‘Luta coletiva’, diz Chico Paiva, neto de Eunice e Rubens Paiva em exibição de ‘Ainda Estou Aqui’, em Macapá


Filme brasileiro com 3 indicações ao Oscar conta a história da família Paiva, vítima da ditadura militar no Brasil. Exibição e distribuição do livro que inspirou a obra ocorreu nesta sexta-feira (14) para professores de história no Amapá. Chico Paiva esteve no Amapá para exibição de ‘Ainda estou aqui’
Isadora Pereira/g1
O neto de Eunice Paiva e Rubens Paiva, brasileiros vítimas da ditadura militar no Brasil, esteve no Amapá nesta sexta-feira (14). Chico Paiva esteve com o senador Randolfe Rodrigues (PT) para a exibição do indicado ao Oscar ‘Ainda estou aqui’. A sessão especial foi para professores de história do estado, que receberam ainda exemplares da obra que inspirou o filme.
✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 AP no WhatsApp
O historiador Guaraci Pastana foi um dos professores que teve a oportunidade de participar dessa sessão. Ele contou que relembrar a história em um período sombrio, resgata a emoção e leva lições para os dias de hoje.
Guaraci Pastana, representante dos professores de história do Amapá
Isadora Pereira/g1
“Trabalhamos com isso em sala de aula no nosso cotidiano, é rememorar um fato da nossa história que demonstra que pessoas anônimas daquele momento histórico resistiram a um sistema que retirava nossos direitos, que oprimia nossas instituições, principalmente a nossa parte de cultura. É realmente um sentimento de emoção, de satisfação e de realização”, contou.
LEIA MAIS:
‘Ainda Estou Aqui’: veja os prêmios que o filme já conquistou e quais ainda está na disputa
‘Ainda estou aqui’: cerimônia do Oscar será exibida em telão de praça do Amapá
‘Ainda estou aqui’ é exibido no Amapá para professores de história
Isadora Pereira/g1
Em depoimento ao g1, Chico Paiva disse que a história da família serve de inspiração para muitas outras famílias. Ele destacou que o direito democrático se trata de um valor coletivo. O que após o filme tem os valores ampliados devido à ausência do poder da expressão durante o golpe militar.
“Minha avó sempre dizia que a gente não podia pessoalizar a nossa dor, nos vitimizarmos, que deveríamos sempre transformar isso numa luta coletiva. E eu acho que a democracia é esse valor coletivo que não importa se você é de direita, de esquerda, se você está no Amapá, no Rio Grande do Sul, que todos deveríamos valorizar e lutar por ela”, disse Paiva.
Paiva destacou ainda que o mais importante é disseminar a história do filme aos historiadores do Amapá, para que os mesmos levem a mensagem aos estudantes da nova geração de jovens que buscam compreender a história brasileira.
“O lugar das universidades, do ensino sempre foi um lugar de muita resistência contra regimes autoritários”, contou.
O evento foi organizado pelo Governo do Amapá e promovido pelo Senador Randolfe Rodrigues (PT). Randolfe explicou que a exibição do filme e distribuição do livro é importante para que a nova geração entenda o poder do livre arbítrio e direito de expressão, algo que foi tomado dos cidadãos no período em que mostra o filme.
“Temos uma geração inteira que não viveu e não sentiu o que é o peso do arbítrio, o que é não ter o direito de votar, não ter o direito de ir e vir, viver toda vez sobre medo. Nós não termos resolvido bem esse nosso passado, assim como todos nós precisamos de terapia. Para o Brasil faltou uma terapia para lembrar as marcas desse triste passado. […] Hoje fazemos uma terapia coletiva, para lembrarmos disso, para que ninguém se esqueça, e que nunca mais aconteça”, disse o senador.
Senador Ranfolfe Rodrigues (PT) e Chico Paiva distribuíram exemplares do livro ‘Ainda estou aqui’
Isadora Pereira/g1
Reconhecimento da história
O filme teve reconhecimento internacional ao receber 3 indicações ao Oscar, o prêmio mais importante do cinema mundial. Questionado pelo g1, Chico contou não esperar o sucesso grandioso do filme no mundo inteiro, além de se emocionar com a indicação ‘melhor atriz’ pela interpretação de Fernanda Torres, da avó Eunice Paiva.
“Ao mesmo tempo, não só no lado da democracia, mas também do lado da valorização do cinema nacional. A gente sabe que a cultura foi um pouco escanteada nas últimas administrações e ver o cinema brasileiro chegando agora no topo do mundo, é motivo de muito orgulho também, então o que a gente costuma dizer é viva a democracia e viva o cinema brasileiro”, contou Chico Paiva.
Paiva contou ter se surpreendido com a repercussão internacional do filme que traz um drama de uma família brasileira, mesmo com o filme sendo conduzido por Walter Salles, grande cineasta brasileiro, as expectativas não incluíam alcançar prêmios renomados internacionais.
“Quando vimos o filme, evidentemente o filme é brilhante, é feito de forma muito talentosa pelo Walter Salles, a Fernanda Torres, o Selton Mello, todo o elenco, mas é um filme de um drama profundo, então não é o tipo de filme que você vê sendo sucesso de bilheteria e tendo todo esse tipo de atenção. O filme teve esse impacto, de furar essa bolha, não só cinéfilos, não só pessoas mais intelectualizadas estão assistindo o filme, mas toda uma população”, completou.
Filme ‘Ainda estou aqui’ foi exibido para professores de história do Amapá
Isadora Pereira/g1
Expectativa para o Oscar
O neto contou estar animado para a premiação e disse que o filme merece ganhar, mas acaba diminuindo as expectativas por se tratar de um filme completamente em português em uma premiação norte-americana.
“Eu até brinco com o Walter (diretor), porque ele é botafoguense, então a gente brinca que pra ele tudo vai dar errado até a hora que dá certo, ele sempre acha que alguma coisa pode dar errado. Mas a gente acha que tem chances, sem dúvida merecia. Mas a eleição do Oscar envolve outras coisas, campanhas. É um filme que é falado em português, é mais difícil, mas estamos muito esperançosos e acho que o mais importante é que o Brasil está unido”, disse Chico.
Chico ainda em depoimento ao g1, brincou pedindo desculpas à atriz Fernanda Torres, que já ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz e segue em busca do Oscar.
“Peço perdão a Fernanda Torres que pediu para que não criasse clima de Copa do Mundo, mas já está todo mundo torcendo como se fosse”, finalizou.
Sobre o filme
Cartaz do filme Ainda estou aqui
Imagem: Reprodução
‘Ainda estou aqui’ é um filme que conta a história da família Paiva, após o desaparecimento do deputado Rubens Paiva (Selton Mello), que foi torturado e morto durante a ditadura militar no Brasil. Mostrando as desventuras angustiantes da esposa Eunice (Fernanda Torres) e da família após o fato.
O filme dirigido por Walter Salles que conduziu obras como ‘Central do Brasil’, teve 3 indicações ao Oscar, prêmio mais importante do cinema internacional.
A obra concorre nas principais categorias da premiação hollywoodiana, como ‘melhor filme’ e a atriz Fernanda Torres, na categoria de ‘melhor atriz’ por seu papel de Eunice Paiva além da categoria ‘melhor filme estrangeiro’.
📲 Siga as redes sociais do g1 Amapá e Rede Amazônica: Instagram, X (Twitter) e Facebook
📲 Receba no WhatsApp as notícias do g1 Amapá
Veja o plantão de últimas notícias do g1 Amapá
VÍDEOS com as notícias do Amapá:
Adicionar aos favoritos o Link permanente.