
A morte de 15 pessoas após desabamento da cobertura de uma estação gerou revolta contra o governo. Uma organização não governamental especializada estima que entre 275 mil e 325 mil pessoas participaram da manifestação, tornando-a a maior da história de Belgrado
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Centenas de milhares de pessoas foram à capital da Sérvia no sábado (15/3) para protestar contra as mortes de 15 pessoas no colapso de uma estação ferroviária.
O governo estimou o comparecimento em 107 mil pessoas em Belgrado, mas um monitor independente disse que o número pode superar 325 mil, o que torna o evento o maior protesto da história da Sérvia.
O colapso do teto da estação de Novi Sad em novembro galvanizou a raiva contra o governo e o presidente Aleksandar Vucic.
Os manifestantes culpam a corrupção e a economia de custos pela perda de vidas.
Eles acreditam que o desastre reflete mais de uma década de governo do Partido Progressista de Vucic, que se associou intimamente à recente reforma da estação.
Vucic discursou à nação no sábado e elogiou a polícia, acrescentando que estava orgulhoso de conseguir “preservar a paz”.
Ele acrescentou que “entendeu” a mensagem dos manifestantes e disse: “teremos que mudar a nós mesmos”.
Apesar de várias renúncias de integrantes do governo, e da insistência de Vucic de que não vai a lugar nenhum, os protestos só continuaram a crescer.
“Só queremos um país que funcione”, disse a estudante de direito Jana Vasic à BBC na multidão crescente em Belgrado.
“Queremos instituições que façam seu trabalho corretamente. Não nos importamos com qual partido está no poder. Mas precisamos de um país que funcione, não um onde você não tenha justiça por mais de quatro meses.”
Manifestantes sérvios seguraram luzes de celulares por 15 minutos em homenagem às vítimas do desabamento do teto da estação de Novi Sad
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O Public Meeting Archive (Arquivo de Reuniões Públicas, em tradução livre) disse que 275 mil a 325 mil compareceram ao protesto, “com a possibilidade de que o número tenha sido ainda maior”.
“Devido ao tamanho extraordinário, natureza dinâmica e estrutura da assembleia, bem como à situação pouco clara em algumas partes da cidade… uma avaliação mais precisa não é possível”, acrescentou.
A mídia sérvia relata que 22 pessoas foram presas e outras 56 ficaram feridas.
Embora os protestos contra o colapso de Novi Sad tenham começado com estudantes, eles foram acompanhados por taxistas, fazendeiros e advogados.
Antes do grande protesto, motociclistas pararam do lado de fora da Assembleia Nacional, enfrentando os tratores que cercavam um acampamento de contra manifestantes pró-governo.
E um desfile de veteranos militares recebeu uma recepção calorosa. Eles disseram que fariam uma prisão cidadã para qualquer um que atacasse os estudantes.
Agricultores, estudantes e motociclistas participaram das grandes multidões que protestavam no centro de Belgrado
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Os estudantes têm exigido total transparência e responsabilização sobre o colapso de uma cobertura de concreto e vidro na estação na segunda maior cidade da Sérvia, que foi reformada e reaberta – por Vucic – em 2022.
Eles querem que o governo publique toda a documentação relacionada ao projeto de reforma e dizem que não estão satisfeitos com os documentos que as autoridades divulgaram até agora.
Também querem que os responsáveis pelo desastre sejam acusados e condenados. Os promotores indiciaram pelo menos 16 pessoas, incluindo o ex-ministro da construção Goran Vesic.
Mas as acusações ainda não foram a julgamento. E os estudantes insistem que continuarão com seus protestos até que as autoridades atendam a todas as suas demandas.
“Estamos progredindo”, disse um estudante representando a faculdade de Filosofia da Universidade de Belgrado à BBC. “Mas neste momento nenhuma de nossas demandas foi atendida completamente.”
“Alguns políticos renunciaram aos seus cargos”, observou outro. “Mas eles não foram demitidos. Ainda não vimos nada além de promessas vazias”.
O primeiro-ministro Milos Vucevic anunciou sua renúncia no final de janeiro. Mas isso ainda precisa ser ratificado pela Assembleia Nacional, e ele permanece em seu posto.
Mas o verdadeiro poder na Sérvia está com Vucic, que insiste que não vai a lugar nenhum.
“Eu não cedo à chantagem”, disse ele em uma entrevista coletiva na véspera do grande protesto. “Não permitirei que a rua pavimente um futuro horrível para este país.”
Quinze pessoas morreram após o desabamento do teto da estação de Novi Sad em novembro
Reuters
Vucic descreveu os protestos estudantis como “bem-intencionados”. Mas ele teve palavras menos lisonjeiras para os partidos de oposição, rotulando-os de membros de um “cartel criminoso”.
Ele os acusou de tentar forçar a formação de um “governo interino fraudulento”.
Borko Stefanovic não nega que os partidos de oposição estejam buscando o estabelecimento do que chamou de um “governo de especialistas”.
O vice-presidente do Partido da Liberdade e Justiça descreve isso como a “única saída racional” da crise política, que estabeleceria as condições para novas eleições.
Como outros líderes da oposição, Stefanovic diz que eleições livres não são possíveis atualmente devido ao domínio do Partido Progressista sobre a mídia e as instituições estatais.
Mas essa não é uma das demandas dos estudantes. Eles estão simplesmente pedindo que a verdade por trás do desastre de Novi Sad seja estabelecida.
Como o professor de direito Miodrag Jovanovic coloca, eles estão pedindo “o estado de direito, o respeito pela constituição e a responsabilidade e prestação de contas dos funcionários públicos”.
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