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Igrejas com séculos de existência foram interditadas por risco de desabamento. A situação expõe a fragilidade dessas construções históricas e o perigo real para fiéis e turistas. Veja antes e depois de igreja onde teto desabou em Salvador
Na última semana, igrejas com séculos de existência foram interditadas em Salvador por risco de desabamento. A situação expõe não apenas a fragilidade dessas construções históricas, mas também o perigo real para fiéis e turistas.
No dia 5 de fevereiro, parte do teto da Igreja de São Francisco de Assis, conhecida como “igreja de ouro”, desabou — uma jovem morreu e cinco pessoas ficaram feridas.
A equipe de reportagem do Fantástico foi a primeira a entrar na nave central, onde o forro da igreja desabou, acompanhando a equipe da Defesa Civil de Salvador.
A Igreja de São Francisco de Assis, localizada no Pelourinho, era uma das construções históricas mais procuradas da capital baiana. O teto tinha ornamento com detalhes de ouro e pinturas sacras do século 18. As paredes, colunas e capelas também são revestidas de ouro — e impressionam.
O registro das câmeras do circuito interno mostra que às 14h24 do dia 5 de fevereiro seis turistas foram atingidos pelo desabamento. Cinco tiveram ferimentos leves, mas a paulista Guilia Righetto, de 26 anos, que visitava o local com amigos, morreu na hora.
“”O material caiu de uma altura de 16 metros na cabeça dela, que é a altura de um prédio de 5 andares. E caiu uma quantidade enorme de madeira lá do teto, gera uma ação contundente que a lesão é muito séria”, diz Bruno Pitanga, perito criminal federal.
Igrejas com séculos de existência foram interditadas por risco de desabamento. A situação expõe a fragilidade dessas construções históricas e o perigo real para fiéis e turistas.
Reprodução/Fantástico
“Vai ser um quebra-cabeça onde os especialistas precisarão, com muito cuidado, preparar uma remontagem dessa estrutura para que a igreja possa voltar à sua característica original”, diz Sosthenes Macêdo, diretor geral da Defesa Civil de Salvador.
“A grande vantagem é que os peritos conseguem voltar àquele mesmo local que foi congelado no tempo, para que eles possam fazer uma análise de todos os vestígios encontrados. Será possível determinar o que aconteceu e como aconteceu”, reforça Roberto Reis Monteiro, diretor técnico-científico da Polícia Federal.
A queda da ‘Igreja do Ouro’
A Igreja de São Francisco é uma das 51 tombadas pelo Iphan. Dois dias antes do desabamento, a administradora da igreja enviou uma carta ao Iphan relatando uma dilatação no forro do teto. A vistoria estava marcada para o dia seguinte ao desabamento.
“Nós dizemos sempre que conservar é mais barato e é mais eficiente que restaurar”, diz Leandro Grass, presidente do Iphan.
Como a igreja é patrimônio nacional, a PF assumiu as investigações.
“Há a possibilidade de ter havido a prática do crime de dano culposo ao patrimônio histórico e de homicídio culposo. No momento, agora, não posso apontar essa responsabilidade”, diz o delegado da PF Fábio Muniz.
O desabamento acendeu um alerta sobre a precarização do conjunto histórico de imóveis da capital baiana. Ao longo da semana, oito igrejas foram interditadas. A Defesa Civil de Salvador identificou 2.017 imóveis que estão em áreas tombadas pelo patrimônio histórico. Desses, 287 estão em risco alto ou muito alto de desabamento ou incêndio — a Igreja de São Francisco, por exemplo, era considerada de risco médio.
Há outros casos. A Igreja dos 15 Mistérios está fechada há quase 10 anos — foi nela que negros escravizados organizaram a Revolta dos Malês, em 1835. Na Igreja Santo Antônio Além do Carmo, parte do forro desabou há 6 meses — são 430 anos de história ruindo.
“Aqui, nesta igreja, pregou o Padre Antônio Vieira. Esta igreja praticamente virou um grande quartel, uma grande fortaleza contra a invasão holandesa aqui de Maurício de Nassau”, conta o Padre Jailson de Jesus dos Santos.
“O Brasil precisa entender que o patrimônio cultural é um grande ativo, é uma grande ferramenta para o desenvolvimento econômico e social e não um empecilho ao desenvolvimento do país. E para isso a gente tem que sim trazer mais esforços, é preciso que haja um pacto envolvendo o setor público, setor privado e a sociedade civil que tem o seu papel também”, Leandro Grass, presidente do Iphan.
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