Estudo da Unicamp utilizou registros paleontológicos resgatados na Península Ibérica. Revelações ajudam a compreender de que forma eventos climáticos extremos impactam na biodiversidade. Reconstrução paleoecológica representando o ecossistema local e a fauna extinta no sítio paleontológico de Els Casots, na Espanha, datado em 16 milhões de anos atrás
Oscar Sanisidro/Universidad de Alcalá de Henares
Uma pesquisa realizada pela Unicamp, em parceria com instituições na Espanha e Suécia, estudou de que forma mudanças climáticas que aconteceram na Península Ibérica há 20 milhões de anos provocaram a extinção em massa de grandes predadores.
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Com auxílio dos registros fósseis e de modelos ambientais sobre a época estudada, os pesquisadores reconstruíram e analisaram a rede de cadeias alimentares para compreender de que forma eventos climáticos extremos afetam na diversidade biológica.
O estudo fornece pistas para compreender o impacto da atual crise ambiental na biodiversidade. Ao g1, João Nascimento, doutorando no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, e o professor do IB Mathias Pires explicam como foi realizada a investigação e as possíveis implicações no presente.
“A gente vê como o passado pode dar lições do que pode acontecer com as nossas ações hoje e entender o que pode acontecer daqui para frente também”, diz Nascimento.
🌍 Crise ambiental
Os pesquisadores explicam que as mudanças climáticas são naturais, mas normalmente não ocorrem na velocidade vista em tempos atuais. Esta forma acelerada dificulta a adaptação das espécies, colocando-as em “grande risco”.
“As mudanças climáticas ocorrem, mas isso em tempos largos. A gente está passando por um processo mais acelerado atualmente, extremamente acelerado. Que dá ainda menos tempo de reação para as espécies.”, comenta Pires.
Desta forma, Pires explica que entender os mecanismos responsáveis pela extinção de espécies no passado permite compreender melhor o que pode levar as espécies do presente serem extintas no futuro.
O cenário vivido atualmente, de diminuição acelerada na diversidade de herbívoros, vai resultar, segundo os pesquisadores, no encolhimento da variedade de carnívoros. Essa relação de queda ocorre em toda a cadeia alimentar como um “efeito dominó”.
Mas Pires lembra que, embora as mudanças climáticas sejam preocupantes, a destruição de habitat é um problema mais crítico e de curto prazo. Ele lembra que os recentes incêndios que acontecem no país, por exemplo, aceleram a expulsão dos animais dos locais onde vivem.
Cenário de destruição na Serra dos Cocais, em Valinhos, após incêndio
Bryan Gouveia/Arquivo pessoal
💥 Mudanças climáticas do passado
Segundo os pesquisadores, o registro paleontológico mostra que, há milhões de anos, a Península Ibérica era habitada por uma fauna diversificada e composta de grandes animais, alguns deles parentes dos atuais rinocerontes e elefantes.
“Tinha alguns felídeos parecidos com os leopardos atuais, bem como os Dentes de Sabre. Uma parte desse período tinha antílopes e animais próximos dos elefantes e rinocerontes”, diz Pires.
No entanto, a queda das temperaturas e da umidade provocou uma transformação na paisagem, onde florestas deram lugar a campos abertos. Essa mudança afetou diretamente a cadeia alimentar.
Por consequência, grandes herbívoros como os gonfotérios, parentes dos elefantes, se adaptaram bem ao novo ambiente e se tornaram mais abundantes. No entanto, animais de médio porte, como os cervos, por exemplo, tiveram dificuldades para sobreviver e foram extintos, diminuindo diretamente a fonte de alimento de predadores como felinos.
Os pesquisadores explicam que as mudanças climáticas nunca acontecem por uma causa única, e são comuns na história do planeta. Elas derivar desde alterações nas correntes marítimas até uma variação na posição da Terra em relação ao Sol.
“Elas estão acontecendo e algumas dessas mudanças favoreceram, por exemplo, áreas mais abertas em relação às florestas, como a que ocorreu na Península Ibérica”, conta Pires.
Gonfotérios, parentes dos elefantes, se adaptaram bem ao novo ambiente e se tornaram mais abundantes
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📕 Como o estudo foi realizado?
A pesquisa mostra de que forma as mudanças climáticas e a consequente alteração nos ecossistemas foram os principais responsáveis pela extinção em massa de grandes predadores na Península Ibérica há 20 milhões de anos.
Os fósseis do banco de dados foram comparados com modelos de ambientes do passado construídos em pesquisas anteriores. O cruzamento das informações permitiu entender como a redução da diversidade de presas levou a diminuição e extinção de grandes carnívoros.
“A gente trabalha mais com a análise dos dados que foram fornecidos pelos colaboradores europeus. Com auxílio da análise do ambiente elaboramos a análise das interações entre espécies e as consequências dessas interações”, conta Nascimento.
Fóssil de dentes de sabre
Reprodução/TV TEM
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