Agressões em quartel do Exército, soldado traumatizado, troca de mensagens e expulsão de militares: veja cronologia do caso em SP


Agressões aconteceram em janeiro no 13º Regimento de Cavalaria Mecanizada em Pirassununga, no interior de SP. Militares respondem a processo como civis na Justiça Militar. Exército expulsa 6 militares suspeitos de agressão a soldado em quartel de Pirassununga
O caso do soldado de 19 anos do Exército Brasileiro agredido por seis militares dentro de um quartel no dia 16 de janeiro, em Pirassununga (SP), gerou repercussão nacional pela gravidade da violência e a divulgação de fotos dos hematomas.
As agressões, segundo a vítima, aconteceram durante a jornada de trabalho no 13º Regimento de Cavalaria Mecanizada e foram usados diversos objetos, como madeira e vassoura. Os suspeitos foram expulsos pelo Exército e vão responder como civis na Justiça Militar.
O g1 criou uma linha do tempo em ordem cronológica que explica os principais fatos envolvendo o caso para o leitor compreender tudo o que aconteceu desde então. (veja abaixo por data)
📲 Participe do canal do g1 São Carlos e Araraquara no WhatsApp
LEIA TAMBÉM:
EXPULSÃO: Exército expulsa seis militares suspeitos de agressão dentro de quartel
VIOLÊNCIA: Soldado foi agredido por 6 colegas com cabo de vassoura, tábua e outros objetos
TRAUMA: Soldado agredido tem ataques de pânico ao lembrar de violência: ‘corpo gela’
Dia 16 de janeiro – violência em quartel
A vítima de 19 anos disse que sofreu a violência em 16 de janeiro, quando estava organizando um espaço dentro do quartel e seis soldados disseram que ele teria que limpar uma câmara fria.
Ao chegar ao local, ele disse que foi agredido com remo de panela industrial, pedaços de ripa de madeira e teve a farda arrancada e uma vassoura quebrada na região do ânus.
Segundo o advogado de defesa, Pablo Canhadas, as agressões duraram cerca de 30 minutos. A motivação da violência ainda é desconhecida.
Dia 17 de janeiro – B.O e mensagens de suspeito
O jovem decidiu denunciar o caso e foi até à Polícia Civil de Pirassununga no dia 17 de janeiro. O registro foi feito como lesão corporal e apontou a participação de um cabo e cinco soldados.
A vítima também apresentou os “prints” de mensagens enviadas por um militar identificado como cabo Douglas, fotos da lesão sofrida, e afirmou que passou por atendimento médico e fez exame de corpo de delito no Pronto-Socorro Municipal.
O jovem disse no B.O. que o cabo enviou uma mensagem via WhatsApp, no momento do registro da ocorrência, dizendo que ele estava mentindo e que ele “iria prejudicar a todos”.
Troca de mensagens entre soldado e cabo do Exército aconteceu no início da madrugada de sexta-feira (17)
Reprodução
A Polícia Civil enviou ao Exército Brasileiro documentos e a suposta troca de mensagens. Em uma das mensagens, o cabo afirma que a vítima “aceitou a brincadeira”.
Veja o diálogo abaixo:
Cabo Douglas: “Tá tudo bem com você?”
Soldado agredido: “Bem como se me arrebentaram hoje, uma tortura, não sei nem o que vou fazer da minha vida. Acabaram com a minha vida seus fdp”.
Cabo Douglas: “Não fizemos nada com você. Você aceitou a brincadeira”.
Soldado agredido: “Brincadeira?”
Cabo Douglas: “Quero nem papo com você. Você aceitou”.
Soldado agredido: “Você acha que é brincadeira que fizeram comigo?”
Cabo Douglas: “Você aceitou”.
O Código Penal Militar estabelece, em seu artigo 9º, que crimes cometidos por militares da ativa contra militares na mesma condição, devem ser julgados pela Justiça Militar. Por isso, não houve abertura de inquérito por parte da Polícia Civil, informou o delegado Maurício Miranda de Queiroz.
Dia 20 de janeiro – investigação do Exército
Imagem mostra nádega, perna e cotovelo de soldado após agressões em quartel do Exército em Pirassununga
Arquivo pessoal
O Comando Militar do Sudeste informou na ocasião que foi instaurado Inquérito Policial Militar para apurar o caso.
A instituição disse que não compactuava com qualquer conduta ilícita envolvendo seus integrantes. Afirmou ainda que os envolvidos poderiam ser expulsos, o que aconteceu 1 mês depois.
Dia 24 de janeiro – afastamento
Segundo o advogado de defesa, Pablo Canhadas, o soldado vinha levando uma vida à base de calmantes depois de denunciar a agressão.
No dia 24 de janeiro o jovem passou por uma reavaliação médica no próprio 13º RC, em Pirassununga, e foi afastado das atividades por 45 dias, com uma licença para buscar atendimento psicológico e psiquiátrico.
Dia 28 de janeiro – tratamento
Segundo o advogado de defesa, no dia 28 de janeiro, o militar passou pela primeira consulta com uma médica psiquiatra, que receitou um antidepressivo e um antipsicótico.
Dia 18 de fevereiro – expulsão de militares
13º Regimento de Cavalaria Mecanizada em Pirassununga
Repórter Naressi
O Exército Brasileiro expulsou os seis militares investigados por agressão a um soldado do 13º Regimento de Cavalaria Mecanizado, em Pirassununga. A informação foi confirmada pelo Comando Militar do Sudeste.
Os suspeitos vão responder como civis a processo na Justiça Militar da União (JMU), já que os crimes foram cometidos quando eram militares.
A JMU, em primeira instância, e o Superior Tribunal Militar, em última instância, julgam crimes cometidos por integrantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, ou por civis que atentem contra a Administração Militar federal.
Segundo o Exército, o Ministério Público Militar (MPM) vai definir os crimes pelos quais os ex-militares irão responder. O g1 entrou em contato com o MPM, mas não teve retorno até a última atualização da reportagem.
O inquérito policial militar (IPM) foi concluído na última semana e está sob sigilo.
Em nota, o Exército Brasileiro informou que “repudia, veementemente, a prática de maus-tratos ou qualquer ato que viole os direitos fundamentais do cidadão”. Na semana passada, o soldado foi ouvido pela primeira vez no processo na JMU.
O g1 tentou contato com as defesas dos militares, mas não tinha conseguido até a última atualização desta reportagem. Os nomes deles não foram divulgados.
25 de fevereiro – trauma
O soldado segue afastado em tratamento psicológico e psiquiátrico. O advogado dele relatou que o jovem tem ataques de pânico e ansiedade quando lembra da violência.
“[Ele sente] o corpo gelar, tem dor de barriga e pensamentos ruins”, afirmou Pablo Canhadas.
REVEJA VÍDEOS DA EPTV CENTRAL:
Veja mais notícias da região no g1 São Carlos e Araraquara
Adicionar aos favoritos o Link permanente.