O caso ocorreu em 1999 e só agora, com exame de DNA e repercussão do caso de Dominique Pélicot, a polícia descobriu que ele foi o autor do crime. Jovem de 19 anos foi amarrada e agredida, mas conseguiu reagir e fugir. Dominique Pélicot compareceu ao tribunal nesta quarta, visivelmente fraco
Benoit PEYRUCQ / AFP
Dominique Pélicot, o homem que confessou ter dopado a agora ex-mulher, Gisèle, por 10 anos para que estranhos a estuprassem, também está sendo acusado de um crime cometido anos atrás: o ataque a uma corretora de imóveis durante uma visita a um apartamento nos arredores de Paris.
O caso ocorreu em 1999. Marion, na época com 19 anos, foi brutalmente agredida e amarrada, mas conseguiu reagir e fugir. Ela contou à polícia que o cliente, que se apresentou como senhor Rigot, tentou anestesiá-la com um pano embebido em éter e, quando começou a despi-la, ela conseguiu escapar.
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Algumas gotas de sangue chegaram a ser encontradas no local, mas segundo a imprensa francesa, os resultados dos exames de laboratório que haviam sido enviados ao tribunal foram extraviados e o processo ficou sem solução.
Apenas em 2020, quando Dominique começou a responder pelo estupro da então mulher, Gisèle, a juíza Nathalie Turquey, do tribunal de Nanterre, fez a conexão com o caso dos estupros de Mazan. Ela se deu conta que o retrato falado do agressor de Marion em 1999 era muito parecido com Dominique Pélicot mais jovem e, ao comparar o DNA nos arquivos do laboratório, constatou que os dois casos correspondiam.
Em outubro de 2022, durante audiência o francês foi confrontado com essa informação pela primeira vez e, sem hesitar, admitiu que havia “tido um impulso quando passou pela agência e viu a jovem”. Ele confessou tê-la a “agredido e despido”, mas negou que tivesse a intenção de estuprá-la.
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Christophe SIMON / AFP
O francês de 71 anos, que na segunda-feira (9) foi dispensado da audiência no começo do dia após alegar dores abdominais fortes, não compareceu também no dia seguinte, sétimo dia de julgamento, porque estava hospitalizado.
Nesta quarta ele chegou a ir ao tribunal, mas visivelmente fraco e apoiado em sua bengala, foi liberado pelo juiz e teve novamente seu depoimento, que estava previsto para esta terça, adiado.
Agora, a previsão é de que ele fale sobre o caso, no qual já se declarou culpado, na tarde desta quinta-feira (12).
O depoimento dos dois filhos homens de Dominique e Gisele, também previsto para ocorrer nesta terça, não aconteceu porque eles disseram que só irão falar estando à frente do pai.
A filha do casal, Caroline, a nora e a ex-nora foram ouvidas na semana passada.
Nesta quarta, após a saída do ex-marido, a vítima, Giséle Pélicot, de 72 anos, também foi embora.
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Na segunda-feira (9), sexto dia de julgamento dele e mais 50 homens acusados de serem os autores dos abusos, psiquiatras e psicólogos traçaram um perfil do francês de 71 anos.
O acusado não sofre de “nenhuma patologia ou anomalia mental”, mas sim um “desvio sexual ou parafilia de tipo voyeurístico”, segundo vários exames psiquiátricos realizados durante a investigação.
Os relatórios o descrevem como um “manipulador” com uma personalidade “perversa”, que usava sua esposa como “isca”. Dominique também teria caído em uma “dinâmica de dependência sexual”.
Primeira psicóloga a testemunhar perante o tribunal, Marianne Douteau destacou o caráter “raivoso” de Dominique, que suscitava “medo”, mentiras e sigilo”. Estas características seriam semelhantes às de seu pai, a quem ele odiava.
“A sexualidade do senhor Pélicot parece calcada em sua personalidade: comum em público, mas para sua parceira, ele tem uma sexualidade tenaz”, afirmou.
A psicóloga Anabelle Montagne, que o conheceu em dezembro de 2020, quando ele estava encarcerado no centro penitenciário de Pontet, descreve Dominique Pélicot como “um homem com duas caras”.
“É um sujeito que se apresenta como um pai de família estável, respeitado e apreciado, mas que ao mesmo tempo é dissimulado e com propensão à transgressão em sua sexualidade”, relatou, acrescentando que sua experiência revela que ele tem “perversão polimorfa” e “uma fixação que remete a uma necessidade de controle extremo que vai até o controle”.
Durante seu depoimento em juízo na quinta-feira (5), Gisèle Pélicot disse que, durante os 50 anos de casamento, nunca o ouviu “dizer nada inapropriado ou obsceno sobre uma mulher”.
Os netos, a quem ele ajudava nos deveres de casa e acompanhava nas atividades esportivas, adoravam o avô. Ele também andava de bicicleta com os vizinhos no icônico Mont Ventoux, perto de sua casa em Mazan.
Avô “carinhoso” e “superlegal” de dia, para a agora ex-esposa, mas estuprador à noite: assim definiu o psicólogo Bruno Daunizeau que definiu Dominique como “duas caras” e “manipulador perverso”.
“De dia pode ser coerente e, à noite, parecer diferente”, declarou.
Ninguém suspeitava que, à noite e por vezes durante o dia, ele se tornava um recrutador de desconhecidos para estuprar sua esposa.
Quando foi detido em 2020, após ter sido flagrado filmando por baixo das saias de mulheres em um centro comercial, segundo a investigação, o francês manifestou o seu “alívio”, porque “não conseguia” parar.
Na segunda-feira, os advogados de defesa dos outros acusados anunciaram à imprensa que vão apresentar queixa por ameaças após os dados pessoais dos clientes terem sido divulgados nas redes sociais.
Os advogados de Gisèle Pélicot também confirmaram na segunda que o divórcio dela e do ex-marido foi oficializado no final de agosto, antes do começo do julgamento.