Mario Vitorino apresentou uma versão de que teria sido atacado pela vítima e agiu em legítima defesa, enquanto Marcelly Peretto afirmou que estava em outro cômodo e não presenciou a morte. Igor foi assassinado a facadas no apartamento da irmã em Praia Grande (SP). Cunhado e irmã, investigados por morte de comerciante após traição, participam de reconstituição do crime, em Praia Grande (SP)
Yasmin Braga/TV Tribuna e Redes Sociais
O cunhado e a irmã de Igor Peretto, assassinado a facadas após descobrir uma traição em Praia Grande (SP), participaram da reconstituição do crime. Mario Vitorino, cunhado da vítima, alegou que agiu em legítima defesa após ser atacado por Igor, enquanto a irmã Marcelly Peretto, que estava sob efeito de álcool e entorpecentes, afirmou que ficou em outro cômodo e não presenciou a morte.
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O crime ocorreu no apartamento de Marcelly, irmã de Igor, em 31 de agosto. Ela estava no imóvel com Igor e o marido Mario Vitorino, com quem ainda é casada no papel.
Rafaela Costa, viúva de Igor e amante de Mario, esteve no prédio com Marcelly, mas saiu poucos segundos antes da chegada da vítima, que estava acompanhada de Mario.
Rafaela e Marcelly se entregaram, prestaram depoimento e foram presas no dia 6 de setembro. Mario foi encontrado escondido na casa de um tio de Rafaela, em Torrinha (SP), em 15 de setembro, e também permanece preso temporariamente.
A reconstituição
A reconstituição do crime ocorreu nesta quarta-feira (25) no apartamento da Avenida Paris, no bairro Canto do Forte, com a presença de Mario e Marcelly, acompanhados dos advogados, Mario Badures e Leandro Weissmann, respectivamente. Os trabalhos foram acompanhados representantes do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) e autoridades policiais.
Em entrevista à TV Tribuna, afiliada da Globo, Weissmann afirmou que a reconstituição ajudou a comprovar a inocência de Marcelly, destacando que ela estava alcoolizada e sob efeito de entorpecentes. “Ela não tinha até como agir por conta de estar dopada”.
Marcelly chegando dentro de carro para participar de reconstituição do crime em Praia Grande (SP)
Yasmin Braga/TV Tribuna
Segundo o advogado, Marcelly passou a maior parte do tempo em um dos quartos e não presenciou a dinâmica exata do que ocorreu, apenas algumas partes. Weissmann ressaltou que não cabe a ela afirmar se Mario agiu em legítima defesa.
Ele confirmou que Igor se aproximou de Mario com um pedaço de vidro, algo que Marcelly testemunhou. O advogado também mencionou que Marcelly viu o marido discutindo com o irmão, mas foi para seu quarto trocar de roupa.
Mario e Marcelly foram ouvidos separadamente e puderam apresentar suas versões. “Tiveram algumas incongruências por parte da própria investigação, que terão que ser apuradas futuramente”, disse o advogado, que relembrou que o processo está sob segredo de justiça.
Mario diz que foi atacado
Mario deixando a DIG de Praia Grande (SP) após prestar depoimento na quarta-feira (25)
Thais Rozo/g1
O advogado criminalista Mario Badures, representante de Mario Vitorino, afirmou que seu cliente forneceu detalhes à polícia sobre o ocorrido durante a briga com Igor Peretto no apartamento. Segundo ele, Mario foi ferido e, ao se defender, utilizou uma faca.
O advogado confirmou que o interrogatório de Mario ocorreu na DIG momentos antes da reconstituição do crime, mas não pôde revelar informações sobre o depoimento devido ao segredo de justiça.
“Mario agiu na defesa da sua própria vida e, assim que cessou o ataque, ele disse estar sofrendo, ele encerrou com a agressão com a faca, gestos esses de defesa […]. A defesa técnica acredita cegamente, fielmente que a perícia vai elucidar tudo isso”, disse Badures.
E a viúva?
Os defensores da viúva, Marcelo Cruz, e da família da vítima, Felipe Pires de Campos, participaram da reconstituição do crime.
