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Cantor não é investigado pelo MP. Ele foi apenas citado em denúncia por contrair empréstimos de R$ 2 milhões. Doze pessoas, sendo oito policiais civis, foram denunciadas. O cantor Netinho de Paula e o empresário Ademir Pereira de Andrade, apontado pelo MP como agiota do PCC
Reprodução/Redes Sociais
O cantor e ex-vereador Netinho de Paula (PcdoB) publicou um vídeo nas redes sociais se defendendo das acusações do Ministério Público de São Paulo de que teria ajudado e contraído empréstimos com o empresário Ademir Pereira de Andrade, apontado como giota do PCC.
Segundo a investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Ademir atuava como operador financeiro da facção criminosa e era chamado de “Banco da gente” pelo cantor de pagode.
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Nas redes sociais, o Netinho afirmou que “sempre foi contra as coisas erradas” e que é “vergonhoso” falar de ligações dele com facção criminosos a essa altura da vida dele, que tem 35 anos de carreira na música.
“Embora esse sorriso aqui muitas vezes desperte inveja em alguns, continuo firme na missão de espalhar alegria e inspiração. (…) Eu posso ser tudo e fazer tudo, mas meu povo sabe de onde eu vim. Sabe que sempre fui contra as coisas erradas. Eu não sou perfeito, mas falar de facção, a essa altura da vida, é vergonhoso para vocês”, disse o cantor.
O Ministério Público de SP teve acesso a mensagens entre Ademir e Netinho nas investigações sobre Vinicius Gritzbach, delator do PCC que foi executado no ano passado (leia mais abaixo). Os diálogos, segundo a promotoria, “evidenciam a prática criminosa de empréstimo a juros” entre os dois.
👉🏻 O conteúdo foi obtido após quebra de sigilo telemático do celular do agiota que foi apreendido pela polícia. Netinho não é investigado pelo MP. Ele foi apenas citado na denúncia.
Ao postar o vídeo de defesa nas redes sociais, Netinho de Paula escreveu que “é importante reconhecer que o uso de chamadas sensacionalistas e insinuações tendenciosas pode comprometer a integridade da mensagem e gerar desinformação”.
“As minhas amizades, minha origem e o estilo de vida que construí ao longo de 35 anos de carreira são uma celebração da diversidade e da força da minha comunidade. (…) Eu conheço todos os tipos de pessoas e a riqueza do ser humano reside exatamente nessa pluralidade”, disse no vídeo.
Ele acrescentou que optou “por não discriminar ninguém na minha jornada, no meu caminhar. Cada abraço é recíproco e um gesto de amor ao próximo. Assim que fui capaz de criar meus sete filhos”.
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Reprodução
Empréstimo de R$ 2 milhões
Em uma das mensagens entre Netinho e Ademir, o artista fala sobre o pagamento de um empréstimo de R$ 500 mil e outro de R$ 2 milhões. “As questões dos juros eu vou pagando para você o que for dando aí, pode ficar tranquilo, tá bom?”, escreveu Netinho ao agiota em 12 de maio de 2023.
Outro trecho da denúncia também mostrou uma articulação entre o operador financeiro do PCC e o pagodeiro para favorecer integrantes da facção que estavam presos. Na época em que a conversa se deu, Décio Português e Fuminho, chefes do PCC, cumpriam pena na Penitenciária Federal de Mossoró (RN).
Na troca de mensagens entre julho e agosto de 2023, Netinho e Ademir planejavam um encontro com um “amigo”, cuja identidade não foi revelada.
O cantor também enviou dois anexos com informações sobre inspeções do Ministério dos Direitos Humanos em presídios e uma visita técnica da Comissão dos Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial da Câmara dos Deputados para apurar supostas denúncias de violações dos direitos humanos na Penitenciária e Mossoró.
Ao Portal Leo Dias, Netinho explicou que os dois se conhecem há oito anos e que o denunciado é seu fã. Também disse que já foi contratado para fazer show para Ademir, que mantinha “relações de operação financeira” e já fez empréstimos com ele.
O cantor ainda relatou que ficou muito surpreso quando descobriu a relação de Ademir com a facção criminosa. O g1 tenta contato com a defesa de Netinho.
Netinho de Paula é citado em denúncia do Ministério Público
Reprodução/Redes sociais
Entenda a denúncia
Segundo a investigação do Gaeco, os 12 acusados atuavam em conluio com o PCC, usando a estrutura do Estado para favorecer a facção criminosa.
Além da denúncia, o MP pediu que os acusados paguem ao menos R$ 40 milhões em razão do “dano causado pelos crimes cometidos, bem como ao ressarcimento por dano moral coletivo e dano social”.
O documento aponta a existência de um esquema criminoso envolvendo policiais civis e empresários que usavam a estrutura do Estado para obter vantagens ilícitas. Segundo o MP, delegados e investigadores se uniram a criminosos para transformar órgãos como a Polícia Civil em instrumento de enriquecimento ilícito e proteção ao crime organizado.
De acordo com o MP, o esquema consistia em uma “relação simbiótica” entre os agentes públicos e “empresários do crime”:
Enquanto os policiais garantiam a impunidade de criminosos e desviavam investigações, os “particulares” enriqueciam com atividades ilegais.
A atuação do esquema na organização criminosa não se limitava a corrupção e lavagem de dinheiro. Os envolvidos também praticavam tráfico de drogas, homicídios e sequestros. Um dos exemplos citados na denúncia é o assassinato do empresário Antônio Vinícius Gritzbach, morto a tiros em plena luz do dia no Aeroporto de Guarulhos, colocando a vida de milhares de pessoas em risco.
Segundo o documento, Vinicius Gritzbach delatou alguns dos denunciados.
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Agora, a Justiça de São Paulo deve decidir se aceita ou não a denúncia do Ministério Público contra os acusados para o prosseguimento das investigações.
Denunciados pelo Ministério Público
Ademir Pereira de Andrade
Ahmed Hassan Saleh
Eduardo Lopes Monteiro (investigador da Polícia Civil)
Fabio Baena Martin (delegado da Polícia Civil)
Marcelo Marques de Souza (investigador da Polícia Civil)
Marcelo Roberto Ruggieri (investigador da Polícia Civil)
Robinson Granger de Moura
Rogerio de Almeida Felicio (policial civil)
Alberto Pereira Matheus Junior (delegado da Polícia Civil)
Danielle Bezerra dos Santos
Valdenir Paulo de Almeida (policial civil)
Valmir Pinheiro (policial civil)
A TV Globo procurou os citados na denúncia do MP, mas não conseguiu contato até a última atualização desta reportagem.