquisadores afirmam que a erradicação imediata da planta não é a solução mais eficaz, uma vez que a espécie pode manter a viabilidade de suas sementes, dando origem a novas populações.
Por essa razão, os autores recomendam ações como o monitoramento contínuo de áreas costeiras e urbanas, envolvimento da população para reportar novos focos e protocolos de detecção precoce e resposta rápida para remoção das plantas caso a dispersão aumente.
Para eles, o registro da Ipomoea obscura no Maranhão reforça a necessidade de políticas públicas voltadas à conservação de ecossistemas costeiros.
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