Falta do dispositivo, que funciona como uma prótese, tem feito as pessoas usarem mesma bolsa por até 10 dias. Um protesto foi realizado na manhã desta quarta-feira (11). Pacientes ostomizados estão sem receber bolsas de colostomia de forma regular há 5 meses em Pernambuco
Os pacientes que utilizam bolsas de colostomia em Pernambuco têm sofrido com a falta do produto na rede pública estadual de saúde, principalmente os que são atendidos no Hospital Barão de Lucena, na Iputinga, na Zona Oeste do Recife (veja vídeo acima).
Sem receber o material há várias semanas, os pacientes ostomizados fizeram, na manhã desta quarta-feira (11), um protesto em frente ao Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco, e foram recebidos pelo secretário executivo da Casa Civil, Yuri Coriolano.
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Bolsa de colostomia é um dispositivo médico que funciona como uma prótese coletora, que coleta resíduos biológicos como urina e fezes em pessoas com algumas condições de saúde que afetam o trato intestinal e urinário (veja vídeo mais abaixo).
Uma pessoa ostomizada elimina as fezes diretamente para a bolsa de colostomia e precisa trocar o material no máximo a cada três dias, o que torna o tratamento caro para a maioria das pessoas. Desde que o produto começou a faltar na rede estadual de saúde, alguns pacientes têm usado a bolsa por até sete ou 10 dias.
O que é e pra que serve a bolsa de colostomia
O dispositivo tem vários modelos e cada pessoa deve usar o tipo específico para a sua questão de saúde, sem poder trocar por “genéricos” ou modelos diferentes, sob o risco de desenvolver infecções e outros problemas de saúde.
“Estou pedinte agora. Não tenho condições para comprar. É a mesma novela porque é muito caro e não chega de forma adequada para a gente. Não vou usar nenhuma [bolsa] substituta porque me faz mal. Estou com uma dermatite, está inflamada e eu sou diabética”, disse a autônoma Erika Vicente, em entrevista à TV Globo.
O material começou a faltar em Pernambuco em dezembro de 2023, quando passou a ser distribuído de forma irregular. Em janeiro deste ano, a situação piorou, e 2.800 pessoas estavam cadastradas para receber as bolsas de colostomia no Hospital Barão de Lucena. Atualmente, 3.100 pessoas estão na lista de espera pelo material na unidade de saúde.
A Associação de Ostomizados de Pernambuco tem ajudado os pacientes com doações, mas não consegue atender toda a demanda. Os ostomizados já registraram denúncias e queixas junto ao governo de Pernambuco, à Secretaria Estadual de Saúde, às defensorias públicas do Estado e da União, ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e à Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), mas não conseguiram uma solução para o problema.
O analista de tecnologia da informação Alexandre Correia disse que está há cinco meses aguardando a regularização da entrega. “Estou sem receber a bolsa no Barão de Lucena. Recebo pela associação, ou às vezes compro. [O preço] da minha bolsa varia, na internet, entre R$ 500 e R$ 800, dependendo do tipo”, contou.
Pacientes que usam bolsas de colostomia protestam por distribuição de dispositivo no Hospital Barão de Lucena
Reprodução/TV Globo
Essa situação também prejudica a aposentada Madalena Vasconcelos. “Isso aqui é um ‘kit vida’, que você tem que ficar 24 horas. Você dorme e acorda com a bolsa pendurada na barriga. É muito ruim você acordar e não ter uma bolsa para você colocar. É triste, é desumano”, declarou.
A última promessa do governo era de que a situação seria regularizada e cada pessoa receberia 10 bolsas de colostomia por mês, quantidade suficiente para uma troca a cada três dias. Entretanto, o prazo não foi respeitado, e agora o dispositivo está totalmente em falta.
“A gente fez vídeo, já divulgamos, já tentamos chegar junto para ter uma roda de conversa tão esperada e simplesmente o governo está nos obrigando a fazer esses protestos, a fazer essas reuniões, para ver se escuta a gente”, declarou a aposentada Dalvanize Santos.
Promessas de regularização
O deputado Adalton Santos (PP), presidente da Comissão de Saúde e Assistência Social da Alepe, disse à TV Globo que aguarda um posicionamento do governo do estado e que o próximo passo será agendar uma audiência com a governadora Raquel Lyra (PSDB).
“A primeira posição que tomamos foi fazer uma visita ao hospital [Barão de Lucena], conversar com a diretoria e ver de perto o sofrimento das pessoas. A segunda posição foi cobrar providências à Secretária de Saúde e, ontem, oficializamos novamente [a secretaria], pedindo providências. O próximo passo agora é ir ao governo do estado ainda esta semana e pedir à governadora uma providência de imediato”, afirmou Adailton Santos.
A Secretaria Estadual de Saúde enviou uma nota à TV Globo em que afirma que está “trabalhando para regularizar a situação”. Também disse que:
Concluiu alguns contratos e, com isso, será possível ampliar o atendimento às pessoas que precisam de bolsas de colostomia;
Em 15 dias, as bolsas adquiridas nos novos contratos de compra vão chegar para quatro grupos;
Para saber se o material chegou, os pacientes devem telefonar para o hospital;
Vai disponibilizar um aplicativo para facilitar a consulta sobre a disponibilidade dos dispositivos médicos;
Vai identificar os pacientes que podem fazer a cirurgia para reverter a situação.
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