VÍDEO: vila de Brasília inundada pelo Lago Paranoá na década de 1950 é recriada usando IA


Vila Amaury, onde viviam operários que ajudaram a erguer capital, foi tomada pela água; ruínas ainda estão no fundo do lago. Autores do vídeo de recriação do local usaram fotos antigas e pesquisas. Submersa em 1959, Vila Amaury, em Brasília, é recriada por publicitários usando IA
A Vila Amaury, inundada pelo Lago Paranoá em 1959, em Brasília, foi recriada em vídeo por meio de inteligência artificial (IA). Os autores da produção, os publicitários João Amador e Rodrigo Alvarez, usaram fotos antigas e pesquisas para simular como seria a região tomada pela água na época da construção da capital (veja vídeo acima).
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No vídeo aparecem, na perspectiva de moradores do local, os barracos, as crianças brincando, os trabalhadores e elementos da década de 1950, como rádios e cassa-níqueis. Ao fundo, é possível ver o Congresso Nacional sendo construído. No final, o vídeo mostra a vila sendo inundada com os moradores ainda nela.
As ruínas da Vila Amaury estão no fundo do lago localizado no centro de Brasília. Lá, moravam operários que ajudaram a erguer a capital do país (veja detalhes mais abaixo).
João Amador, autor do blog “Histórias de Brasília”, explica que o vídeo faz parte de uma série que está sendo produzida para mostrar lugares e épocas de Brasília sob o ponto de vista das pessoas que viveram aquela realidade. Rodrigo Alvarez, responsável pela parte técnica de execução do vídeo, contou ao g1 como foi o processo para chegar ao resultado final.
“Não há registros audiovisuais, apenas poucas fotos. Então, para entender melhor a vida na Vila Amaury, nós realizamos uma pesquisa sobre os costumes e a rotina dos moradores da época. Descobrimos que a Vila Amaury foi um lugar vibrante, com um parque de diversões e uma rádio própria que transmitia música, notícias e declarações de amor”, diz.
A professora da Universidade de Brasília (UnB) Maria Fernanda Derntl, do departamento de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo, explica que recriações assim são importantes para a memória da vila como parte da história de Brasília.
O vídeo é interessante ao mostrar um certo clima, por exemplo, com a presença do rádio, da máquina de costura, mostrar um ambiente que era muito denso. É um lugar que vai ser inundado enquanto há ainda pessoas morando
Inteligência artificial
Vila Amaury recriada por IA
Reprodução
O publicitário Rodrigo Alvarez conta que para recriar a vida na Vila Amaury de forma realista, utilizou uma combinação de técnicas de inteligência artificial.
“Inicialmente utilizei informações da época nos ‘prompts’ e manipulação de imagens relacionados à Vila Amaury para gerar uma sequência de imagens que recriassem a vida na cidade”, diz.
➡️Prompts são os comandos enviados ao sistema de inteligência artificial para que ele gere a resposta desejada.
“Após a geração das imagens utilizei outra ferramenta para ter um controle melhor dos resultados dos vídeos, através de prompts como ação dos personagens, iluminação, especificações e movimento de câmera”, explica Rodrigo.
Para a professora Maria Fernanda Derntl, a ideia do uso da inteligência artificial para recriar momentos da história não é ter exatidão, mas sim trazer uma visão mais humanizada daquele momento. “Mostrar as vivências das pessoas ali, o que é muito diferente de quando a gente simplesmente lê ou tem um dado oficial, que é algo mais distante”, pontua.
“Como nesse caso, para lançar luz sobre a presença da favela como parte da história de Brasília e não como um mero ‘acidente’, ou um mero desvio. Brasília, por sua natureza muito restritiva e excludente em relação às moradias oferecidas, vai contribuir para gerar favelas e, continuamente, também a gente vai ter autoridades pretendendo removê-las”, ressalta Derntl.
‘Cidade submersa’
Imagens subaquáticas mostram ônibus submerso no Lago Paranoá
Construída para servir como um acampamento provisório, a extinta Vila Amaury abrigou 16 mil operários da construção de Brasília. Um vídeo feito por uma equipe de mergulhadores (assista acima) mostra ruínas do local e até um ônibus submerso.
A gravação, realizada em 2017, foi cedida pelo Arquivo Público do Distrito Federal.
À época da inundação, os trabalhadores da vila foram informados que, quando a obra da barragem do Lago Paranoá fosse encerrada e as comportas fechadas, precisariam sair do acampamento. Apesar do acordo, houve resistência por parte das famílias.
Durante oito meses, em 1959, as águas avançaram mansas e lentas sobre a terra seca. A Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) precisou ordenar que os moradores deixassem a região. Segundo historiadores, “a água já atingia a altura dos joelhos das pessoas”.
Imagens subaquáticas mostram ruínas da Vila Amaury e pertences submersos no Lago Paranoá
Como as comportas da barragem foram fechadas no período em que as chuvas começavam a ficar mais fortes, o lago encheu muito rapidamente, e não houve tempo para remover os barracos da vila e limpar a área que seria inundada.
“Segundo o censo de 1959, a Vila Amaury era o lugar mais pobre de Brasília e também onde havia o maior número de população negra. Então, ela era muito expressiva já das fortes contradições de Brasília”, aponta a professora Maria Fernanda Derntl, do departamento de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo da UnB.
A ideia é que esse lugar era, por natureza, um lugar provisório, justamente porque quando a barragem do Lago Paranoá ficasse pronta, ele acabaria sendo inundado. Então ele estava fadado a desaparecer.
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