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O ex-governador foi liberado após o STJ aceitar o pedido de habeas corpus apresentado pela defesa. Carlesse foi preso suspeito de planejar fuga para o exterior com ajuda do sobrinho e passou mais de dois meses detido no Comando Geral da Polícia Militar, em Palmas. Ex-governador Mauro Carlesse comenta sobre sua prisão, após mais de dois meses detido
O ex-governador Mauro Carlesse comentou sobre a prisão por suspeita de fuga para o exterior ao sair do Comando Geral da Polícia Militar, onde estava detido, nesta quarta-feira (19). Ele alegou sofrer perseguição política e considerou a ação ‘absurda’. Carlesse ficou preso por 64 dias, após investigação da Gaeco apontar que ele estaria planejando fugir para Itália e Uruguai com a ajuda do sobrinho e ex-secretário Claudinei Quaresemin.
“Sinceramente, não sabia nem do que que eu estava sendo preso, porque eu não tinha nenhum processo julgado. Está na primeira instância, eu defendendo, não tem provas nenhuma contra mim. Infelizmente, eu fui preso, não é bom. Se eu te falar para você que é muito ruim, é ruim, né? Jamais eu ia fugir, não tem motivo de fugir. Eu sou um cidadão italiano, tenho passaporte italiano, tenho identidade no Uruguai para os meus negócios, sou empresário, sustento a minha família fazendo meu trabalho. E isso foi entendido para o Ministério Público como se eu fosse fazer uma fuga”, contou durante coletiva de imprensa.
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O pedido de habeas corpus da defesa foi atendido pelo ministro do STJ, Antônio Saldanha Palheiro. Os efeitos da decisão também atendem ao ex-secretário Claudinei Aparecido Quaresemin, sobrinho do ex-governador, que também é investigado.
O ex-governador é alvo em pelo menos cinco investigações por desvio de dinheiro, fraudes de licitação e outros crimes, além de também responder a ações penais. Para Carlesse, a prisão se trata de uma perseguição política.
“Nesse estado, se não mudar essas perseguição política é difícil, mas eu não abaixo a cabeça porque eu não devo, não devo e vou responder. Fiz tudo que podia em todas as áreas, na saúde, na educação, na infraestrutura, na segurança pública e estou pagando esse preço por uma meia dúzia de incompetentes que tem nesse estado que vive perseguindo as pessoas e no qual uma delas foi eu”, comentou
Ex-governador Mauro Carlesse deixa prisão no Quartel do Comando Geral da Polícia Militar do Tocantins
Reprodução/TV Anhanguera
Casa no exterior
Durante a coletiva, o ex-governador também falou sobre o aluguel uma casa na Itália. Segundo as investigações, Quaresemin teria viabilizado o aluguel de uma casa no país europeu com o nome de uma intermediária. O valor foi de 1,5 mil euros de aluguel no imóvel, segundo o MP. Durante uma viagem, apesar de possuir a casa ele teria escolhido se hospedar em um hotel.
“Essa casa, quando eu recebi a notícia que eu poderia ir receber a documentação, o meu passaporte italiano, que é um processo desde 2016, 2017, é um processo longo, um processo da família. Foi feito assim nós tivemos que ficar lá em 40 dias, nós tivemos que ficar lá na cidade da Itália lá. Eu tinha que ficar lá. Qual era o mais barato? A casa ou ficar no hotel? Que a minha família inteira, não foi só eu, Mauro Carlesse. Foi o indicado por alugar uma casa. E eu mantive uma casa para poder receber documentações naturais da Itália. Eu sou um cidadão italiano. E qual é o crime disso? Nada, eu não tinha nenhuma restrição”, explicou Mauro Carlesse.
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Prisão em São Valério
Mauro Carlesse saiu do IML de Gurupi e seguiu para a unidade penal
Antoniel Cavalcante/Ronda Policial Tocantins
A prisão do ex-governador aconteceu no dia 15 de dezembro de 2024, em cumprimento a um mandado de prisão expedido pela 3ª Vara Criminal de Palmas. Ele estava a caminho de uma fazenda na zona rural de São Valério, no momento da ação.
Na decisão que autorizou a prisão, o juiz Márcio Soares da Cunha destacou também os diálogos e indícios que comprovam um possível risco de fuga para o exterior de Carlesse para o Uruguai ou Itália. O plano supostamente estava sendo arquitetado junto com o sobrinho, Claudinei Quaresemin
Carlesse comentou que a prisão realizada próximo ao Natal foi uma surpresa e desnecessária, pois poderiam ter sido aplicadas medidas cautelares.
“De repente fui preso de uma forma que eu acho um absurdo. Poderia me chamar, podia contestar ‘olha você não pode sair do país’. Não. Podia fazer qualquer outro tipo de medida, não. Vamos prender o Carlesse. Agora, eu ser preso numa véspera de Natal, passar o Natal, o Ano Novo e sem perspectiva nenhuma, ia passar o também o Carnaval. Eu tenho filha pequena, eu tenho responsabilidade. Ia viajar para fora no final do ano mesmo, eu ia viajar com a minha família e de repente opinei para fazer uma viagem aqui no Brasil mesmo. E infelizmente fui preso”.
Ao longo dos dois meses, Mauro Carlesse chegou a ter vários pedidos de habeas corpus negados pela Justiça. O primeiro apresentado pela defesa foi negado pelo desembargador João Rigo Guimarães no dia 16 de dezembro.
Outros dois pedidos de liberdade também foram negados pelo desembargador Eurípedes Lamounier durante a semana. Depois, o juiz Márcio Soares da Cunha negou outro pedido após análise do caso. Mais duas solicitações foram negadas, pela desembargadora Angela Issa Haonat, do Plantão de 2ª Instância do TJ-TO.
Medidas cautelares
O documento que determinou a soltura também estabelece medidas cautelares, que devem ser cumpridas pelo ex-governador. Na entrevista ele afirmou que irá atender a decisão da Justiça. “Com certeza, eu respeito a Justiça”.
comparecimento bimestral em juízo;
proibição de manter contato com investigados e testemunhas do processo;
proibição de se ausentar da comarca;
Proibição de ocupar cargos ou funções públicas no Tocantins;
Proibição de deixar o país ou a se ausentar da comarca, sem autorização judicial.
Investigações contra Carlesse
Carlesse é alvo de pelo menos cinco investigações e responde a ações penais. Ele esteve no cargo de Governador do Tocantins entre os anos de 2018 e 2021. Ele foi afastado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) durante as investigações das operações Hygea e Éris, que apuram supostos pagamentos de propina no plano de saúde dos servidores públicos e aparelhamento da Polícia Civil.
Ele renunciou ao cargo em 2021 para evitar um processo de impeachment. Depois disto, as investigações, que estavam no âmbito federal, foram enviadas para a Justiça estadual. A estimativa dos investigadores é de que cerca de R$ 44 milhões tenham sido pagos como propina para membros do executivo só em relação ao plano de saúde dos servidores públicos.
Em 2024, Carlesse foi alvo de outra operação da Polícia Federal, que investiga possíveis crimes de fraude à licitação que teriam ocorrido em 2018 em contratos relacionados à extinta Secretaria de Infraestrutura, Cidades e Habitação do Estado do Tocantins. Foi nessa última operação que foram encontradas conversas e indícios de um suposto plano de fuga para o exterior. Carlesse nega que queria fugir do país.
Contra Carlesse constam as acusações de corrupção, lavagem de dinheiro, fraude em licitações, falsidade ideológica, obstrução de investigações, organização criminosa e peculato.
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