Cruz, advogado de Rafaela, esclareceu que a cliente não estava no local no momento do crime, o que levou o delegado a decidir que não era necessário sua presença na reconstituição.
O advogado também afirmou que não pediu a revogação da prisão temporária de Rafaela, pois acredita na inocência dela.
“Essa investigação ainda se encontra em curso. Então, enquanto ela continuar em curso, em regra, persistirá os motivos para a prisão temporária. Esse é o fundamento e razão pela qual a Rafaela ainda se encontra presa”, disse o advogado.
Família acompanha reconstituição
Vereador de São Vicente e irmão de Igor, Tiago Peretto, acompanhou reconstituição do crime do lado de fora do prédio
Yasmin Braga/TV Tribuna
O advogado da família de Igor, Felipe Pires de Campos, destacou que após a reconstituição será elaborado um relatório pericial que reunirá todas as versões. Segundo ele, o documento é fundamental “para o Ministério Público entender o que é verossímil e o que não é”.
Pires de Campos viu as declarações apresentadas por Marcelly e Mario como conflitantes. “Acredito que o relatório da reconstituição ajudará a esclarecer alguns detalhes adicionais”.
O advogado citou, ainda, que os irmãos de Igor, Tiago e Maurício, acompanharam o processo, mas não entraram no apartamento, enquanto a mãe da vítima estava muito abalada para comparecer.
Quem matou Igor?
Igor Peretto foi encontrado morto com 11 facadas no quarto do apartamento da irmã, em Praia Grande, SP
Laudo pericial e reprodução
A Polícia Civil ainda não informou quem matou Igor, encontrado morto no dia 31 de agosto. O que se sabe é que, dentro do apartamento onde ocorreu o crime, estiveram Igor, Marcelly Peretto (irmã de Igor), Mario Vitorino (marido de Marcelly), Rafaela Costa (esposa de Igor) – que deixou o local do crime 13 segundos antes da chegada da vítima e do amante.
De acordo com os depoimentos, Rafaela tinha um caso com Mario. Além disso, o advogado de Marcelly, Leandro Weissmann, disse que a cliente e Rafaela tiveram um envolvimento amoroso no local antes da chegada de Igor e Mario no apartamento.
Vazamento de dados
Mario Vitorino foi preso em Torrinha, no interior de SP
Mario Vitorino esteve na DIG de Praia Grande no dia 17 de setembro, mas não foi ouvido. No dia seguinte, ele retornou para depor, mas novamente saiu sem falar sobre o caso.
Mario Bardures, advogado de Mario, alegou que os dados vazados não constavam no inquérito policial, o que, segundo ele, prejudica tanto o exercício da defesa técnica quanto a própria investigação.
O advogado afirmou que, assim que os documentos estivessem devidamente registrados no inquérito, o cliente prestaria depoimento. “O próprio Ministério Público já pediu que novamente seja decretado sigilo e a defesa técnica de Mario Vitorino está requerendo expressamente um sigilo externo, ou seja, só as partes cadastradas terão acesso ao inquérito policial”, disse Badures, no dia 19 de setembro.
Nesta quarta-feira, o advogado afirmou ao g1 que, agora, já tem conhecimento sobre os autos da investigação. Dessa maneira, não enxerga problema no fato de o cliente depor à Polícia Civil.
“Ele está à disposição da polícia para esclarecer todos os detalhes em relação a isso, a partir do momento em que tivemos conhecimento do que está no inquérito policial”, afirmou. “É de interesse dele [Mario]”.
Legítima defesa
Para Badures, Mario agiu em legítima defesa. O advogado apresentou à imprensa imagens que mostram que, 16 dias após o caso, o cliente ainda tinha hematomas da luta corporal que teve com Igor. De acordo com ele, o rosto do cliente ficou inchado e a palma da mão foi atingida pelo espelho.
Advogado de cunhado de comerciante assassinado mostra imagens dos hematomas no corpo de Mario 16 dias após o crime
Reprodução
“Marcelly, que é a testemunha presencial, que estava no local dos fatos, fala que o Igor, na posse de um espelho, de um vidro quebrado, que era um espelho, foi na direção de Mario. Isso é a investigação que diz”, disse.
