Prefeitura diz fazer busca ativa e enviar SMS para alertar aos responsáveis. Segundo dados do Ministério da Saúde, estado paulista é o que proporcionalmente mais aplicou doses do imunizante no país. Campinas recebe nova remessa de vacina contra a dengue
Fernanda Sunega
Quase 100 mil crianças e adolescentes da cidade de São Paulo estão com a segunda dose da vacina contra a dengue atrasadas, segundo dados da prefeitura da capital.
O público elegível para receber a vacina pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o Brasil são as crianças e adolescentes que têm entre 10 e 14 anos de idade.
O esquema vacinal contra a dengue é composto por duas doses, sendo que a segunda dose deve ser aplicada três meses após a primeira de acordo com o Programa Nacional de Imunizações (PNI).
A gestão municipal afirma que têm realizado busca ativa para localizar os adolescentes faltosos e orientado a comparecer às UBSs para receber a vacina. Diz ainda que envia mensagens via SMS para os pais/responsáveis comunicando o atraso e convocando para o comparecimento na unidade.
Crianças e adolescentes dos 10 aos 14 anos foram escolhidos como público-alvo da imunização contra a dengue por representarem a faixa etária com maior número de internações pela doença depois dos idosos, para os quais a vacina não foi liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O infectologista Jamal Suleiman, do Instituto Emílio Ribas, explica que, ainda que o número de casos de dengue tenha reduzido na cidade, é importante completar a imunização uma vez que a dengue é uma doença sazonal.
“Daqui alguns anos a gente vai ter de novo outro surto de dengue e, para as pessoas que estiverem vacinadas, o impacto vai ser muito pequeno”, explica o médico infectologista. “A gente tem a vacina disponível, e ela vai proteger essa população durante um período muito longo.”
SP lidera aplicação da vacina
Um levantamento feito pela Globonews com base em dados do Ministério da Saúde mostra que São Paulo é o estado brasileiro que, proporcionalmente, mais aplicou doses da vacina contra a dengue em relação ao total de doses recebidas.
O estado recebeu 1,1 milhão de doses do Ministério da Saúde, e aplicou até o momento 754,4 mil, entre primeiras e segundas doses, totalizando a aplicação de 69% do total recebido.
Como ainda não há doses suficientes para todo o público-alvo — que são as crianças de 10 a 14 anos de idade —, mesmo sendo o estado que mais aplicou doses do imunizante, a cobertura vacinal em São Paulo para a primeira dose ainda é de 19,5% do total do público-alvo, e de apenas 6,14% para a segunda dose.
Depois de São Paulo, os estados que aplicaram o maior percentual em relação ao total recebido foram Alagoas e Amazonas, que aplicaram 65% das doses; Sergipe aplicou 62%; Paraíba e Santa Catarina, 61%.
Na outra ponta, o Amapá aplicou somente 19% do total de doses recebidas até o momento — recebeu 47,4 mil doses do Ministério da Saúde, mas aplicou somente 9 mil.
Na sequência, entre os estados que, proporcionalmente, menos aplicaram doses estão Acre e Rondônia, com 21% cada.
Ao todo, o Ministério da Saúde distribuiu 4,7 milhões de doses da vacina contra a dengue para todo o país.
A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo disse, em nota, que a vacinação contra a doença segue em curso em 391 municípios paulistas.
Também afirma que promove campanhas constantes para conscientizar a população sobre a importância da imunização.
O Ministério da Saúde alega que o Brasil é o único país do mundo que incorporou a vacina contra a dengue ao calendário de vacinação em áreas e faixas etárias específicas — crianças e adolescentes de 10 a 14 anos — seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para esse público-alvo, o MS ressalta que “está sendo realizada uma busca ativa para garantir a aplicação da segunda dose nos adolescentes, que geralmente não têm o hábito de frequentar os postos de saúde para atualização vacinal”.
A pasta também informa que enfrenta a hesitação vacinal por meio de iniciativas como Microplanejamento, Movimento Nacional pela Vacinação e o projeto Saúde com Ciência, que visa combater a desinformação.
Neste ano, o Brasil registrou mais de 6,3 milhões de casos de dengue. Somente no estado de São Paulo foram mais de 2 milhões de casos até o dia 25 de setembro, além de 1,7 mil óbitos confirmados pela doença.
Dengue durante o inverno
Em todo o Brasil, mais de 128 mil casos de dengue foram registrados nas semanas epidemiológicas que compreenderam o período do inverno. Na mesma estação em 2023, foram cerca de 104 mil casos registrados. Portanto, neste ano, o número de casos da doença mais que dobrou durante essa estação.
Segundo a infectologista Rosana Richtmann, do Instituto Emílio Ribas, o aumento reflete o elevado número de casos registrados no início deste ano. “Ainda é um resquício da maior circulação do vírus entre nós”, afirma a especialista.
A dengue costuma ter maior incidência na população nos meses de verão, uma vez que as altas temperaturas e as chuvas que marcam a estação são fatores que favorecem o ciclo de vida do mosquito Aedes aegypt, transmissor dessa arbovirose. No calor, a reprodução do mosquito acontece com maior velocidade.
Um inverno menos frio, como o que aconteceu neste ano, também está diretamente relacionado com o aumento de casos da doença de acordo com a infectologista do Instituto Emílio Ribas.
Os ovos do mosquito podem sobreviver de 300 a 400 dias se não entrarem em contato com a água. Quando esse contato acontece, em sete dias o mosquito se torna adulto. “Apesar do calor, como não estamos tendo chuvas, a tendência é que diminua cada vez mais o número de casos”, explica Richtmann. “Mas os cuidados com água parada devem seguir o ano inteiro, independente da estação.”
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