Após enfrentar violência doméstica e racismo, gestora muda vida com faculdade de filosofia aos 49 anos


No Dia Internacional da Mulher, conheça a história de Cleusa Sueli Bueno da Silva, de 63 anos, moradora de Araraquara (SP). Cleusa da Silva ressignificou a sua vida ao encontrar na filosofia amparo para questões do cotidiano
Arquivo pessoal
Ela enfrentou falta de apoio, violência doméstica, racismo e problemas familiares até chegar à faculdade em 2010, quase aos 50 anos.
No Dia Internacional da Mulher, comemorado neste sábado (8), o g1 traz a história gestora de projetos de Araraquara(SP) Cleusa Sueli Bueno da Silva, de 63 anos, rumo à qualificação e transformação pessoal pelos estudos.
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“Recomendo que todas as mulheres busquem seus sonhos e estudem, pois a idade é apenas um detalhe. A expectativa de vida aumentou, e o conhecimento é fundamental para a transformação pessoal. A época de estudo foram os meus melhores anos. A fase que fui mais feliz na minha vida foi quando estava dentro dos muros da universidade”, disse Cleusa.
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Filosofia de vida
A gestora decidiu prestar vestibular aos 49 anos e passou em Filosofia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em São Paulo. Ela contou que o curso a ajudou a encontrar mais sentido para as incompreensões da vida.
“Sempre me incomodaram as questões da vida, as dificuldades do dia a dia, as questões econômicas e sociais, e o racismo, que eu sentia fortemente. Buscava caminhos para entender por que essas coisas aconteciam e como eu poderia superar essas situações. Percebi que era aquilo que eu precisava entender e saber”, contou.
Veterana corajosa
A diferença de idade não foi obstáculo no curso e ela contou que se deu muito bem com galera. Até hoje Cleusa mantém contato com a “turma da graduação infinita”. A colação de grau foi em 2016.
“No primeiro dia de aula, no campus cheio de jovens, senti-me deslocada, pois estava há mais de 30 anos longe da escola. A recepção dos calouros, com pinturas e cortes de cabelo, não era a minha vibe. Na sala de aula, temi um choque geracional, pois a maioria dos alunos tinha 17 ou 18. Eu era a pessoa mais velha do curso. Surpreendentemente, não houve preconceito, e a interação foi fantástica. Criamos laços de amizade que duram até hoje”, comentou.
Ativista política, ela participou de congressos, seminários, simpósios e teve contato com intelectuais de universidades e de vários países.
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A gestora de projetos Cleusa Sueli Bueno da Silva ressignificou a vida com faculdade de filosofia
Arquivo pessoal
Sede de sobrevivência e de conhecimento
Mãe de três mulheres 40+, as filhas concluíram o ensino médio e optaram por ingressar no mercado de trabalho, não seguindo para o ensino superior.
Cleusa só não continuou nos estudos com o mestrado devido a problemas familiares. Ela já havia iniciado a iniciação científica na Universidade de São Paulo (USP) quando teve que ajudar uma filha adicta e voltou pra Araraquara para cuidar dos netos.
Como muitas de mulheres brasileiras, ela passou por situações difíceis como a violência doméstica ao longo de sua vida, abandono de companheiro e precisou se concentrar na sobrevivência da família.
“Passei por muita violência doméstica durante a minha vida, enfrentei traição e abandono de companheiro. Esse não foi só o problema, tive uma filha dependente química e foi uma luta muito grande. Minha vida sempre foi marcada por dificuldades, mas teve coisas boas também, claro”, contou.
Para ela, cursar filosofia foi uma experiência enriquecedora e que a fortaleceu para diversos momentos rumo ao seu encontro pessoal, de libertação e realização.
“Com a filosofia passei a entender mais o funcionamento do mundo, das relações sociais e econômicas e a ter mais respostas para dificuldades da vida prática. Minha única frustração é não ter iniciado a vida acadêmica mais cedo, pois gostaria de ter seguido carreira na área, participando de encontros, debates e pesquisas. Se eu tivesse começado aos 17 anos, talvez hoje eu fosse uma Sueli Carneiro ou uma Djamila Ribeiro”, concluiu.
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