Preços do café e do suco de laranja sobem muito além da inflação no último ano


A seca e o calor foram os maiores responsáveis por essa alta. Os preços do café e da laranja aumentaram bem mais do que a inflação
Os preços de duas bebidas que fazem parte da vida dos brasileiros subiram muito além da inflação no último ano. A seca e o calor foram os maiores responsáveis por essa alta.
Foi bem na fase em que os grãos começam a ganhar peso que o cafezal em Três Pontas, no sul de Minas, enfrentou uma onda de calor. As folhas amareladas e secas são sinal de que os pés de café estão sob estresse e podem render 50% menos em 2025, nas contas do engenheiro agrônomo Guilherme Ferreira.
“O café, a gente sabe que a temperatura ideal para ele é uma temperatura amena em torno de 23ºC, 24°C. E a gente chegou a ter aqui temperaturas de 32ºC, 33°C. Então, isso prejudica muito o desenvolvimento da lavoura”, afirma.
Não é só por lá que o clima afeta a produção de uma das bebidas mais populares do mundo.
“No caso do café, a gente tem um cenário adicional que foi a queda da oferta do Vietnã em 2024, o que fez com que ao longo do segundo semestre do ano passado, os preços já operassem em uma margem maior”, afirma André Diz, professor de Economia Ibmec SP.
E tem ainda outro fator:
“Como a nossa moeda depreciou de uma forma mais rápida, em dólares, o café brasileiro acaba ficando mais atraente para os compradores internacionais”, afirma André Diz.
A laranja também está crescendo menos com o calorão. E, para piorar, uma doença – o greening – se espalhou por mais de 40% dos pomares de São Paulo e Minas Gerais, estados que mais produzem a fruta.
“A gente teve um problema de estiagem ao longo de 2024, e isso fez com que a produção caísse cerca de 1%, segundo o IBGE, em termos de produção 2024 em relação a 2023, o que fez com que os preços aumentassem”, diz André Diz.
Preços do café e do suco de laranja sobem muito além da inflação no último ano
Jornal Nacional/ Reprodução
Espremendo os números, o resultado é uma inflação que pesa no bolso de todo mundo. Para o consumidor, o café moído teve alta de 66% nos últimos 12 meses. A saca de 60 kg mais que dobrou em um ano. Nesse mesmo período, a laranja pera subiu mais de 21%; e a lima, quase 41%. É de azedar o refresco de qualquer um. E tanto a safra do café quanto a da laranja devem ser menores em 2025.
“Era bem barato agora para tomar… Quem toma todo dia, vai ter que tomar um dia sim, um dia não e olhe lá”, diz a diarista Cristina Pereira.
A inflação de itens tão básicos desafia consumidores e empresários. Em uma lanchonete, apesar da alta do café e da laranja, o cafezinho e o suco, dois campeões de vendas, ainda não subiram. A estratégia para compensar o aumento de custos foi reajustar outros itens do cardápio. Nos últimos meses, tudo subiu um pouco para bancar os gastos com os mais 30 kg de café e as 60 sacas de laranja consumidos todos os meses lá.
“Se eu dobrar o preço do café como dobraram para mim, eu vou vender para quem? Não tem muito o que fazer. Eu acabo aumentando outros itens do cardápio para conseguir suprir. A gente aumentou o refrigerante, a gente aumenta um pãozinho na chapa, a gente aumenta um comercial, o chamado PF”, conta o dono de restaurante Marcelo Aguiar.
Enquanto as contas fecharem, o cafezinho depois do almoço vai de cortesia para o cliente.
“Muito valioso. Então, a gente toma degustando até o último golinho”, diz a publicitária Patricia Pagnani.
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