O advogado afirmou que existem testemunhas e moradores que relatam que houve pancadaria e gritos de socorro. “Existe um porteiro que interfona para o apartamento e a vítima Igor que atende o interfone e fala que está tudo bem”.
Advogado de cunhado de comerciante assassinado mostra imagens dos hematomas no corpo de Mario 16 dias após o crime
Reprodução
Laudo pericial
O laudo pericial, obtido pelo g1, detalha as lesões de Igor: sete facadas na região do peitoral, uma na testa, uma no lado direito do rosto, uma próxima à orelha direita e uma nas costas.
A PM foi acionada pela síndica do prédio após ela ter ouvido muito barulho e não ter conseguido contato com Marcelly, a dona do apartamento. No local, os policiais precisaram forçar a entrada no imóvel e se depararam com um cenário de violência, de luta corporal, com muito sangue e o corpo de Igor no quarto.
Manchas de sangue
Imagens fortes
g1
Marcas de sangue encontradas no apartamento de Marcelly Peretto, no dia da morte do irmão, Igor Peretto
Laudo pericial
Segundo o laudo, as manchas de sangue foram os principais vestígios encontrados pela perícia. Elas estavam no corredor do prédio e dentro do apartamento.
Do lado de fora do imóvel apresentavam-se como pingos. Eles estavam na escadaria entre o 4ª andar, onde mora Marcelly, e o 2º andar. De acordo com o documento, essas informações sugerem que o suspeito foi ferido, o que pode ajudar nas investigações por meio de exames de DNA.
No interior do apartamento, as manchas estavam espalhadas por vários cômodos, principalmente na sala, na cozinha, no corredor e na suíte, onde o cadáver foi encontrado. O laudo aponta que os sinais encontrados indicam uma luta intensa pelo imóvel.
Mario Vitorino abraça Marcelly Peretto (à esq.) após assassinato do irmão dela; faca usada no crime (à dir.)
Reprodução
A faca, considerada pela perícia como provável instrumento usado no crime, estava coberta de sangue e foi encontrada no chão do banheiro social. Ela tem 36 cm de comprimento total, 23 cm de lâmina pontiaguda e uma largura máxima de 5 cm.
Após a faca ser examinada para coleta de impressões digitais, o perito responsável concluiu que, pela natureza de suas características, ela era capaz de causar as lesões observadas no cadáver.
O documento revelou, ainda, que a ponta da lâmina estava ligeiramente entortada, o que sugere que a faca pode ter sido usada com força considerável durante o ataque.
Sinais de luta
A porta do guarda-roupa na suíte, onde o corpo foi encontrado, estava danificada e tombada. Tal situação pode sugerir uma briga intensa no local, de acordo com o perito.
Outro aspecto que chamou a atenção: os danos nos batentes das portas do banheiro e do quarto entre o banheiro e a suíte. Eles apontam, de acordo com o documento, para uma tentativa de arrombamentos. Entretanto, não foram encontrados fragmentos de madeira, o que pode dar a entender que os danos seriam anteriores.
Mario, o último preso
Vídeo mostra cunhado suspeito em assassinato de comerciante chegando à delegacia em Praia
Mario Vitorino chegou a Praia Grande (SP) no dia 17 de setembro após mais de duas semanas foragido. O repórter cinematográfico Fábio Pires, da TV Tribuna, afiliada da TV Globo, registrou o momento em que ele entrou na DIG (assista acima).
O cunhado e sócio de Igor foi preso no interior paulista. Ele estava escondido na casa de um tio de Rafaela, viúva de Igor e amante de Mario. Tanto Rafaela quanto a irmã da vítima, Marcelly Peretto, já haviam sido detidas.
Mario era procurado desde 31 de agosto, data em que Igor foi morto. Depois de ter sido preso pela PM, ele foi conduzido à Delegacia Seccional de Rio Claro (SP), onde passou por audiência de custódia e teve a prisão mantida pelo juiz.
