Bondinho do Pão de Açúcar fecha para turistas em um sábado e tem casamento de conselheiro


Montanhistas estenderam uma faixa na pedra em protesto contra o evento privado realizado em um dos cartões postais mais visitados do Rio. Funcionário do parque cortou a corda que sustentava a faixa e ameaçou os manifestantes. Empresa alegou que o bondinho foi fechado para manutenção. Bondinho do Pão de Açúcar fecha para turistas em um sábado
O Bondinho do Pão de Açúcar, um dos pontos turísticos mais visitados do Rio de Janeiro, ficou fechado no último sábado (21) para o casamento de Pedro Casares, conselheiro de administração do Grupo Iter, responsável pela gestão do bondinho.
No dia do evento privado no Morro da Urca, a cidade estava lotada de turistas por conta do Rock in Rio, mas a empresa que administra o parque comunicou que as visitas estariam suspensas por conta de um serviço de manutenção preventiva em uma das duas linhas do teleférico.
“O Bondinho Pão de Açúcar estará fechado para visitação devido a uma manutenção preventiva programada na Linha 2 do teleférico, que conecta os Morros da Urca e Pão de Açúcar”, dizia o aviso publicado nas redes sociais da empresa que administra o parque.
Apesar da justificativa apontar para a manutenção em uma das linhas do bondinho, as pessoas que tentavam acessar o morro pela trilha, também eram barradas.
“O parque está fechado para manutenção”, disse um funcionário.
Pão de Açúcar e Morro da Urca
Reprodução/ TV Globo
As pessoas que chegavam na Praia Vermelha para visitar o ponto turístico recebiam a informação sobre a manutenção em uma das linhas, além da realização de um “evento corporativo”.
“A gente tá tendo um evento corporativo na Linha 1 e na Linha 2 tá tendo manutenção”, disse outro funcionário.
O Bondinho do Pão de Açúcar existe desde 1912 e é uma empresa privada que funciona em um espaço da União, um monumento natural tombado e protegido.
Casamento privilegiado
Um vídeo gravado por moradores do bairro mostrou algumas pessoas de terno sendo liberadas para um evento corporativo no Pão de Açúcar. Entre eles, fotógrafos e outros profissionais que trabalhariam no casamento.
No topo do morro, a decoração combinava com a vista privilegiada de um dos pontos turísticos mais famosos do mundo.
“Cerimônia mais bonita que eu vi em toda a minha vida, lugar de cerimônia”, disse uma pessoa que viu o evento.
Pão de Açúcar
Reprodução/TV Globo
Na opinião de Sávio Teixeira, ambientalista e diretor do Grupo de Ação Ecológica, a cidade não pode perder um de seus principais pontos turísticos para beneficiar uma empresa privada.
“O Rio de Janeiro vive do turismo. É nosso carro chefe. Nenhum equipamento turístico, exclusivamente turístico, como é o caso do Pão de Açúcar, do Bondinho, e também do Cristo Redentor, ali, do Corcovado, pode fechar as portas simplesmente a sua bela vontade. A seu bel prazer. E impedir que as pessoas acessem o que nós temos de mais valioso, que é nosso patrimônio natural”, comentou Teixeira.
Manifestantes ameaçados
No dia do casamento, um grupo de montanhistas fez um protesto, estendendo uma faixa na pedra. Contudo, eles foram surpreendidos por um funcionário, que começou a cortar as cordas.
“Se soltar aí vai matar alguém, hein”, disse uma montanhista.
“Então se prende”, respondeu o funcionário.
Na sequência, enquanto o funcionário continuava cortando as cordas que prendiam a faixa na parede do morro, a montanhista continuava pedindo cuidado.
“Se você cortar essa corda aqui, tem gente presa aqui”, disse ela.
“Eu tô sabendo”, afirmou o funcionário.
O que diz a empresa
A empresa que opera o bondinho justificou a interdição alegando que seria melhor conciliar as agendas do casamento no Morro da Urca e a manutenção dos cabos do Bondinho no Pão de Açúcar, em um mesmo dia. Segundo eles, se não fosse assim, seriam necessárias duas interdições.
Na opinião do representante da empresa, fechar a atração turística em um sábado de sol não foi nenhum problema.
“A gente tinha dois eventos acontecendo importantes. Um evento privado e uma manutenção, que era necessária e que ia interditar o parque também. (…) A gente sabia que isso ia ter um impacto. A gente se preocupou em comunicar com antecedência”, disse.
O representante não quis comentar o fato do casamento realizado no local ser de um dos conselheiros da empresa que administra o parque.
Sobre a atuação do funcionário diante dos protestos dos montanhistas, a empresa defendeu a abordagem feita e criticou a manifestação.
“O que aconteceu ali foi um ilícito, dentro de uma unidade de conservação, feito sem nenhum respeito a normas de segurança, colocando em risco fauna, flora e a própria integridade dos manifestantes e dos demais escaladores que estavam naquela via”, comentou o representante.
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