
Os ‘caminhos’ ou ‘linhas de desejo’ são passagens criadas por quem anda por determinadas áreas, com o intuito de chegar mais rápido ao destino final. Pedestres criam caminhos para facilitar trajetos
Na correria do dia a dia, todos buscam o seu caminho e, de preferência, o que faça chegar mais rápido ao destino. É possível ir de de carro, transporte público ou a pé… Mas, o que fazer quando o trajeto se torna um obstáculo? Em Mogi das Cruzes, alguns moradores têm dado seu jeito para isso.
“Essa parte aqui é uma área particular, mas essa parte aqui é da Prefeitura. Então, vieram aqui vereadores e falaram que iam fazer uma praça. Há um objetivo para fazer uma pracinha aqui. Falaram de colocar aparelhos para a gente mesmo, que a gente faz ginástica, para a gente fazer exercício, mas só ficou na promessa, reclamou Rejane Ribeiro.
Ela estava falando de uma passagem na rua Rosa Lins de Albuquerque, no Mogi Moderno. No local, os próprios pedestres criaram uma passagem para encurtar o trajeto, o que acabou se tornando a única opção de quem anda por lá.
✅ Clique para seguir o canal do g1 Mogi das Cruzes e Suzano no WhatsApp
Com a ajuda de um GPS, do alto, a dificuldade fica ainda mais visível (veja no vídeo acima). O mapa ignora o caminho criado pelos moradores. Sem ele, para chegar do outro lado são mais de 20 minutos de caminhada pra completar cerca de 1,3 quilômetro de distância.
Esse traçado feito pelos pés de quem o usa, criou uma espécie de cicatriz. Isso tem um nome: ‘caminhos’ ou ‘linhas de desejo’. Quem explica melhor sobre isso é a arquiteta Priscila Rodolfo.
“É um caminho de terra batida assim mesmo, criado muitas vezes pela população para encurtar o trajeto entre dois pontos. Então, basicamente a população mesmo tem essa necessidade desse encurtamento por falta de um acesso, uma calçada, um caminho pensado justamente para essas distâncias”, ressaltou a profissional.
E a insistência às vezes dá certo. Alguns caminhos de desejo recebem o concreto e se tornam vias. E quando se fala em desenvolvimento urbano, é preciso ter um planejamento.
“Quando a gente fala em urbanismo, a gente tem que pensar em estratégias onde a gente, de forma inteligente, cria caminhos mais curtos, mais objetivos, mais seguros para o pedestre. Igual a gente vê aqui, além de ser um caminho que não é seguro, a gente também tem a falta de acessibilidade. Então, tudo isso tem que ser pensado na hora da urbanização e do plano do poder público em relação à cidade”, completou a arquiteta.
‘Linhas de desejo’: os caminhos inventados por pedestres na cidade feita para carros
Um caminho que até então era somente mais um caminho, agora é visto como mais do que um desejo de quem o utiliza, é, na verdade, uma forma de mostrar que algo não está certo.
“Se o mato vai crescendo com a chuva, aqui é impossível passar e aqui é uma área que todo mundo passa para pegar ônibus. É uma área escolar, né? As crianças passam para a escola, idosos já caíram aqui. Então, é uma coisa que tinha que ser bem priorizada aqui esse pedaço, né?”, reivindicou Rejane.
O que diz a Prefeitura
Por meio de nota, a Prefeitura de Mogi das Cruzes informou que o terreno onde o caminho foi aberto é particular. Porém, afirmou que o Departamento de Fiscalização e Posturas já notificou o proprietário para que seja providenciada a limpeza da área, conforme determina a legislação vigente.
A administração municipal ressaltou que tem como objetivo melhorar continuamente os espaços urbanos, criando rotas seguras, eficientes, com acessibilidade e ambientalmente sustentáveis para os pedestres.
Disse ainda que essas ações dependem de estudos técnicos que incluem disponibilidade de áreas, análise de demanda que justifique as intervenções e integração com os demais dispositivos de mobilidade existentes.
Solicitações podem ser feitas pelo aplicativo Colab e pela ouvidoria municipal, no telefone 156.
Pedestres usam caminho improvisado em Mogi das Cruzes
Reprodução/TV Diário
Assista a mais notícias do Alto Tietê