A prisão só foi possível graças às informações que o irmão da vítima, o vereador Tiago Peretto, recebeu em forma de denúncia anônima sobre o paradeiro do cunhado. Embora o suspeito ainda seja casado com Marcelly, eles não estavam mais juntos, e sequer moravam no mesmo apartamento.
Mario Vitorino é conduzido à DIG de Praia Grande (SP)
Fábio Pires/TV Tribuna
Cronologia do crime
O que se sabe sobre a cronologia do crime até o momento:
04:32:38 – Marcelly e Rafaela chegam de carro ao prédio de Marcelly;
05:40:17 – Rafaela vai embora do apartamento de Marcelly;
05:42:27 – Rafaela deixa o local com o carro;
05:42:40 – Mario e Igor chegam ao prédio de Marcelly;
05:44:40 – Mario e Igor saem do elevador em direção ao apartamento de Marcelly;
06:04:31 – Mario e Marcelly saem do apartamento pelas escadas e acessam o subsolo, logo após o homicídio;
06:05:03 – Mario e Marcelly saem pela rampa do subsolo e vão em direção ao carro dele;
06:05:25 – Mario e Marcelly partem de carro em direção ao apartamento dele;
06:11:29 – Mario e Marcelly chegam ao prédio dele;
06:16:44 – Mario e Marcelly deixam o prédio dele e fogem;
08:48:00 (aproximadamente) – Mario e Marcelly se encontram com Rafaela em um posto na Rodovia Governador Carvalho Pinto, no km 124, em Caçapava (SP), onde a viúva abandonou o carro e embarcou no carro do amante, onde já estava a irmã da vítima;
09:47:42 – Mario, Marcelly e Rafaela chegam em Campos de Jordão (SP), onde a irmã da vítima teria entrado em um carro por aplicativo e retornado para Praia Grande;
12:28:00 – Mario e Rafaela se hospedam em um motel em Pindamonhangaba (SP), onde permanecem até 15h37. No mesmo dia, abandonam o carro dele no Centro da cidade.
Mario, Marcelly e Rafaela, investigados pelo homicídio contra o comerciante Igor Peretto
Reprodução e Redes sociais
O g1 teve acesso às últimas imagens do comerciante com vida. Os vídeos mostram os três suspeitos e a vítima chegando ao apartamento onde ocorreu o crime. Primeiro, chegam Marcelly e Rafaela, mas a viúva deixa o apartamento antes de Mario aparecer com Igor (assista o vídeo acima).
Nas imagens, obtidas pelo g1, é possível ver Rafaela e Marcelly chegando de carro e subindo de elevador até o apartamento da irmã da vítima, por volta das 4h30. A esposa de Igor deixou o local sozinha, cerca de dez minutos depois, antes da chegada dos homens.
Vídeos mostram momentos antes e depois do assassinato de comerciante que descobriu traição
Igor e Mario também foram filmados chegando de carro ao prédio, às 5h42. A dupla subiu de elevador aproximadamente dois minutos depois. Na ocasião, o comerciante parecia questionar o cunhado antes de acessar o imóvel da irmã. Este é o último registro dele, feito pelas câmeras de monitoramento.
Mario e Marcelly são casados no papel, mas já não estavam mais juntos. O crime aconteceu no imóvel dela, onde foram filmados saindo às 6h04. O casal desceu pelas escadas, foi até o subsolo e deixou o prédio a pé pela garagem.
Câmeras filmaram Igor Peretto (à dir.) chegando ao apartamento junto com Mario Vicentino (à esq.)
Reprodução/TV Tribuna
De lá, os dois foram de carro para o apartamento de Mário, que fica a poucos quilômetros de distância do local do assassinato. Eles chegam ao prédio às 6h11, ficaram aproximadamente cinco minutos e saíram segurando bolsas e outros objetos.
A Polícia Militar foi acionada pela síndica. Com a ajuda de um chaveiro, solicitado por ela, a porta foi aberta e os agentes notaram sinais de sangue no corredor. Eles encontraram o corpo de Igor caído em um quarto, próximo da janela.
Casais estavam dentro do apartamento onde Igor Peretto foi encontrado morto em Praia Grande (SP)
Yasmin Braga/g1 e Reprodução/Redes Sociais
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