VÍDEO: jovem grava assediador em trem na Grande SP, compartilha vídeo, e outras mulheres relatam ter sido vítimas dele também

‘Durmo à base de remédio. Fecho os olhos e vejo a cara dele’, relatou a jovem vítima de importunação sexual em trem da Linha 7-Rubi. Segundo a SSP, o suspeito foi identificado e intimado a prestar depoimento. A CPTM afirma colaborar com a investigação. Passageira filma importunação sexual em trem de SP
Ana, de 20 anos, estava a caminho de seu curso de cuidadora infantil quando percebeu haver um homem em pé ao seu lado esfregando a genitália no ombro dela. Ao perceber que estava sendo vítima de importunação sexual, a jovem começou a gravar a situação.
O caso aconteceu em 20 de fevereiro na estação Francisco Morato, da Linha 7-Rubi da CPTM (veja vídeo acima). Ana afirmou ter medo de sofrer retaliações, por isso está identificada nesta reportagem com um nome fictício.
O vídeo, divulgado nas redes sociais, viralizou e teve um efeito com o qual ela não esperava: trouxe relatos de outras meninas que afirmam ter sido vítimas do mesmo homem.
A jovem enfrenta quase três horas de condução para chegar ao curso. São dois ônibus, dois trens e dois metrôs até finalmente chegar ao Instituto Cruz Vermelha, em Moema, Zona Sul da capital. No momento em que ocorreu o assédio, ela estava com fone de ouvido, sentada e estudando.
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“Eu estava com o caderno no meu colo, imersa ali no conteúdo. Eu estava copiando as lições que faço de um curso na Cruz Vermelha e a princípio eu não achei que era um homem que estava me empurrando”, relembra.
“Achei que era uma mulher me empurrando por conta da lotação do trem ou só uma pessoa muito maluca que estava me empurrando para outras passarem, porque vinha e voltava, né? [Fazia] movimento de vai e vem. Foi quando olhei para cima, por sentir algo duro no meu braço, e percebi que era um homem. Não era uma mulher, não era uma bolsa roçando em mim. Era o pênis dele. E eu fiquei muito assustada, eu fiquei assustada por estações até eu conseguir reagir, até conseguir descongelar, pegar meu celular e falar.”
Ana teve medo de chamar atenção, e as pessoas ao redor não acreditarem nela.
“Foi muito difícil. Eu senti muito medo, senti que eu era menor que ele, senti alguma coisa que me travava, que não me deixava falar. Eu sentia medo de fazer escândalo, sentia medo de as pessoas me tirarem de louca. Eu não queria acreditar que aquilo tava acontecendo comigo. Senti medo o tempo todo”, desabafou.
Mesmo com medo, tomou coragem para gravar e dizer em voz alta o que estava acontecendo.
No vídeo, é possível ouvir algumas mulheres comentando entender por que elas não conseguiam se mover mais para o lado: não queria que outras pessoas o tirassem dali. Apesar de homens e mulheres ao redor presenciarem o que estava acontecendo e ouvirem o pedido de ajuda da vítima, Ana não teve a ajuda que esperava.
“Ele [assediador] saiu [do vagão] porque ele quis, ele saiu andando, com a cabeça erguida e falando como se [eu] fosse maluca. Que era a mochila dele [que estava encostando], quando o vídeo mostra claramente que não. As mesmas mulheres [que falam no vídeo] na hora só olharam indignadas, ninguém falou nada. Tinha homens à frente, olhando para o meu rosto, olhando para o rosto dele, nenhum deles fez nada. Me senti completamente sozinha no mundo.”
Ana relata que, menos de uma hora após o ocorrido, entrou em contato com um dos canais de denúncia da CPTM, via Whatsapp, e informou o que acontecera na esperança de os responsáveis dizerem que tentariam encontrá-lo, mas não foi o que aconteceu. Ela conta que foi orientada a fazer uma denúncia.
“Talvez se tivessem segurado ele no trem e chamado o guarda teria sido diferente. Talvez fosse detido, levado em flagrante. Mas eu não podia descer [do trem] porque não podia me atrasar. E sinceramente? Assim que ele desceu, entrei em pânico, nem pensei nisso. Pensei ‘pelo menos eu consegui falar e registrar’.”
Já na delegacia, a jovem relatou ter enfrentado resistência dos policiais para registrar o boletim presencialmente. “Quando eu falei que queria fazer presencialmente, eles falaram: ‘Mas foi só assédio? Ele te agrediu? ‘Ejaculou em você? Se não, você pode fazer online mesmo, como é só assédio, faz online e não precisa esperar aqui”, informou. Ana decidiu esperar. Ela conta que chegou à delegacia por volta das 17h, saiu cerca de meia-noite.
“Durmo à base de remédio. Fecho os olhos e vejo a cara dele”, diz a vítima.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou, por nota, que o caso está sendo investigado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Francisco Morato e que o suspeito já foi identificado e intimado a prestar depoimento (leia mais abaixo).
Já a CPTM afirma lamentar o ocorrido e que tem colaborado com as autoridades para elucidar o caso (leia mais abaixo).
Histórico
Ana compartilhou o vídeo da importunação em páginas conhecidas no Instagram e em alguns jornais da região de Francisco Morato, onde ela mora.
Foi por meio desta divulgação que moradores da cidade reconheceram o homem. Com a identificação, outras jovens entraram em contato com ela para relatar abusos sofridos.
“Começaram a me ligar meninas falando que esse cara já tinha abusado delas. Uma delas que me ligou é prima dele e falou: ‘Oi, tudo bem? Eu conheço ele, é meu primo. Ele abusou da minha irmã quando ela tinha 5 anos. Ninguém teve coragem de denunciar na época, porque era há muitos anos, as pessoas não denunciavam isso’.”
O que dizem SSP e CPTM
A Secretaria de Segurança de São Paulo informou que “o caso está sendo investigado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Francisco Morato por meio de inquérito policial instaurado. O suspeito já foi identificado e intimado a prestar depoimento. A autoridade policial aguarda seu comparecimento e segue conduzindo diligências para o completo esclarecimento dos fatos”.
Já a CPTM, diz lamentar o ocorrido e que tem colaborado com as autoridades para elucidar o caso. “Na ocasião, a vítima entrou em contato com os canais de atendimento para informar do crime, onde foi orientada a procurar a equipe de segurança, para a tentativa de reconhecimento, identificação e encaminhamento do abusador à delegacia policial. Como não dispunha de horário para o registro imediato, a vítima foi orientada a realizar o registro do boletim de ocorrência em uma delegacia, o quanto antes, para as devidas providências.”
A companhia também informou que está encaminhando as imagens requisitadas pela autoridade policial. Além de ressaltar a importância de vítimas ou testemunhas denunciarem crimes de assédio sexual ocorridas nas estações ou dentro dos trens.
*Sob supervisão de Paula Lago.
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